MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: LUCIANA MELLO

CD: “NÊGA”

Gravadora: ATRAÇÃO

 

Acostumada, desde criança, a freqüentar o meio artístico, Luciana Mello começou a cantar ainda na infância. No entanto, a filha de Jair Rodrigues só veio a assumir a música como profissão quando resolveu participar do projeto Artistas Reunidos, ao lado de Jair Oliveira (seu irmão), Pedro Mariano (filho de Elis Regina), Max de Castro e Simoninha (filhos de Wilson Simonal). 

Já tendo integrado o cast das gravadoras Trama e Universal, Luciana acaba de lançar, agora ancorada no selo do irmão (“S de Samba”), o seu novo CD intitulado “Nêga” que vem ratificar duas coisas: a primeira diz respeito à sua bela voz; a segunda se relaciona à capacidade pouco feliz que a artista tem quanto à escolha de repertório.

De fato, Luciana (uma bela morena, alta e elegante) possui uma voz bem bonita, com timbre aveludado e emissão inatacável. Sem aparentes vícios vocais e dona de uma simpatia que lhe permite trânsito livre no competitivo meio musical, ela tem predicados de sobra para fazer bem mais sucesso que o alcançado até aqui.

O que a atrapalha, então? Certamente um repertório que não lhe permite mostrar tudo o que sabe. Ela já afirmou ter predileção por canções balançadas, com um pé no pop e outro na black music, misturando funk, samba e soul. Até aí, nada demais. O problema é que as canções selecionadas (e isso vem ocorrendo desde o álbum “Assim Que Se Faz”) terminam resultando rasas. Como conseqüência, somente duas ou três faixas, de cada trabalho lançado, apresentam-se com alguma chance radiofônica.

No novo álbum, dentre as inéditas destacam-se apenas a contagiante “Na Veia da Nêga” (que conta com a participação, em sua parte rap, de Gabriel O Pensador), a delicada “O Tal do Teu Beijo” e a inteligente “Língua”. Já dentre as regravações (“Galha do Cajueiro”, “Only You”, “Lágrimas de Diamantes” e “O Samba Me Cantou”), somente esta última soa realmente necessária.

Talvez Luciana devesse, em um próximo trabalho, redirecionar o foco do repertório. Abri-lo a um leque maior de compositores, por exemplo, poderia fazer-lhe bem, dando uma baforada de novidade. Talento ela tem de sobra… Uma certa dose de ousadia, a partir de agora, só iria lhe fazer bem!    

 

 

R E S E N H A     2

 

Grupo: ORQUESTRA IMPERIAL

CD: “CARNAVAL SÓ NO QUE VEM”

Gravadora: SOM LIVRE

 

Uma espécie de big band carioca formada por dezenove pessoas, artistas irrequietos que tentam mostrar a difícil arte da boa música a um Brasil tão imenso quanto complexo. Talvez essa fosse uma definição apropriada para a Orquestra Imperial, que começou em meio a brincadeiras de seus integrantes e, atualmente, já pode ser considerada um fenômeno, pois as suas apresentações têm reunido um público enorme.


Alguns de seus componentes desenvolvem concomitantemente outros trabalhos, participando de grupos diversos ou até mesmo abraçando carreira solo. Fazem parte dela Thalma de Freitas (voz), Nina Becker (voz), Moreno Veloso (percussão e voz), Nelson Jacobina (guitarra e violão), Rodrigo Amarante (voz), Wilson das Neves (voz e percussões), Pedro Sá (guitarra), Bartolo (guitarra), Rubinho Jacobina (teclados), Berna Ceppas (teclados e percussão), Kassin (baixo), Domenico (bateria), Stephane San Juan (percussão), Bodão (percussão), Léo Monteiro (percussão eletrônica), Felipe Pinaud (flauta), Max Sette (trompete e flugelhorn), Bidu Cordeiro (trombone) e Mauro Zacharias (trombone).

Buscando inspiração em um formato lúdico que articula referências dos anos 50 e 60, com destaque para os metais e a percussão, a Orquestra Imperial acaba de lançar, através da gravadora Som Livre, o seu primeiro CD. E mostra-se corajosa ao não apostar na animação presente nas apresentações ao vivo, a qual havia sido esboçada em um EP que foi vendido nos shows e que continha as regravações, em estilo contagiante, das músicas “Me Deixa em Paz” (de Monsueto e Ayrton Amorim), “Sem Compromisso” (de Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro), “Obsessão” (de Mirabeau e Milton de Oliveira) e “Popcorn” (tema instrumental de Gershon Kingsley).

De modo oposto, o álbum recém-lançado, que é composto por apenas onze faixas (todas elas inéditas) e leva a assinatura de Mario Caldato Jr. na produção, traz canções em geral mais serenas, o que talvez justifique o sugestivo título de “Carnaval Só Ano Que Vem”.

Há, é certo, sambas de formato mais tradicional como “Ereção”, “Era Bom” e “Salamaleque”, além das meso-cubanas “Yarusha Djaruba” e “Ela Rebola”, todas alegrinhas, mas o clima mais contido se verifica desde a faixa de abertura, a abolerada “O Mar e o Ar”, passando por momentos vários, como “Jardim de Alah” e “Rue de mes Souvenirs” que evocam a velha bossa, e “Não Foi em Vão” e “De um Amor em Paz”, de voltagem claramente intimista. Fechando o álbum, surge “Supermercado do Amor”, de forte influência tropicalista, que conta com a participação especial do veterano Jorge Mautner.

Em geral, é um trabalho legal de uma turma que, esperta, não vislumbra apenas o hoje, mas busca consolidar o nome de seus integrantes dentre os muitos que compõem a miscigenada música popular brasileira.

 

N O V I D A D E S

 

·               A gravadora Som Livre põe nas lojas o CD oficial dos Jogos Pan-Americanos que se iniciaram, no Rio de Janeiro, na sexta-feira passada. A música-tema (“Viva Essa Energia”) foi composta por Arnaldo Antunes e Liminha e recebeu vigorosa interpretação de Ana Costa, sambista da nova cena musical carioca. Há também faixas gravadas pelo Cordel do Fogo Encantado, pela cantora Céu e pelo baiano Armandinho.

 

·               Famosa entre o público adolescente por entoar roquezinhos bobos e baladas insossas, a banda KLB (formada pelos irmãos Kiko, Leandro e Bruno) resolveu, em seu novo trabalho, rever os sucessos de outros grupos. Foi essa idéia que deu origem ao CD intitulado “Bandas”, o qual chegou recentemente ao mercado através da gravadora Universal. Se é verdade que a voz do vocalista Leandro ainda mostra fortes ranços dos cantores sertanejos e que o irregular repertório peca por trazer versões desnecessárias de “Meu Primeiro Amor” e “Não Devo Mais Ficar”, não se pode esquecer de dar um crédito de louvor aos garotos por ousarem incorporar ao set list, ainda que com arranjos pouco originais, canções como “Balada do Louco”, “Pro Dia Nascer Feliz” e “O Vira”. Pode ser o começo de uma virada para quem já vendeu milhares de discos e agora patina em uma tiragem inicial de modestas dez mil cópias.

 

·               Luiz Melodia lançará, ainda este mês e pela gravadora Biscoito Fino, seu novo CD intitulado “Estação Melodia”. Uma das faixas confirmadas é a regravação da canção “Chegou a Bonitona”, de autoria de Geraldo Pereira (aquele do hit “Sem Compromisso”).

 

·               Depois de uma ausência de trinta anos, volta ao mercado fonográfico o cantor e compositor Carlos Dafé que, nos anos setenta, emplacou alguns sucessos, dentre os quais “Pra Que Vou Recordar O Que Chorei?”. O novo trabalho (intitulado “Bem-Vindo ao Baile”) estará chegando às lojas no próximo mês, através da gravadora DeckDisc, e contará no repertório com parcerias feitas com Zeca Baleiro e Heitorzinho dos Prazeres.

 

·               Ricardo Chaves realizou recentemente show no parque aquático Wet’n’Wild, em Salvador (BA), o qual vai se transformar em CD e DVD ao vivo que chegarão brevemente ao mercado. Dentre os convidados, nomes expressivos da folia baiana como Ivete Sangalo, Netinho e Durval Lelys. A conterrânea Daniela Mercury comprometeu-se de registrar, posteriormente em estúdio, a música “Tabas” para inclusão no projeto.

 

·               Uma boa surpresa é o primeiro CD de Rodrigo Santos, baixista da banda Barão Vermelho. Intitulado “Um Pouco Mais de Calma”, retirado da bela canção assinada por Rodrigo em parceria com Frejat, o disco (um lançamento da gravadora Som Livre) chega às lojas em um momento em que a banda se encontra em período de recesso e mostra um artista competente no que se propõe a fazer. São quatorze faixas nas quais Rodrigo se arrisca como cantor, saindo-se muito bem. Voz bem colocada, timbre bonito e pronúncia clara e isenta de vícios são algumas das características reveladas. Como compositor, é um dos raros casos que se sai melhor quando cria sozinho do que quando trabalha em parcerias. Exemplo disso são as faixas “Nunca Desista do Seu Amor”, “O Sono Vem” e “Tempos Difíceis”, alguns dos melhores momentos desse álbum muito bem-vindo. Há, ainda, as participações especiais de George Israel, Leoni e Zélia Duncan nas canções “Cidade Partida”, “Vai Ser Melhor Assim” e “O Peso do Passado”, respectivamente. A música “Pão-Duro” faz parte da trilha sonora de “Sete Pecados”, nova novela global das 19 horas, e por isso mesmo deve vir a tocar bastante.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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