Anailza Guimarães Costa
E-mail: anailza@getempo.org
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/ UFS)
Orientador: Dr. Dilton Cândido Santos Maynard (UFS/ DHI/PPGED)
Nos dois últimos anos no Brasil, temos lido comentários intolerantes e grosserias escritas cada vez mais frequentes na internet. Essas provêm por conta de diferenças políticas, ideológicas, de cor, sexo e religião. Na verdade, as redes sociais viraram uma espécie de faroeste virtual, uma terra sem lei onde usuários armados de ideologias conflitantes disparam ofensas uns aos outros. Muitos podem justificar isso como a liberdade de opinião, liberdade democrática. Porém, o problema é quando o seu discurso extrapola os limites da convivência humana, dando origem a agressões pessoais e crimes cibernéticos. Há uma confusão entre o debate que a democracia pressupõe como justificativa para o disparo dos discursos de ódio. Sendo mais realistas, temos poucos debates de ideias e muitos tiros virtuais.
São vários os exemplos, como os constantes ataques aos nordestinos, as agressões racistas sofridas por artistas nas redes, os ataques verbais sofridos pelo cantor Chico Buarque de Holanda ao sair de um restaurante no Rio de Janeiro por conta de seus posicionamentos políticos e, um dos piores casos (se é que podemos dizer o que é pior nisso tudo), as ameaças sofridas pelo apresentador Jô Soares após entrevistar a presidente Dilma Rousseff em seu programa de televisão. Esses são apenas alguns casos dentre outros que poderíamos ficar só citando aqui.Obviamente, não queremos dizer com isso que o discurso de ódio surgiu agora, já existia muito antes da criação das redes sociais. O problema é que atrás de um computador, as pessoas estão criando coragem e se acham no direito de atacar aquele que não concorda com sua ideia, que seja de outra nacionalidade, religião, sexo ou cor. O anonimato contribui ainda mais para esses crimes covardes. Vale lembrar aqui do caso mais recente com o Whatsapp em que a empresa se negou a revelar dados de pessoas envolvidas em crimes de pedofilia. Assim, este anonimato, as dificuldades de investigação, a praticidade e rapidez de circulação só contribuem para a propagação de crimes de intolerância.
Como consequências disso, ideais extremistas têm chegado até a política e recebido cada vez mais apoio. Na França, por exemplo, há pouco tempo após os atentados terroristas em novembro à Paris, o partido extremista Frente Nacional saiu na frente durante as eleições no 1° turno. No Brasil, pessoas vão às ruas pedir intervenção militar, políticos conservadores ganham mais apoio. É aí onde se encontra o perigo.
Falta mais filtro, mais atenção àquilo que compartilhamos e lemos como verdades absolutas. Faltam discussões saudáveis sobre política. Discordar é normal, o diferente é normal. Afinal, que bom que vivemos numa democracia e podemos participar, nos expressar e ter ideais diferentes do outro. O que não podemos fazer é estigmatizar isso de ou você pensa como eu ou vira meu inimigo. Precisamos repensar o papel social das redes. Caso contrário, a internet, que cresceu e se desenvolveu como uma poderosa ferramenta democrática corre o risco de alimentar o ódio, a intolerância e o autoritarismo.
Sem dúvida nenhuma, temos uma ferramenta maravilhosa, que deu oportunidade, espaço para todos discutirem, se informarem e expressarem sua opinião independente de cor, credo ou classe social. Entretanto, o dilema esta naquilo que compartilhamos, lemos, transmitimos e em como usamos as informações. Vivemos numa era de especialista “facebookianos”, onde parece que quase que obrigatoriamente você precisa opinar sobre tudo que esta acontecendo. É fácil dá um clique em compartilhar só lendo o título, é fácil ler o comentário do “amigo” dá uma “curtida” e propagar suas ideais do que pensar fontes e artigos confiáveis. Por mais paradoxal que pareça, vivemos na era da informação e desinformação ao mesmo tempo. Temos muita notícia sem nenhum filtro e muita gente absorvendo-as sem o menor critério. Estamos necessitando urgentemente de uma Educação virtual e esta passa pela revisão de cada um sobre os seus cliques, compartilhamentos e curtidas.