Musiqualidade

R E S E N H A

Cantor: DIOGO NOGUEIRA
CD: “PORTA-VOZ DA ALEGRIA”
Gravadoras: EMI/UNIVERSAL MUSIC

O sambista Diogo Nogueira vem de um elogiado trabalho: o CD “Bossa Negra” (de 2014), dividido com o bandolinista Hamilton de Holanda e com inspiração nos afro-sambas, o qual certamente deu um upgrade em sua carreira. Nada mais normal que alguns esperassem que ele continuasse nesse viés mais classudo. Mas o que se tem que levar em conta é que artista também possui suas preferências pessoais e opções próprias que podem derivar de vários fatores. O caso é que o artista, fiho do saudoso carioca João Nogueira (cantor e compositor) e neto do sergipano João Batista Nogueira (violonista), está de volta ao mercado fonográfico com o álbum “Porta-Voz da Alegria”, um lançamento das gravadoras EMI/Universal Music e nele retorna, de certa forma, ao samba de pegada mais popular.
Embora algumas críticas já tentem desmerecê-lo por isso, nada há de errado em ele querer contunuar no caminho de cantor de grandes massas. Até porque fica difícil entender como se elogia, por exemplo, o novo disco do Zeca Pagodinho e o que ambos vêm fazendo segue o mesmo caminho musical (inclusive, grande parte dos compositores que compõem o repertório dos dois trabalhos são os mesmos).
Diogo – e isso é incontestável – vem amadurecendo artisticamente a olhos vistos. Encontra-se a se lançar em outras searas, a dos musicais, anda dançando solto no palco (o que era raro no início da carreira) e – o melhor de tudo – cantando cada vez melhor. Com mais segurança, sua voz agora parece alcançar trilhas próprias, ainda que o DNA vá sempre comparar seu timbre ao do pai famoso.
Produzido a quatro mãos por Bruno Cardoso e Lelê, o recém-lançado CD é composto por quinze faixas que reúnem dezessete canções. É um trabalho arrojado e, talvez se arquitetado de forma mais concisa, soasse ainda melhor. Mas, no geral, trata-se, sim, de um interessante disco. Há pelo menos quatro grandes músicas e tais, por si só, já valeriam o projeto. São elas: a faixa-título (de André Renato e Luiz Claúdio Picolé, com seus versos biográficos em que Diogo se intitula “guerreirto do samba”), “Alma Boêmia” (de Toninho Geraes e Paulinho Resende em que o amante pede perdão à amada por não saber resistir ao chamamento da farra, isso entregue em versos como: “É que o samba pega que nem feitiço e quando me pega, eu enguiço”), “Clareou” (de Serginho Meriti e Rodrigo Leite, uma verdadeira lição de otimismo) e especialmente “Grão de Areia” (de Jorge Vercillo e Paulo César Feital, cuja letra roga a Santa Clara e a São Jorge para amenizarem os desmantelos e as incoerências do mundo moderno).
Decerto o CD perde um pouco o pique quando mergulha em algumas canções que resvalam para os batidos desencontros amorosos, mas Diogo sabe que, com sua estampa de galã, é um lado do qual ele não pode abrir mão porque suas inúmeras fãs esperam mesmo é por isso.
Há ainda outros bons momentos, os quais merecem ser ressaltados, caso de “A Mil por Hora” (outra de André Renato, agora em parceria com Rhuan André, Gabriel Soares e Lucas Oliveira), “Deixa Eu Ir à Luta” (de Leandro Lehart) e “Musas” (de Arlindo Cruz e Rogê). Diogo, compositor esporádico, assina apenas “Paixão Além do Querer” (composta com Raphael Richaid e Inácio Rios) e “Na Boutique” (feita com Leandro Fab e Fred Camacho), esta gravada em medley com outros dois sambas de Dudu Nobre.
Seguindo em frente (o que é o mais importante), Diogo Nogueira realizou um CD com grandes chances radiofônicas, o qual, se bem trabalhado, deverá lhe render bons frutos. Vale a pena conhecer esse seu novo trabalho musical!

