Aracaju é uma cidade surpreendente. Quando a cultura parece sofrer de inanição, e falta apoio e incentivo a quem produz, eis a surpresa: a edição de Contos de Grimm, adaptação e bordados de Maria Aparecida Dias, pelas Edições Micael, livro primoroso, de excelente apresentação gráfica, com projeto que põe Sergipe em condições de disputar mercado com o resto do País, no circuito profissional da concorrência. Ninguém ignora as dificuldades enfrentadas pelos autores para a edição de suas obras, principalmente pela falta de editoras, e de distribuidoras que façam circular o que é publicado. No Estado é grande a fila de livros aprovados pelo Conselho Estadual de Cultura, para publicação. Quando a fila anda, esbarra no capítulo da comercialização, frustrando a difusão das idéias contidas nos livros.

Na linha da história a editoração de livros enfrentou sérias e constantes dificuldades. O poder Público, que aqui e ali cumpriu seu papel, tem de crédito edições antológicas, como o Álbum de Sergipe, de do notável professor Clodomir Silva, editado em honra do Centenário da Emancipação Política de Sergipe, em 1920,  mas reteve um débito de organização e publicação de obras de autores notáveis, recomendadas em textos legais e, não raro, no bojo das Constituições estaduais. É certo que, em alguns casos, os Governos ajudam com auxílios, ou, mais raro, aquisições de exemplares, mas não existe em Sergipe uma política editorial alicerçada na consciência política de que o livro é um suporte universal de cultura, a serviço da inteligência humana.

Silvio Romero, sergipano de Lagarto, foi pioneiro no Brasil de recolha de cantos e de contos populares, diversificando a coleta com o registro de folhetos de cordel, de grupos folclóricos, festas religiosas, compondo um calendário lúdico de grande valor, realçando a composição mestiça da cultura popular. Não há, no Brasil, nada igual aos livros do intelectual lagartense, imortalizando o povo com suas cerimônias, ritos e repertórios, muitos dos quais universalizados pelo cotejo ditado pelos estudos. É no universo da cultura popular que o mundo recupera as imagens perdidas, recompondo os traços comuns aos povos, diluídos no tempo. Em muitos casos o portador da riqueza literária popular é a criança, com seus jogos e brincadeiras.

A velha Europa recolheu coleções de contos populares, realimentando o imaginário do mundo. O papel dos Irmãos Grimm – Jacob e Wilhelm – é reconhecido no mundo todo, devendo-se a eles a recolha e a sobrevida de estórias infantis, pelo tempo afora, salvando do esquecimento tramas universais, repletas de valores, que encantam as rodas de crianças, em todo o mundo. Pois as Edições Micael, de Aracaju, já editou dois volumes dos Contos dos Grimm, adaptados e bordados por Maria Aparecida Dias, que é responsável pelas publicações.

No volume I estão os contos: A Bela adormecida, Branca de Neve e Joãozinho e Maria; no volume II os contos são: A Gata Borralheira, Mãe Nevada e Rapunzel, mantidos em suas linguagens, numa edição preparada com todo o esmero, para fazer recircular, entre crianças e leitores outros, de qualquer idade, que tanto acreditem em fantasia, como em valores que concorrem para a formação da identidade. Edição primorosa, que está sendo lançada em Aracaju, na Galeria de Arte SESC CENTRO (rua Dom José Tomás, 235, São José), às 19 horas do dia 5 de outubro, com exposição a ser aberta no dia seguinte, 6, e em visitação até o dia 3 de novembro, das 10 às 19 horas.

É uma excelente oportunidade, para que os amantes da literatura confiram a qualidade da edição e dos textos dos Irmãos Grimm, que têm atravessado o tempo, imortalizados e universalizados, desde o século XVIII. As estórias dos Irmãos Grimm formam um compacto das mais belas tradições, comparáveis ao que há de mais expressivo no mundo. Vale a pena conferir.