Musiqualidade

R E S E N H A

Cantora: ELBA RAMALHO
CD: “DO MEU OLHAR PRA FORA”
Gravadora: COQUEIRO VERDE RECORDS

Quando a paraibana Elba Ramalho estreou, no mercado fonográfico nacional, com o disco “Ave de Prata” em 1979, o Brasil ainda não estava preparado para reconhecer naquela voz agreste uma das maiores intérpretes de sua história. A cantora vinha de relativo sucesso no teatro ao fazer parte do elenco da aclamada “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, de quem terminou ganhando o seu primeiro sucesso, a contagiante “Não Sonho Mais”, e não precisou de muito tempo para ser reconhecida de norte a sul pela garra e energia inatas.
Normal é que, depois de vários anos de estrada, um artista sinta vontade de se reciclar. Embora Elba não seja daquelas que se acomodam (durante sua trajetória já enveredou por vários projetos multicores), a verdade é que, de uns tempos para cá, ela vinha lançando álbuns em que os gêneros eminentemente nordestinos, uma praia que domina como poucas, dominavam o repertório. Talvez seja por isso que ela venha dizendo, nas entrevistas atuais em que divulga o seu mais novo CD (intitulado “Do Meu Olhar Pra Fora”, o qual acaba de chegar ao mercado através da gravadora Coqueiro Records), que andava cansada de se autoplagiar. Perfeitamente entendível sua colocação e, antes que alguns infames achem que ela tenta renegar o passado, o que realmente Elba quer expressar é que se encontra em um momento no qual pretende dar vazão com mais força a emoções outras, ainda que quase todas elas já tenham sido esboçadas em algum momento de sua vitoriosa carreira.
A voz potente e afinada continua em plena forma, mesmo que o timbre agudo tenha sido moldado ao longo do tempo, e a técnica aprendida nunca sucumbe à emoção, o que por si só já lhe permite um milhão de aplausos. Entregue agora às mãos do jovem e talentoso filho Luã Mattar (que assina a produção do novo CD ao lado do multi-instrumentista pernambucano Yuri Queiroga), ela demonstra efetiva arejada em um trabalho muito bem-vindo, de sonoridade pop contemporânea, composto por uma dúzia de faixas, as quais contam, na ficha técnica, com a participação de músicos de ponta, a exemplo do sergipano DJ Dolores (nas programações), de Paulo Rafael (na guitarra), de Cristina Braga (na harpa) e do maestro Spok (no sax).
Elba, agora uma católica fervorosa e desde sempre uma mística (que recheou o encarte com símbolos e afins), explicita nas faixas de abertura e de encerramento do disco (as inéditas “Olhando o Coração”, de Dominguinhos e Climério Ferreira, e “Ser Livre”, de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, respectivamente) o conceito de seu momento atual hamanístico-positivista. E se com uma pegada mais roqueira ela resgata “Risoflora” (de Chico Science), “Fazê o Quê” (de Pedro Luís) e “Nossa Senhora da Paz” (de Lirinha e companhia), entrega-se ao lado mais suave quando mergulha nas interessantes releituras de “Contrato de Separação” (de Dominguinhos e Anastácia) e de “La Noyée” (de Serge Gainsbourg), esta gravada em seu idioma francês original com o piano e o acordeão de Marcelo Jeneci.
Da amiga Zélia Duncan Elba ganhou um belo presente: “Só Pra Lembrar”, parceria com o emergente Dani Black, e de um dos maiores representantes do reggae nacional, Edson Gomes, Elba deu voz a “Árvore”, música já bastante executada em emissoras de rádio do sudeste maravilha.
Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta da excelente “É o que me Interessa” (de Lenine e Dudu Falcão, que ganha agora sua versão definitiva) e da deliciosa “Patchuli” (de Chico César), embebida em um arranjo que descamba para os ritmos paraenses ora tão em voga. Chico, aliás, surge como convidado especial da faixa. A outra ilustre participação do projeto é a portuguesa Carminho, fadista presente nos vocais de “Nos Ares de Lisboa – Um Passarinho Enganador” (de Dominguinhos e Fausto Nilo).
Trata-se de um CD muito massa que se transforma em um dos pontos altos da vasta discografia dessa fera nordestina que atende pelo nome de Elba Ramalho. Corra, ouça e divulgue!

N O V I D A D E S

* A cantora Aline Paes é carioca e iniciou sua carreira em 2009, ganhando, no ano seguinte, o I Prêmio Divas da Música Brasileira. Ato contínuo, ela participou do CD "Leve o Porto – Mulheres que Cantam Pedro Ivo", junto com as cantoras Karla da Silva, Luiza Borges e Patrícia Oliveira. Depois de um tempo maturando o seu primeiro CD solo, eis que acaba de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, “Batucada Canção", um projeto acima de média do qual participam virtuoses como os instrumentistas Nicolas Krassik (na rabeca), Carlos Malta (nas flautas) e Luis Barcelos (no bandolim). Produzido pela própria artista ao lado de Bernardo Aguiar, o álbum se faz composto por onze faixas e apresenta uma cantora pronta. Segura e afinada, Aline possui uma voz com personalidade e segue por um caminho pouco convencional no que se refere ao repertório selecionado, esmerilhando a riqueza de nosso cancioneiro e de nossos ritmos, saudando a tradição popular e lançando um olhar sobre o lírico e o contemporâneo. Com uma sonoridade ancorada em sons percussivos (como, aliás, já entrega seu título), o projeto sai da costumeira trilha fácil das regravações e se abre majoritariamente a temas inéditos ou pouco conhecidos. Até de Caetano Veloso, a canção escolhida é a bonita mas esquecida “Zera a Reza”. A exceção a isso se faz unicamente com a regravação de “Quem Vem Pra Beira do Mar” (de Dorival Caymmi) em que Aline e acompanhada somente pelo som da harmônica de Gabriel Grossi. No mais, há parcerias de Guinga com Paulo César Feital (“Destoada”), de Manuela Trindade com Lucio Sanfilippo (“Roda de Dança”) e de Pedro Ivo com Diogo Brandão (“Quando o Lampião Apaga” e “As Mãos de Yemanjá”), além de complexa criação de Thiago Amud (“De ponta a Ponta Tudo É Praia-Palma”). Vale a pena conhecer!

* O cantor e compositor Alex Sant’anna (baiano de nascimento e sergipano de coração) entrará em breve em estúdio para registrar as canções que farão parte de seu segundo CD. Para que esse projeto, no entanto, possa ser viabilizado, ele está lançando uma campanha de financiamento coletivo. Quem quiser participar deverá acessar o seu site oficial (www.alexsantanna.com.br) e saber como a coisa funciona. Trata-se de uma importante oportunidade para poder contribuir a fim de que esse excelente artista venha a perpetuar mais algumas de suas sempre interessantes criações. Vambora, galera, mãos à obra!

* A cantora, compositora e guitarrista Thathi é baiana. Desde os treze anos faz shows, trazendo na bagagem uma gama de experiências, já tendo dividido o palco com grandes nomes, a exemplo de Caetano Veloso, Djavan e Nando Reis. Desde 2011 residindo no Rio de Janeiro, ela já lançou dois CDs e, no final do ano passado, fez chegar ao mercado o EP intitulado “Não Sei Se Te Contei”, contendo quatro temas autorais e inéditos compostos com parceiros: a faixa-título e “A Face Falsa do Amor” (ambas assinadas com J. Velloso), “Na Sua" (feita com Luiza Possi) e “Sujeito Imperfeito" (criada ao lado de Myllena, Andréa Montezuma, Fernanda Alves e Isabella Taviani). Com sonoridade eminentemente pop, o disco foi produzido pela artista ao lado de Ricardo Feghali e conta com as participações de Herbert Vianna e Isabella Taviani. Boa pedida!

* Mario Caldato e Lúcio Maia são os produtores do álbum de inéditas que a cantora Ana Cañas está gravando e que deverá chegar ao mercado ainda neste primeiro semestre. Quem viver, ouvirá!

