A EPOPÉIA DOS 200 ANOS DA IMPRENSA (notas complementares)

No contexto da história da imprensa sergipana, os jornais evoluíram em sua periodicidade de modo a circularem diariamente, exceto as segundas-feiras. Isto, no entanto, não garantiu que os diários, que antes eram vespertinos e hoje madrugam, tivessem a hegemonia do público. Ao lado deles, alguns jornais marcaram época e se converteram em veículos em tudo diferenciados, cada um com seu papel, sedimentando uma contribuição variada, que nem sempre é lembrada. Durante o século XIX algumas publicações, como as Poliantéias, geralmente de panegírico, circulavam e encerravam naquela edição a sua função. No século XX rarearam tais publicações editadas em torno de figuras de políticos, ou de intelectuais, e apareceram os jornais semanais e quinzenais, que fizeram nome.

Quando Armindo Guaraná levantou a imprensa sergipana, de 1832 a 1908, relacionou jornais em Aracaju, São Cristóvão, Estância e Laranjeiras, que representavam a grande maioria. Nas demais cidades sergipanas, somadas, a quantidade de jornais era reduzida, na comparação com as quatro citadas. A relação de 1920, de Clodomir Silva, dá ligeiros sinais de progresso interiorana, do que a edição de jornais é um excelente atestado. São poucos, é claro, mas são folhas importantes para a história e a cultura sergipana.

Começando por Estância, que foi o berço da imprensa em Sergipe, tem-se alguns jornais, de circulação periódica (não diária), que são meios incomparáveis, como A Razão, em suas várias fases, desde Gumercindo Bessa a João Nascimento Filho, tratando de temas políticos e filosóficos, entrando em polêmicas, ou dedicados à vida literária do Estado, como na década de 1930, quando era impresso pela tipografia da Papelaria Modelo, e registrava a presença estimulante na cidade, e a contribuição de Jorge Amado, o grande romancista baiano, filho de família sergipana arribada para o sul da Bahia. Seria em Estância, anos depois, que apareceria a Folha Trabalhista, que vinculava, de forma definitiva, a figura de Francisco de Araújo Macedo ao movimento políticos dos trabalhadores, através da sigla do PTB – Partido Trabalhista Brasileiro. Macedo publicou a revista 13 de Julho e o jornal O Nordeste, em Aracaju, mas a Folha Trabalhista permaneceu com sua presença ideológica na Estância, contando com os escritos e a orientação de Pascoal Nabuco, Leopoldo Souza, e com a colaboração de Carlos Tadeu, dentre outros.

Em Simão Dias, que antes não tinha jornais, viu surgir e circular, na década de 1920, um periódico dedicado ao cinema, editado por Arivaldo Prata, irmão do escritor e médico Ranulfo Prata, o consagrado autor de Navios Iluminados. Cinema era a grande novidade da comunicação, que ganhou fóruns de arte, e atraia milhares de pessoas às salas de exibição, em todo o mundo. De repente, os temas dos filmes, os atores, atrizes, diretores passaram a ser próximos, quase da intimidade do público expectador.

A experiência de um jornal dedicado, com exclusividade ao cinema, foi única, ainda que praticamente todos os jornais de Aracaju abrissem espaço para colunas cinematográficas, revelando críticos como Alberto Carvalho, Bonifácio Fortes, Ivan Valença, José Carlos Monteiro, João Simões Filho, Djaldino Mota Moreno, dentre outros.

Foi em Simão Dias, também, que foi editado A Semana, redigido e dirigido pelo intelectual e político José de Carvalho Deda, o conhecido Zeca Deda, que fazia, ainda, a ilustração semanal do jornal, em xilogravura esculpida de canivete, revelando uma arte que reunia o objeto e ao mesmo tempo a figura ou a cena a ser tratada, politicamente. Carvalho Deda participou da redação do Correio de Aracaju e levou ao ar, pelas ondas da Rádio Liberdade, o programa Problemas em Debate, ao lado de Seixas Dória.

Em Propriá, a Diocese manteve, por muitos anos, o jornal A Defesa, que durante o período de Dom José Brandão de Castro como Bispo, amplificava e tornava ideológico o debate sobre questões relevantes do baixo rio São Francisco, com a posse de terra, a influência dos chefes políticos e gestores municipais, e massificação da subalternidade. As questões dos trabalhadores na rizicultura, e dos remanescentes dos índios Xocó foram assuntos de primeira grandeza do pequeno mensário. O Serrano, de Itabaiana, editado como porta voz de um grupo que pretendia mudar a política itabaianense, marcou época. Era incisivo naquilo que defendia, tinha coragem de abrir luta contra adversários poderosos, e estimulava o surgimento de um grupo de jovens entusiasmado com o jornalismo, dos quais alguns continuaram, antes de seguirem carreira universitária e profissional.

O nome de Wladimir Souza Carvalho, hoje desembargador federal, no Recife, Pernambuco, com sua obra de historiador e de ficcionista, representa a iniciativa, bem sucedida, de jornalismo engajado. Um jornal, mensal, que merece registro é Syilo, que há 15 anos é editado para a sociedade de Tobias Barreto e que tem, na figura de Alberto Falk (José Alberto Oliveira Rodrigues) o seu administrador e animador.

Em Aracaju, por fim, circula há muitos anos a Folha da Praia, alternativo mensal que tem sido uma escola de um tipo aberto e bem humorado de jornalismo, revelando muitos nomes dos mais ilustres da imprensa sergipana, a começar pelo poeta Amaral Cavalcanti, seguindo-se Luciano Correia, Cauê, Antonio Passos, Sales Neto, dentre muitíssimos outros, além de manter colunas espirituosas e entrevistas antológicas, que em nada perdem para o Pasquim, do Rio de Janeiro, nos tempos áureos da luta contra a ditadura.

A Folha da Praia, além de criar um estilo próprio de jornalismo, inovou em matéria de distribuição, fora do circuito de vendas, distribuído nos escaninhos dos condomínios e noutros lugares fora dos modos convencionais. Outro pequeno jornal – O Que – redigido por Luiz Eduardo Costa e Clara Angélica Porto, viveu a glória de ser lido e influir na formação de uma opinião pública consciente. Evidentemente que existem outros jornais, como fontes inesgotáveis de registros

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