MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: VERÔNICA SABINO

CD: “QUE NEGA É ESSA”

Gravadora: MP,B / UNIVERSAL

 

Cantora de qualidades técnicas irretocáveis, Verônica Sabino apareceu para o grande público com a explosão de “Demais” (versão feita por Zé Rodrix e Miguel Paiva para “Yes, It Is”, de John Lennon e Paul McCartney), a música mais executada do ano de 1986, muito por ter sido incluída na trilha sonora da segunda versão da telenovela global “Selva de Pedra”. Outros grandes sucessos na sua voz foram catapultados às paradas também por fazerem parte de produções da Vênus Platinada, como é o caso de “Todo Sentimento” (de Chico Buarque e Cristóvão Bastos, presente em “Vale Tudo”) e “Tudo o Que Se Quer”, ao lado de Emílio Santiago (versão de Nelson Motta para “All I Ask Of You”, em “Tieta”).

Filha do escritor Fernando Sabino e ex-integrante do grupo vocal Céu da Boca, Verônica hoje infelizmente não é um nome muito conhecido pelas gerações mais jovens, embora tenha lançado, ao longo da carreira, alguns esporádicos e bons discos. Talvez ciente disso, a cantora vem, nos últimos anos se aproximando de novos nomes do nosso cancioneiro e dando uma roupagem mais pop ao seu trabalho.

Acaba de chegar às lojas, numa parceria entre as gravadoras MP,B e Universal, o seu novo projeto que sai concomitantemente nos formatos CD e DVD. Intitulado “Que Nega É Essa” (sem a interrogação mesmo), uma boa canção da lavra de Jorge Ben Jor, o trabalho foi gravado ao vivo no estúdio carioca 24p (transformando-se, em seguida, em especial exibido pelo Canal Brasil) e mostra uma intérprete segura que, na maioria das faixas, revê várias canções gravadas por ela própria anteriormente.

Cercada por uma banda concisa e afiada composta por Pedro Braga (violões), Marcelo Caldi (piano e acordeão), Marcos Suzano (percussão) e Sérgio Chiavazzoli (violões, responsável também pela produção musical do projeto), Verônica traz versões personalíssimas para canções já bastante conhecidas, como “Saia do Caminho” (de Custódio Mesquita e Evaldo Ruy) e “Quase Um Segundo” (de Herbert Vianna, também presente com “Beijo Salvador”), mas mostra criações de sua própria autoria, ratificando ser uma ótima compositora tanto quando cria sozinha (“Rewind” e “Agora” estão entre as melhores faixas) quanto quando compõe em parceria (ao lado de Zeca Baleiro apresenta a inédita e soturna “Blues em Braille”).

Há as participações especiais de Rodrigo Maranhão (em “Rosa Que Me Encanta”, dele e Pedro Luís) e de Vítor Ramil (em “Longe de Você”, de autoria do gaúcho, que também assina a ótima “Invento”). Outros bons momentos ficam por conta de “Não Se Afasta de Mim” (de Celso Fonseca) e “Tardes” (de Adriana Calcanhotto). O DVD traz algumas canções a mais, como “Lágrimas e Chuva” (do repertório da banda Kid Abelha), “Lua Branca” (de Chiquinha Gonzaga) e “Peito Vazio” (de Cartola). Já “A Moeda de um Lado Só” (de Moska) surge somente nos extras, como bônus.

Com uma voz aveludada e de belo timbre, Verônica Sabino volta à cena, merecendo o pleno reconhecimento a que o seu talento e a sua persistência fazem jus.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: JORGE VERCILLO

CD: “TREM DA MINHA VIDA”

Gravadora: EMI

 

Nada mais ultrapassado do que dizer que Jorge Vercillo começou sua carreira calcado no ídolo Djavan. Isso é verdade, mas já se vão os tempos em que o assumido fã escondia sua identidade atrás da postura musical do alagoano. De fato, os timbres das vozes se parecem (embora o de Vercillo venha soando cada vez mais doce) e é inquestionável que se encontram acordes e construções djavaneanas em várias das criações assinadas pelo discípulo. Nada, contudo, que venha agora a perturbar a carreira deste, já sedimentada com um sucesso atrás do outro.

De uns anos para cá, inclusive, Vercillo, ciente de que uma repetição dele próprio poderia causar-lhe conseqüências inestimáveis, vem abrindo seu leque de parceiros (tem composto com Marcos Valle, Ana Carolina e J. Velloso, por exemplo) e talvez por isso mesmo é que vem sendo gravado por grandes intérpretes da nossa MPB, a exemplo de Maria Bethânia e Leila Pinheiro.

Acaba de chegar às lojas, através da gravadora EMI e nos formatos de CD e DVD, mais um trabalho do artista. Trata-se de “Trem da Minha Vida”, registro ao vivo de show apresentado no final do ano passado no Canecão, famosa casa de espetáculos do Rio de Janeiro. Como reza a cartilha de um projeto desse tipo, a maioria do repertório recai sobre canções já bastante conhecidas. Desta forma, não poderiam faltar temas como “Final Feliz” (música que deu o pontapé inicial para o reconhecimento de Vercillo), “Monalisa” e “Que Nem Maré” que contagiam a olhos vistos o público presente. Momentos mais suaves também têm a sua vez e ficam por conta de “Vôo Cego”, “Devaneio” e “Fênix”.

Vercillo é cantor de consideráveis recursos vocais e sabe se utilizar com destreza dos falsetes. Como compositor, tem a mão talhada para construir melodiais de fácil aceitação popular. Também um bom instrumentista (toca violão com sensibilidade), sabe se cercar de músicos de ponta, tais como: Paulo Calasans nos teclados, Cláudio Infante na bateria e Glauco Fernandes no violino.

Advindo de um projeto que reuniu ele e outros três Jorges famosos (o Aragão, o Mautner e o Ben Jor), Vercillo incluiu duas canções criadas especialmente para aquela oportunidade: “Líder dos Templários” e “São Jorges” (que conta com a participação especial de Sergio Moah, vocalista da banda Papas da Língua) são dois bons momentos do novo trabalho, ao lado da bonita “Encontro das Águas” e da contagiante “Todos Nós Somos Um” (que deu título ao seu último disco de estúdio).

A (boa) surpresa fica por conta da única canção inédita presente, justamente aquela que dá título ao projeto. É uma inspirada composição (cuja letra aborda tema recorrente no nosso cancioneiro – o da saída do filho da casa materna) que, espertamente, transita pela tênue linha que separa o forró do reggae. O DVD traz vários números a mais que o CD, dentre eles: “Leve”, “Camafeu Guerreiro”, “Coisas Que Eu Sei”, “Signo de Ar” e “Vela de Acender, Vela de Navegar”.

Jorge Vercillo sabe que o presente produto muito pouco acrescenta ao seu currículo musical. Trata-se tão somente de um projeto de nítido caráter revisionista que visa primordialmente agradar ao seu séquito de fãs. No entanto, ao reunir os seus vários hits, ele comprova que já possui seu lugar de destaque no panteão musical brasileiro.

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Sexta-feira e sábado próximos será a vez do ótimo compositor Paulo Lobo se apresentar no novo e bem-vindo espaço cultural Viva Ará. Se eu fosse você, não perderia por nada deste mundo… Em tempo: La Polayne (que realizou ali memorável show na semana passada) começará a gravar seu primeiro CD em maio próximo e alardeia, feliz, a sua merecida classificação no Festival de Música de Garanhuns, o qual se realizará nos dias 19 e 20 deste mês. Sorte para ela!

 

·                     A cantora Ângela Maria (que, ano passado, completou oito décadas de vida) se vê homenageada através de uma compilação dupla idealizada pelo pesquisador musical Thiago Marques Luiz, a qual acaba de chegar às lojas através da gravadora EMI e que abrange um período que vai de 1955 a 1983. Realmente, é inacreditável o que a Sapoti fazia com sua voz, então no auge técnico e de emoção. Tida por muitos como a maior cantora do Brasil, Ângela mostra o porquê de tanta admiração através de interpretações irrepreensíveis para canções como “Lábios de Mel” (Waldir Rocha), “Terra Seca” (Ary Barroso), “Saveiros” (Dori Caymmi e Nelson Motta), “Universo no Teu Corpo” (Taiguara), “O Amor É o Meu País” (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza), “Atrás da Porta” (Francis Hime e Chico Buarque), “Marina” (Dorival Caymmi) e “Errei, Sim” (Ataulfo Alves). Há as participações especiais de João Dias, Agnaldo Timóteo, Cauby Peixoto e Moraes Moreira, este na bela música “Sempre Ângela”, composta por ele em homenagem à diva.

 

·                     O filho único da cantora Cássia Eller, Francisco (conhecido como Chicão) está hoje com quinze anos e formou uma banda que conta também com a presença de Bruna, filha de Emanuelle Araújo, vocalista do grupo Moinho. É o DNA falando mais alto…

 

·                     Fágner prepara o seu novo CD com entusiasmo. Com produção do carioca Clemente Magalhães, o trabalho apresentará novas parcerias do artista cearense com Zeca Baleiro (“Filme Antigo”), Chico César (“Casa de Farinha”) e Gabriel O Pensador (“Martelo”).

 

·                     “Palco MPB” é o nome de um programa produzido semanalmente pela Rádio MPB FM do Rio de Janeiro que leva ao ar sempre shows exclusivos com artistas de ponta do nosso cancioneiro. Alguns dos melhores momentos desses programas foram registrados e agora acabam de chegar às lojas, através da gravadora EMI, em CD contendo quatorze faixas. As canções já foram gravadas antes pelos intérpretes selecionados, mas as versões apresentadas são inéditas e o bom é que não se restringem (como geralmente ocorre em projetos desse tipo) ao formato violão e voz. Estão lá, entre outros, Gilberto Gil (“Palco”), Rodrigo Maranhão (“Caminho das Águas”), Mart’nália (“Cabide”), Teresa Cristina (“Gema”) e Ana Canãs (“Coração Vagabundo”).

 

·                     A cantora Maricenne Costa lança mais um CD pela gravadora Lua Music, desta feita cantando somente músicas de compositores (na maioria) paulistas ligados em maior ou menor grau à Bossa Nova, como Toquinho, Paulinho Nogueira e Théo de Barros. Trata-se de um trabalho no formato voz e violão (a cargo de Marcus Teixeira) que traz as participações especiais de Alaíde Costa, Eduardo Gudin e Fernanda Porto.

 

·                     O novo CD de inéditas de Zélia Duncan terá a produção dividida entre John Ulhoa e Beto Villares. Ainda sem título definido, já está certa a participação especial de Fernanda Takai, vocalista da banda mineira Pato Fu, em uma das faixas. Chegará às lojas ainda neste primeiro semestre.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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