* Embora lançado em 2012 e já fora de catálogo, vale a pena procurar um pouco para conhecer o CD “Duo”, gravado pela cantora Lívia Nestrovski ao lado do guitarrista Fred Ferreira. Trata-se de um trabalho que reúne uma voz excepcional (que, em alguns momentos, faz ecoar Elis Regina e Ithamara Koorax) e um músico fora-de-série, os quais, em dez faixas, esbanjam talento e sensibilidade. Nem parece um projeto de voz e guitarra, vez que as possibilidades de ambos se multiplicam de maneira tal que o ouvinte parece estar diante de um trabalho de banda. Lívia (que, recentemente, lançou um álbum ao lado de Arrigo Barnabé e Luiz Tatit) já pode ser considerada – sem sombra de dúvida – uma das maiores intérpretes brasileiras da atualidade, dona de afinada e extensa voz com timbre claro e belíssimo. Impagáveis as versões apresentadas para “Jogral” (de Djavan, Filó Machado e José Neto), “A Sede do Peixe” (de Milton Nascimento e Márcio Borges) e “Mortal Loucura” (de Zé Miguel Wisnik e Gregório de Matos), destaques de um disco irrepreensível que ainda contempla canções de Tom Jobim (“Estrada do Sol”, parceria com Dolores Duran), Sérgio Ricardo (“Zelão”) e Djaco Loredo (“Saudade”).

* O quinto álbum da cantora baiana Virginia Rodrigues estará sendo lançado ainda este mês. Intitulado “Mama Kalunga”, será composto por treze faixas e trará, na produção, as assinaturas de Sebastian Notini e Tiganá Santana. Sob a direção musical de Iura Ranevsky, o CD conterá, no repertório, canções de autoria de Ederaldo Gentil, Moacir Santos, Nei Lopes, Paulinho da Viola e Roberto Mendes, entre outros. Há a participação especial da cantora afro-peruana Susana Baca.

* Cinco anos após o lançamento de “Amizade Sincera”, os cantores e compositores Renato Teixeira e Sérgio Reis se uniram novamente para fazer chegar às lojas, através da gravadora Som Livre, o volume II do projeto. Disponível nos formatos CD e DVD, trata-se do registro ao vivo de show realizado por eles em junho do ano passado na Quinta da Cantareira, em Mairiporã (SP). Enquanto o CD traz quatorze faixas, o DVD contém vinte e um números. Representantes maiores da chamada música sertaneja tradicional (aquela que não se cataloga nem como brega nem como universitária), os artistas selecionaram, no repertório, temas que já se encontram enraizados no inconsciente coletivo nacional, caso de “Você Vai Gostar” (de Elpídio dos Santos), “De Papo Pro Ar” (de Olegário Mariano e Joubert de Carvalho), “Cabecinha no Ombro” (de Paulo Borges), “Chuá, Chuá” (de Ary Pavão e Pedro de Sá Pereira) e “Canção da América” (de Milton Nascimento e Fernando Brant). Há as participações especiais de Chico Teixeira, Toquinho e Amado Batista.

* O sambista Diogo Nogueira que, em breve, estará lançando o seu terceiro álbum de estúdio (o qual já se encontra inteiramente gravado com a produção de Bruno Cardoso), vem se apresentando alternativamente como o protagonista do musical “SamBra” (que recentemente estreou no Rio de Janeiro e agora está sendo encenado em São Paulo) e como parceiro de palco do bandolinista Hamilton de Holanda no show “Bossa Negra”. Este espetáculo, aliás, aportará aqui em Aracaju, no Teatro Tobias Barreto no dia 18 deste mês a partir das 21h30min. Realmente imperdível!

* E uma ótima notícia surge na seara musical sergipana que deverá deixar contentes os amantes das belas canções! Estreará no dia 11 de abril o programa MUSIQUALIDADE. Será veiculado semanalmente, todos os sábados das 13 às 15 horas, pela 104,9 Aperipê FM. E eu estarei lá na apresentação, contando novidades, trazendo a lume curiosidades, conduzindo entrevistas e recebendo os pedidos musicais doso ouvintes. Até lá, então!

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais