OUTRAS DÉCADAS, OUTRAS IMAGENS

Os Cartões Postais da Livraria Regina são primorosos e atualizam a coleção de fotos de Fabian, Guilherme Rogato e Leone Ossogini, ainda que permaneçam de autoria desconhecida. Nos anos de 1920 o Almanaque de Sergipe, dirigido por Clodomir Silva, impresso na Casa Editora Gráfica Gutemberg, estabelecida à rua de Santo Amaro, 31, fez publicar fotos de políticos, empresários, introduzindo fotografias de fatos destacados da vida sergipana, como o julgamento dos revolucionários de 1924, a greve dos ferroviários, em 1927, além de fotos de um tipo primitivo de crônica social, e de um mostruário fotográfico sobre Aracaju Moderno e Jardins de Aracaju. Veiga Cabral, autor do Compêndio de Corografia do Brasil, que teve entre 1917 e 1941 26 edições, imprimiu nas edições da década de 1930, várias fotos da capital sergipana, algumas delas originais e ainda hoje diversas das que se tornaram mais conhecidas. Também na década de 1930 Armando Barreto, no seu Cadastro de Sergipe, utilizou largamente a fotografia, cobrindo Aracaju e os municípios sergipanos, documentando aspectos de Sergipe, gente de destaque no interior, e repetindo, muito a propósito, os políticos, administradores, religiosos, que formavam a classe dominante de então. Nos anos de 1940 a fotografia estava consolidada como linguagem e funcionavam, em 1941, por exemplo, em Aracaju 4 empresas comerciais dedicadas a fotos e a material fotográficos. Eram elas: Casa Amador, de Alves & Costa, estabelecida na rua de João Pessoa, 50; Francisco Barreto Filho, também da rua de João Pessoa, 286; Leopoldo C. Barreto, rua de João Pessoa, 78 e Foto Brasil, de Marques Pereira, com atelier na rua de João Pessoa, 81. A Casa Amador, por exemplo, sobreviveu com seu atelier até os anos 1970 e andou por algumas ruas da cidade, como a rua de Itabaianinha, no trecho entre São Cristovão e Geru, fechando as suas portas quando funcionava na praça Olímpio Campos, entre as ruas de Capela e Santo Amaro. O comércio de material fotográfico – máquinas, filtros, filmes, papel de revelação, revelador, fixador e outros produtos – ampliou-se na junção com óticas, projetando grandes casas, com larga participação no registro da cidade, como a Ótica Santana, a Ótica Boa Vista, o Foto Som, que resistiram ao lado dos estúdios dos fotógrafos que trabalhavam por conta própria, ou ocupavam funções públicas. Walmir Almeida foi, sem dúvida, o nome mais importante da fotografia instantânea e documental de Sergipe. E foi o fotógrafo oficial do Palácio do Governo, acompanhando o dia a dia dos governantes, tanto na capital como no interior, o que garantiu uma produção imensa de fotos que, num dia qualquer de sua vida, reagindo a indiferença das autoridades, queimou, juntamente com os negativos. Sergipe perdeu parte de sua memória, de festas, procissões, inaugurações, figuras que circulavam no ambiente político e administrativo do Estado. Como era piloto, Walmir Almeida também fez registros aéreos, que também se perderam ardendo na fogueira da revolta pessoal. Walmir Almeida foi cinegrafista e realizava, com freqüência razoável, filmes com noticiários do Estado, narrados por Cid Moreira, que eram exibidos nos cinemas de Aracaju. Parte da filmografia de Walmir Almeida também se perdeu, alguns filmes foram o antigo Cine Clube, sob a responsabilidade do crítico Djaldino Mota Moreno, e outros foram recuperados, por iniciativa, dentre outros, de Pascoal Maynard. O Cine Jornal da tela, de Walmir Almeida, representa um capítulo especial da imagem de Aracaju e de Sergipe, desconhecido das novas gerações, embora o fotógrafo e cinegrafista esteja, todos os dias, na sua loja da praça Olímpio Campos, no trecho entre as ruas de Santo Amaro e Itabaianinha. Valdomiro, ou simplesmente Canto do Rio, como era conhecido, também teve boa participação como fotógrafo do Palácio Olímpio Campos. Pena que o Palácio não disponha de um arquivo, não tenha colecionado e nem guardado o rico acervo que dispunha. O que se tem, por esforço de algumas pessoas, é muito pouco. Pouca coisa restou de Artur, da Casa Amador, e de outros grandes fotógrafos que viveram, o apogeu da fotografia. Pouco restou, também, da arte de Celso Oliva, Humberto Aragão, Paulo Costa, Hugo Ferreira, João Bosco de Andrade Lima, que criaram, em 1950, a Sociedade Sergipana de Fotografias, que passaria logo depois a contar com Lélio Fortes e outros entusiastas da arte fotográfica. Lineu Lins, o mais refinado dos fotógrafos que vêem da década de 1950, e que fazem a travessia para os recursos eletrônicos de hoje, guarda, felizmente, numeradamente, as suas fotos, ou melhor, a sua história como um dos mais permanentes artistas da fotografia em Sergipe. Seu estúdio revolucionou, à época, a relação entre quem fotografava e quem era fotografado, incorporando luz, cenário, modos novos de revelação e dimensão das fotos, abrindo caminho para novos estúdios, como o de Osmar, que começou com ele, dentre tantos que existem hoje em Aracaju. Há um grande número de fotógrafos, na capital e no interior, como Luiz Carlos Barreto, De Assis, José Fotógrafo, da Gazeta de Sergipe, que também era clicherista, Freire, Luiz Carlos Lopes Moreira, um dos maiores especialistas em foto – reportagem, Cícero, dentre muitos e muitos outros que parecem seguir a escola, no curso da ocupação natural dos espaços dos que morrem ou dos que deixam a profissão. Ao lado dos nomes consagrados dos profissionais da fotografia, sobreviveram fotógrafos rústicos, do chamado “Foto Oiti”, espalhados com suas grandes caixas onde batiam e revelavam as fotos 3×4, para documentos, na praça General Valadão, depois na avenida Coelho e Campos, nas proximidades dos Mercados. No interior, nas feiras e nas festas, os fotógrafos sobreviviam e em alguns municípios, como Lagarto, Boquim, Itabaiana, Estancia, alguns desses artistas fizeram nome, e guardaram imagens da vida cotidiana dessas e doutras cidades. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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