Vozes populares

Nestes tempos modernos, acadêmicos, eletrônicos, ainda são encontrados resquícios de uma linguagem popular, que foi de uso comum, quando a voz do povo tinha a moldura de um modo de viver característico das camadas mais simples e rudes, ainda que também pudesse freqüentar os ambientes fechados das casas grandes das fazendas de gado e dos engenhos e usinas de açúcar. As ruas, contudo, foram cenários permanentes de um tipo de linguagem que raramente povoou a literatura, salvo algumas poucas exceções, como os palavrões. Desde alguns anos que em alguns Estados tem surgido uma espécie de dicionário popular, numa tentativa de identificar o que é típico de cada povo. Assim baianês, sergipanês, e outros repertórios particulares, como expressão arcaica, em vias de extinção.

As vozes populares – termos e locuções -, sergipanas não estão vinculadas ao chamado sergipanês, mas reproduzem um modo de falar quase típico, diferenciado no universo da comunicação. Algumas das vozes são abonadas pelos autores da literatura, em suas obras, outras são de uso restrito, pelo povo, outras, enfim, caíram em desuso. Nas pesquisas dos provérbios, por exemplo, torna-se comum e de fácil identificação, ditos tradicionais, muitos dos quais universais, sobreviventes de um modo sentencial que garantiu a circulação. Eis alguns exemplos:

 

Carecer – precisar, necessitar

Devera – de verdade

Deus não é servido – Deus não quer, não permite, não deixa

Fogo de monturo – que queima aos poucos, sem labaredas

Pega, êta pega – expressão de perigo

Pinima – coisa pequena, miúda, sem valor

Sarará – mestiço, próximo do albino

Empampuçado – amarelo, pálido

Bregueço – coisa inservível, inútil, quebrada

Corriola – grupo, bando

Cabriolar – andar solto no mundo

Bodejar – reclamar

É servido? – aceita, quer

Estopor balaio – palavrão

Cabrunco – palavrão

Canela seca – dinheiro miúdo, em cédula

Paracé – coisa ridícula

Peinta ou peintcha – expressão de espanto

Enginge – estado de náusea

Evolueme – estado de confusão

Fuá – barulho, briga

Cu de boi – barulho, briga

Cutucar o cão com vara curta – provocar

Cambito – perna fina

Mexer em casa de marimbondo – provocar quem não conhece; gente brava

Meia libra – metade de uma libra, equivalente a 250 gramas

Arenga, encrenca

Tripa – víscera

Quero que um raio me tore no meio – praga pessoal

Quem pariu Mateus que balance – provérbio sobre a imprevidência

Quero morrer se não for verdade – praga pessoal

Quero ser filho de uma égua se não foi assim – praga pessoal

Quero que se papoque no no inferno – praga contra os outros

Vá pra caixa prego – vá para um lugar distante

Cacau (que já foi calão lisboeta) – dinheiro

Tanga (moeda asiática de pequeno valor)- quebrado

Arame (designação do bronze no século XVI) – dinheiro

Cobre – moeda, dinheiro

Bufufa – dinheiro

Merenda – lanche entre as refeições

Rango – comida

Cada macaco no seu galho – provérbio sobre a responsabilidade

Cara de um, foucinho de outro – aparência

Mundiça – gente sem valor

Varapau – homem alto

Cor de burro quando foge – comparação

A peste chupando manga – comparação de feiúra

Justo que nem boca de bode – comparação

Espinhela caída – doença

Destiorada – casa velha, deteriorada

Filho (ou fio) de padre – sortudo

Sintupa – ordem superior, equivalente a cale-se

Olho velado – olho cego

Buraqueiro – gentílico popular de Porto da Folha

Papa Jaca – gentílico popular de Lagarto

Caga Palácio – gentílico popular de Laranjeiras

Capa Bode – gentílico popular de Simão Dias

Bolodoro – enfeite verbal, enrolação

 

                                      (continua)

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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