O símbolo do poder e o seu fotógrafo

Palácio Olímpio Campos 
Na aventura de construir uma cidade nos alagados do Aracaju, o Presidente da Província Inácio Barbosa (1853-1855) fez de um sítio, onde hoje está o prédio da Assembléia Legislativa, o primeiro Palácio do Governo provincial, onde reuniu os deputados para as providências legais da mudança da capital. Meses depois foi construído o Palácio Provisório, que hospedava os presidentes da Província e, em janeiro de 1860, foi adaptado e melhorado para ser o Paço Imperial, durante a visita de Pedro II a Aracaju e a Sergipe. Com a visita do Imperador surgiu, então, a idéia da construção de um Palácio novo, na mesma praça onde o Poder centralizou-se. Recursos federais, diversas reformas e ampliações, decoração externa e interna, pinturas italianas marcaram a história do símbolo do Poder, denominado de Palácio Olímpio Campos.

Das várias reformas executadas para melhorar o aspecto e a funcionalidade da sede do Poder Executivo, ficaram anotadas as do Presidente Guilherme de Campos (1905-1908), que contou com o artista sergipano Quintino Marques, a do Presidente Pereira Lobo (1918-1922), feita para celebrar o Centenário da Emancipação Política e que contou com artistas e técnicos italianos, a do Governador Leandro Maciel (1955-1959), incorporando os painéis do pintor sergipano Jordão de Oliveira, sobre os ciclos econômicos do Estado, a do Governador Antonio Carlos Valadares, que fez acréscimos e incorporou pinturas novas do artista paulista Eurico Luiz, e, por último, a do Governador Marcelo Deda, reforma ampla e com ela a redefinição do uso do velho Palácio, como um Museu, um Centro Cultural, um Monumento republicano.

Walmir Almeida
A disposição do Governador Marcelo Deda e do Secretário de Estado – Chefe da Casa Civil José de Oliveira Júnior foi exemplar e está destinada a ser incluída no rol das maiores reformas de um monumento público já realizadas em Sergipe. A decisão do Governador e o esforço do Secretário dão a Aracaju, nos 155 anos da capital e a Sergipe, nos 190 anos da Emancipação, um patrimônio físico, arquitetônico, histórico, artístico e agora cultural, como antes nunca houve. Um livro, especialmente preparado, coroará, no correr do ano, o evento da reforma e da reinauguração do Palácio Olímpio Campos, cuja entrega festiva aos novos usuários ocorre neste 21 de maio de 2010. Os exemplos do Governador Marcelo Deda e do Secretário Oliveira Júnior vale como uma ação política em favor da memória e da história de Sergipe.

O Palácio Olímpio Campos contou, em sua história de quase 150 anos, com pessoas fantásticas, que deixaram nome e que podem ser invocadas pelos seus méritos. Walmir Almeida, ou simplesmente Walmir, é um desses casos. Nascido em Riachão do Dantas, em 26 de maio de 1930, entrou pela primeira vez no Palácio Olímpio Campos em 1942, aos 12 anos, para ajudar ao cunhado João Pinheiro de Carvalho, com quem aprendeu a arte da fotografia e a quem substituiu, passando a ser personagem de primeira grandeza na vida palaciana, registrando os fatos, as festas, dores e alegrias do cotidiano do Poder. Inovador, fez fotografias aéreas e criou o Cine-Jornal Atalaia, que na voz de Cid Moreira registrava os fatos ocorridos em Sergipe, levando-os aos cinemas, para exibição antes dos filmes.

Homem da terra, do céu e do mar, Walmir Lopes de Almeida, filho de Francisco Lopes de Almeida e Maria da Silva França, com o casamento Maria França Almeida, trocou Riachão do Dantas pela capital e de tal forma incorporou-se à cidade, que seu nome faz história como fotógrafo, repórter fotográfico, cinegrafista, diversificando as suas atividades profissionais com o serviço público, no Palácio Olímpio Campos, no DNOCS, formando um acervo grandioso que, lamentavelmente, não resistiu ao descaso e a falta de estímulo. Um dia, sem que fosse percebido, o acervo virou chamas, reduzido a cinzas dispersas. O que sobrou, com a assinatura do fotógrafo, constitui, ainda hoje, um registro sem precedentes de uma época que marcava o fim do Estado Novo e das Interventorias, os Governos democráticos, o golpe de 1964 e o novo período de exceção. O retorno à democracia das eleições diretas, em 1982, já não contou com a câmera genial de Walmir Almeida, que no entanto continuou trabalhando, com sua loja especializada na rua Itabaianinha e, depois, na praça Olímpio Campos.

Escoteiro, Rádio Amador, Piloto, inclusive fazendo vôos para tratar coqueluche, Vendedor de aviões, Fotógrafo aéreo, Iatista, um homem de múltiplos instrumentos, uma presença marcante na vida sergipana.  Walmir Almeida fez o antigo curso ginasial no Colégio Tobias Barreto (1953), o científico (1956), o curso superior de Economia (1964). Integrou os quadros do Lyons Clube, da Maçonaria, e dedicou parte de sua vida ao Aero Clube de Sergipe, para onde levou seus filhos, iniciando-os na arte de voar. Ao completar 80 anos, andando pelas ruas da cidade, desde a Praia 13 de Julho até a praça Olímpio Campos, Walmir Almeida é um exemplo a ser destacado. E se um título, mais que outros, ele devesse ter, como reconhecimento ao seu trabalho de décadas, seria o de O Fotógrafo do Palácio, complementado com o de O Cinegrafista do Palácio, tarefas que exerceu com maestria.


Seria bom que o Secretário Oliveira Júnior mandasse reunir, no novo Palácio, as fotografias e os jornais cinematográficos de Walmir Almeida, como um tributo ao profissional dedicado ao Palácio, mas como uma reverência à memória sergipana, agora enriquecida com a reinauguração do Palácio Olimpio Campos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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