N O V I D A D E S

* Chegou recentemente ao Brasil o CD “Talisman”, originalmente lançado lá fora pela gravadora norte-americana Savant Records. Ele junta os talentos de Glaucia Nasser (mineira, cantora e compositora que possui quatro discos lançados e uma carreira de respeito no exterior) e Sammy Figueroa (nova-iorquino, percussionista tarimbado que já trabalhou ao lado de gigantes como Miles Davis, George Benson, Chet Baker e Stanley Clarke). Produzido por Rachel Faro, o álbum, composto por dez faixas e gravado em apenas oito dias, combina ritmos brasileiros com jazz latino. Glaucia conheceu Sammy em Miami, quando foi convidada para abrir um show do violonista paulistano Chico Pinheiro. Ele estava na plateia e acabou se impressionando com ela que o chamou para fazer um show em São Paulo e, logo em seguida, o convidou para, juntos, gravarem o disco que, entre outros músicos, conta com as presenças, na ficha técnica, do já citado Pinheiro nos violões, de Bianca Gismonti ao piano e de Fernando Rosa no baixo. O repertório conta com composições de Glaucia feitas em parceria com Paulo César de Carvalho, Alexandre Lemos, Jota Velloso e Tiago Vianna. Entre os melhores momentos estão as belas “Um Olhar de Fora”, “Ilu-Ayê”, “Quando Eu Canto” e “Boca de Siri”.

* O primeiro álbum da banda carioca Dônica, que está prestes a ser lançado pela gravadora Sony Music, se intitulará “Continuidade dos Parques” e, como já se sabe, trará a participação especial de Milton Nascimento na música “O Pintor” (de José Ibarra e Tom Veloso, este filho de Caetano Veloso). A conferir!

* Multi-instrumentista dos mais cobiçados do atual cenário indie da nossa música (ele toca baixo, violão, guitarra, piano e synth), Alberto Continentino acaba de fazer chegar ao mercado o seu primeiro e independente CD solo. Trata-se de “Ao Som dos Planetas”, o qual se faz composto por onze faixas autorais, algumas delas temas instrumentais. Nas cantadas (seja com letras ou vocalises), ele conta com a presença vocal da esposa, a cantora Vivian Miller. Embora a maior parte das canções tenha sido composta solitariamente pelo próprio artista (ele que já tem composições gravadas, entre outros, por Adriana Calcanhotto, Silvia Machete e Zabelê), há parcerias com Moreno Veloso (“Tic Tac”), Mark Lambert (“A Summer’s Day”) e Domenico Lancellotti (“Sistema de Som”, “Tudo” e “Náufrago”). A ficha técnica contempla a participação de outros cultuados músicos da nova geração, a exemplo de Kassin (guitarra, que assina a produção do disco ao lado de Continentino), Marlon Sette (trombone), Stéphane San Juan (bateria e percussão), Donatinho (synth) e Altair Martins (flugel horn).

* Está chegando às lojas o novo e aguardado CD do cantor e compositor paraibano Chico César. Intitulado “Estado de Poesia” (nome da única canção não inédita do disco, vez que lançada em 2012 por Maria Bethânia no show “Carta de Amor”), o álbum será composto por quatorze faixas. Deve vir coisa muito boa por aí!

* António Zambujo é cantor e compositor português com ótimo trânsito aqui no Brasil, tanto que vem gravando canções de brasileiros em seus mais recentes trabalhos. Em seu novo álbum, “Rua da Emenda”, que aportou há poucas semanas nas nossas melhores lojas através da gravadora Som Livre, ele incluiu, entre as quinze faixas que compõem o repertório, boas releituras de “Último Desejo” (de Noel Rosa) e “Valsa Lisérgica” (de Rodrigo Maranhão e Pedro Luís). Zambujo canta bonito e não restringe sua obra apenas aos fados, o que lhe confere auras de universalidade. Como autor, ele assina (em parceria) apenas duas músicas, mas faz de uma delas, “Viver de Ouvido”, um dos destaques do set list apresentado. Outros dos melhores momentos ficam por conta de “Valsa do Vai Não Vás”, “O Pica do 7”, “Despassarado” e “Pantomineiro”. Eclético, o artista também selecionou temas em francês e espanhol (“La Chanson de Prévent” e “Zamba del Olvido”, de Serge Gainsbourg e Jorge Drexler, respectivamente).

* Com vistas a festejar uma década do Samba do Trabalhador (roda inaugurada pelo compositor carioca Moacyr Luz em maio de 2005, no Clube Renascença, no Andaraí, bairro da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro), está chegando às lojas o CD intitulado “10 Anos & Outros Sambas”, gravado em estúdio. Nove das doze faixas que compõem o repertório são inéditas (as exceções são: “Anjo Vagabundo”, “Samba de Fato” e “No Compasso do Samba”, compostas por Luz ao lado de Luiz Carlos da Vila, Paulo César Pinheiro e Sereno, respectivamente). Dona Ivone Lara é homenageada em “Joia Rara” que traz, como convidado, Rildo Hora e sua gaita mágica. Outra participação bastante especial fica por conta do acordeonista Bebe Kramer que insere interessantes passagens em “Camarão Vegê”.

* Depois de homenagear, em 2014, a obra de Sérgio Sampaio, o cantor paraibano Chico Salles mergulha, desta feita, no cancioneiro do compositor pernambucano Rosil Cavalcanti (que completaria um século de vida em dezembro deste ano), o qual se tornou conhecido no meio musical pelas canções gravadas por Jackson do Pandeiro ou compostas com ele. Trata-se do CD “Rosil do Brasil”, lançado recentemente através de uma parceria entre o selo Zeca Pagodiscos (de Zeca Pagodinho) com a gravadora Universal Music. Produzido com a costumeira competência por José Milton, o álbum se faz composto por uma dúzia de faixas que cabem perfeitamente na voz grave e equilibrada de Chico. O artista conta com as participações especiais de Biliu de Campina (em “Coco do Norte”), Chico César (em “Sebastiana”), Josildo Sá (em “Forró na Gafieira”), Maciel Melo (no medley que reúne “O Véio Macho” e “Moxotó”) e Silvério Pessoa (em “Forró de Zé Lagoa”). O grande mérito do projeto consiste em jogar novas luzes não apenas sobre canções já bastante conhecidas (como “Cabo Tenório”, “Quadro Negro” e “Na Base da Chinela”), mas também em resgatar temas menos badalados (a exemplo de “Lei da Compensação”, “Os Cabelos de Maria”, “A Festa do Milho” e “Tropeiros de Borborema”).

* Recentemente lançado, “Meu Pop É Black Power”, o primeiro álbum do cantor e compositor carioca Sergio Pi, vai ganhar edição de luxo com duas faixas-bônus: a versão em inglês de “Do You Wanna Boogie?” e o remix acústico de “Mizutani Gluten-Free Mix”.

* Produzido por Carlos Eduardo Miranda, o homônimo CD de estreia da cantora e compositora paulistana Lia Paris apresenta uma artista promissora, embora fique claro que ela brilha bem com sua voz leve e bem colocada (no qual se revelam células tanto de Marisa Monte quanto de Paula Toller) do que com seu talento de autora. Aí reside o maior senão de um disco cuja sonoridade pop-eletrônica se faz muito bem costurada em todas as treze faixas autorais das quais merecem destaque “A Estrada”, “Três Vulcões”, “Seu Jardim” e “Dissonantes”. Lia já mostra entrosamento no meio, tanto que apresenta parcerias com Marcelo Jeneci e Samuel Rosa e conta, na ficha técnica do disco, com a presença de disputados músicos da atualidade, como é o caso de Alexandre Kassin (no baixo) e de Pupillo (na bateria).

RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Apresenta o programa "Musiqualidade", veiculado pela 104,9 Aperipê FM, todos os sábados das 13 às 15 horas.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais