Ensaio sobre o Budismo

Nasci católico, mas nem tudo é perfeito! Já o Budismo, não, não o sigo como religião. Prefiro como orientação filosófica. Porque caí melhor em determinados momentos. Sei que religião e política geram conflitos, tira o homem de seu núcleo e o faz cair na tentação de agredir, caso seja contrariado, por isso minha proposta é mais psicológica afinal. Em épocas de modismo televisivo, o Budismo virou hit da estação pelas mãos de artistas famosos e pessoas comuns que resolveram experimentar seus preceitos em busca de uma adequação com o zum-zum-zum do momento. Tudo bobagem, mas, para saber isso é preciso vivenciar. Apostei e verifiquei empiricamente sua proposta. Estou no Budismo há quase dez anos.

Não quero desenvolver este ensaio definindo o que vem a ser Budismo, que nada mais é do que o ser humano olhar pra si de outro ângulo. O interno. Não dói se autoavaliar, nem faz sangrar pensar sobre nossos sentimentos em conflitos com nós mesmos ou com os sentimentos alheios. Tudo corresponde a um único ciclo feito por nós. E isso é um entendimento precioso ‘budisticamente’ falando. O que eu desejo pra você volta pra mim.

A primeira vez que tive contato com o B. estava sob a pressão do final da adolescência. Sabe aquela fase chata entre ser adulto e adolescente. Aquele período onde as coisas não correspondem muito ao que queremos. Tudo pra agora porque amanhã pode não sobrar nada? Daí em parceria com uma grande amiga minha, Kika, passamos a pesquisar o Budismo do olho clínico de um leigo cheio de vontade. Descobrimos coisas surpreendentes que traçavam um paralelo com nossas vidas naquele momento. Não foi amor a primeira vista. Foi algo galgado com o tempo, que é fundamental para se assimilar as idéias.

Compramos dois livros. Kika foi no “O Despertar do Buda Interior” de Surya Das. Eu resolvi ler “A Arte da Felicidade” do Dalai Lama. Íamos destrinchando cada silaba com a certeza de que ali encontraríamos respostas. Nós e essa tola necessidade de encontrar chifre em cabeça de boi, como falam popularmente. Ninguém encontra respostas se não pensar sobre a situação. E continuamos nossos estudos. Kika riscando cada frase, direcionamento. Eu, lendo compulsivamente cada capítulo. Estudávamos e durante o trabalho discutíamos os escritos. Concluíamos coisas engraçadíssimas sobre o Budismo e fomos embutindo em nossas vidas suas raízes, suas direções.

Sei que aos poucos, nos acostumamos a engolir todo tipo de cretinice, seja religiosa, cultural, etc. Ser, humano, é coisa de louco. Às vezes preferiria ser uma pedra, porque nada mais me restaria a não ser pedra. Mas ali, no nosso Budismo, conseguíamos um distanciamento do plano inicial de nossos familiares e por nossa própria conta e risco percorríamos o que achávamos perfeito. Não sei pra kika, que hoje mora em Portugal, mas encontrar o Budismo significou que eu podia seguir algo meu, sendo unicamente minha opção. Quando minha amiga foi embora trocamos os livros. Até hoje tenho o seu rabiscado, totalmente, é um fragmento dela que trago comigo. Ela levou o meu provavelmente sabendo que minha nova alma, aquela que busquei construir, estava ali em suas mãos.

O Budismo, como o compreendo, se encontra no centro de minha mente, aparando minhas ações em prol do mundo melhor. Meu próprio mundo. Porém não se engane em pensar que assim sou egoísta, porque o lance não é esse. Trata-se de me permitir ser o melhor pra mim dentro do ponto de vista pessoal, atingindo picos de benevolência com o outro. O Budismo me deixou mais paciente com as pessoas, muito embora ainda continue enchendo o saco com certas coisas banais. O cotidiano pode matar de tédio ou de adrenalina. Hoje consigo me conter e ao invés de falar e mal dizer algumas barbaridades, prefiro esperar alguns segundo a poeira baixar. Acho que o Budismo (dentro de todas as suas variantes) dar ao seu seguidor o parâmetro perfeito para que se crie uma própria religião, íntima e pessoal. Cada um é detentor de sua própria força e assim consequentemente de seu desenvolvimento.

Sei que pode parecer que estou querendo catequizar leitores para a próxima livraria ou ainda frisar que o Budismo é a única fonte de sabedoria que existe. Mas isso não “procede”. Pelo menos não tenha essa intenção. Aprendi que o respeito ao outro, em suas fraquezas e mazelas, me cabe perfeitamente quando estou também em momentos de distração porque aí também sou fraco e possuo mazelas em mim. O Budismo, que desenvolvi, não obriga aceitações, nem regras estabelecidas, muito menos me maltrata porque coloco os pontos nos is. Me dá segurança para falar sobre o que entendo, me silenciar quando preciso e a agir quando reconheço que existe motivação para tal.

Por isso escolhi ser budista por estudo filosófico. Não dependo de ninguém para me dizer o quão bom posso ser ou o tanto de maldade existente em mim. Sei que pra o antídoto é preciso ter também o veneno. Sei que carrego dois lados e na necessidade de equilibrá-los vou conseguindo sobreviver, o que é difícil pra caramba.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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