NOTAS SOBRE O CARNAVAL

Serafim José de São Tiago, no seu manuscrito Anuário Cristovense afirma que o carnaval começou em São Cristóvão em 1912. É uma data a ser considerada, porque são escassos os registros na imprensa ou nas demais fontes históricas, a propósito do carnaval em Sergipe. carnaval já com o sentido moderno, de blocos, ranchos, troças, sociedades. Porque antes, não apenas em São Cristóvão, o que marcava o domingo da quinquagésima, ou domingo gordo, em fevereiro, era o Entrudo, forma antiga do carnaval, que esteve associado às festas da Epifania, realizadas no dia 6 de janeiro. Dessa ligaçào antiga, entre o Entrudo e a Epifania, Japaratuba tem, ainda hoje, o melhor exemplo, porque guarda na memória social das ruas os velhos cortejos de Maracatus e a Cabacinha, também conhecida como Limão de Cheiro, um dos mais antigos símbolos do primitivo carnaval brasileiro. O Entrudo, como forma antiga do carnaval da atualidade, tem uma origem remota, medieval, que tem sido reverenciada por diversos autores, que defendem que a festa deriva das antiquíssimas Festas dos Loucos, sobre as quais escreveu Du Tillot, em 1751, chamando a atenção para os folguedos e companhias de Momo, Desde 1494, no entanto, através de um poema publicado em língua vulgar, na Basiléia, por Sebastião Brant – a Nave dos Loucos – que a festa tem merecido estudos e complementos, muitos dos quais conectando a sua evolução ao carnaval. O doutor em Teologia Jean-Baptiste Thiers, cura de Champord, publicou um Tratado de Jogos e Divertimentos que podem ser permitidos ou que devem ser proibidos aos cristãos de acordo com as regras da Igreja e a opinião dos Padres, possivelmente em 1686, muito embor a edição frequentemente citada seja de 1821. Nele diversas manifestações públicas, algumas até realizadas no interior das catedrais, são descritas, servindo de registro confiável dos divertimentos que, com o tempo, sofreram modificações, do mesmo modo como evoluiram, antes, do seu estado primitivo e “pagão” para constituirem um calendário de festas. “O Príncipe deve oferecer ao povo festas e jogos em determinados momentos do ano”, recomendava Nicolau Maquiavel, na sua obra consagrada – O Príncipe – como a sintetizar, com precisão de um cientista político, os comportamentos medievais, noa quais floresceram as Festas de Loucos, os Cortejos de Loucos, os partidos vermelhos e verdes, estes mais tarde mudados para azuis, enfim o Carnaval. Há, então, entre o Panis et Circenses romano e a recomendação ao príncipe, um tempo de exibição pública de variada roupagem, pendulando entre o sacro e o profano, entre o promovido e o censurado, o satírico e o louvatório. O Entrudo guardou, no Brasil, a idéia de ser um jogo, tal qual nasceu. No Rio de Janeiro, por exemplo, assim o Fiscal da Freguesia da Candelária, em 1853 se referia à festa: “Fica proibido o jogo do Entrudo; qualquer pessoa que jogar incorrerá em pena de quatro a doze mil reais; e não tendo como satisfazer, sofrerá de dois a oito dias de prisão. Sendo escravo sofrerá oito dias de cadeia, caso o seu senhor não o mandar castigar no calabouço com cem açoites.” Na mesma Portaria o Fiscal ameaça inutilizar as “laranjas de entrudo” encontradas pelas ruas e estradas. Em Sergipe as tais “laranjas de entrudo” eram chamadas de Limões de Cheiro, vendidas no comércio, antecedendo ao uso da lança-perfume. Em Japaratuba recebem a denominação de Cabacinhas, porque ultimamente as suas formas são assemelhadas a de uma pequena cabaça. O Entrudo teve largo uso em Sergipe. Um dos Presidentes da Província costumava convidar os seus amigos para o Palácio Provincial, em São Cristóvão, surpreendendo-os com um banho de cheiro, uma grande bacia de água perfumada. Também eram formados os partidos, ou blocos, que disputavam na cidade a preferência do povo. Invariavelmente, o final da festa era marcado pelas rivalidades mais brutais entre os partidários, não sendo raro o registro de mortes na velha capital. Os partidos sobreviveram em várias partes do Estado, nos Micaremes, mantendo o povo dividido pela preferência que a festa impunha. Em Maroim os blocos Chic e Paladino, ou ainda Santa Cruz, fizeram a festa carnavalesca, após a quaresma, por muitos e muitos anos. A festa mudou, mas o nome – Entrudo – permaneceu guardado, como topônimo na região mais velha de Japaratuba, de onde saiu Carmópolis. E muitos resquícios continuam sobrevivendo, como a própria Cabacinha, associada, ainda, a Epifania de 6 de janeiro. Aracaju também teve seu carnaval de blocos, sob o patrocínio de clubes como o Recreio Club, fundado em 1916, ou como o Papai Sacode, formado no início da década de 1930, pelos operários da Fábrica Sergipe Industrial, criadores do adereço que hoje leva o nome de Mamãe Sacode, e que é muito utilizado nas prévias carnavalescas, ou, ainda, como os que participaram do Micareme do Centenário, realizado em 23 de março de 1955, nos salões da Associação Atlética de Sergipe. Os clubes, com seus grandes salões, tomaram o lugar dos blocos e ofereceram bailes momescos aos seus associados ou convidados. A Associação Atlética de Sergipe, o Iate Clube de Aracaju, a partir de 1953, o Vasco, o SEMAS, o Clube dos Comerciários, o Cotinguiba, e até o auditório da Rádio Difusora promoviam bailes, com orquestras e conjuntos, alguns afamados como a orquestra de frevo do maestro pernambucano Nelson Ferreira. E quem não entrava nos clubes, ou vivia no interior, brincava ao som das músicas de Capiba, na voz de Claudionor Germano. Isto tudo acabou. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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