Para falar de identidade cultural, lembrei-me de uma historinha que escutei no programa “Forro no Asfalto” da nossa querida Clemilda, alagoana, que como eu, ama Sergipe. Ela entrevistava um sanfoneiro, logo terminados os festejos juninos, então ela perguntou: – E aí, tocou muito durante o São João? – Que nada, amiga, eu sou tocador pé de serra e sergipano; – Sim, por isso mesmo deve ter trabalhado muito nesse período; – É, como lhe disse, toco pé de serra e sou sergipano e os empresários e políticos sergipanos que tratam destas festas maravilhosas de São João agem como aquele vendedor de caranguejo: – Como assim? – Vou contar: dizem que um cidadão, dono de um hotel, havia pintado todo o prédio, até a calçada. Estava tudo limpinho. De repente, entra um funcionário e diz: olha, há um vendedor de caranguejo que colocou o seu balaio aí, quase na porta de entrada. O comerciante vai ao vendeão de crustáceo e diz: amigo, por favor, tire estes caranguejos daí, não vê que acabei de pintar meu hotel? Vai que um deles se solta, sobe na minha parede e enlameia tudo? – Se avexe não, seu “minino”, estes caranguejos são sergipanos, se acaso um deles tentar subir, na sua parede, os outros o derrubam… A identidade é aquilo que une, que marca e que define uma pessoa ou um povo. Nela as pessoas se conhecem entre si e se auto-reconhem a elas próprias. Ela está intimamente relacionada aos indivíduos, ao lugar, à nacionalidade, aos costumes, ao gênero, à raça, às crenças, à arte, ao folclore, à história ou seja, à cultura geral. É a identidade cultural que define os padrões de condutas, de procedimentos e de construção dos traços determinantes deste ou daquele indivíduo ou grupo. É a cultura, com suas genuínas manifestações, que mais caracteriza e identifica um determinado povo, é ela o elo de ligação que traz da raiz, (do passado) para o presente todos os códigos que sustentam essa identificação. E devem ser preservadas, protegidas e valorizadas, para que o grupo não fique à deriva nas águas revoltosas e violentas da falta de identidade e prejudique o futuro com o enfraquecimento dos valores, das crenças, e dos procederes genuínos de uma comuna. A identidade cultural é um bem inalienável, patrimônio maior de uma sociedade, e também deve ser preservada, protegida, estudada, praticada e, sobretudo, respeitada, pois a sua fragilização danifica a tessitura harmônica que tem sustentado, durante milênios, a hegemonia e a memóra das nações. Este cuidado deve ser redobrado, mormente, na nossa atual sociedade, globalizada e rarefeita entre real e o virtual, onde há muito mais informação do que formação. Vivemos um momento delicado, pois as inversões dos valores com a deterioração dos costumes, das hierarquias, do resapeito e da disciplina, enfraquecem as instituições que formaram, até então, referenciais da nossa cultura e da nossa identidade. Nações, povos e pessoas já sucumbiram, ou, no mínimo, perderam muito, por negligenciarem as suas identidades culturais, A família, por exemplo, já se encontra em avançado processo de esfacelamento. Ela, a família, como célula máter de toda a sociedade, se decomposta levará de roldão, também, todas as outras entidades para situações obscuras de dificil previsão. Nós, brasileiros, somos conscientes de que temos uma identidade cultural um pouco atrofiada. Irracionalmente acreditamos mais nos outros do que em nós mesmos e nos nossos e, até bem pouco tempo, só nos interessava o que vinha de fora: que fosse produto manufaturado ou pensamento, matéria prima ou cultura, moda ou ideia. Melhorou um pouquinho nos últimos anos, já temos orgulho do que é nosso, mas devemos evoluir muito pois, lamentavelmente, ainda somos copiadores. Necessitamos criar, cultivar mais a nossa memória, amar mais os nossos símbolos, vibrar mais com o que é nosso, valorizar mais o que é feito, ensinado e aprendido aqui. E isso só acontecerá se mudarmos as nossas atitudes, valorizando mais o nosso passado, a nossa história, os nossos simbolos e a nossa cultura Temos que evitar que a nossa identidade cultural esteja restrita a apenas aos pés de jogadores, aos trios elétricos, ou aos blocos carnavalescos. Temos que desenvolver a produção cultural pois só ela é geradora de novas avanços rumo ao desenvolvimento sustentável de uma cultura inteira e com uma tolerável parcela de interferência e influência. Aqui em Sergipe, ao que parece, se pronuncia com muito mais vigor uma apatia aos valores da terra, à prórpria valorização do que é genuino, sergipano. Lamentavelmente os nossos cantores, por exemplo, se quiserem fazer sucesso têm que migrar e, o pior, não voltam mais, pois aqui não são reconhecidos e valorizados. Fato semelhante acontece com os escritores, artistas, médicos, engenheiros, pintores etc… Aqui, o importado, as vezes, de cidades vizinhas, tem mais valor, é sempre melhor do que o que aqui se produz. A memória sergipana vive escondida, esquecida em poucos feudos tendente a desaparecer no esquecimento; a falta de compromisso com o que é sergipano chega a ser assustador. Fico feliz quando vejo campanhas como a que está sendo veiculada na Infonet, chamada de “Sergipanidade Infonet”, ou “Sou Sergipano de Carteirinha”. Ao que parece, destinada mais aos visitantes de outros estados, porém, mesmo assim, veio em muito boa hora. Espero que seja feita uma também dirigida somente aos sergipanos de sergipe. Outrta coisa que também me alegrou foi constatar, que a partir de agora haverá a possiblilidade de descentralização da cultura em todo o território brasileiro. O Ministério da Cultura, acordou para o fato de que não é bom que apenas dois ou três Estados monopolizem e distribua a cultura brasileira. Pelo que li, agora vai ser um pouco diferente, ufa! até que enfim alguém percebeu que uma nação, como a nossa, não pode ficar a reboque de poucos que fazem para todos que conssomem. Está lá, foi dito, esperamos pela sua efetivação, pela sua sustentabilidade. O projeto é muito bom. A idéia é fantástica. Necessitamos compromisso de todos. Na verdade, sabemos que a cultura do Brasil sempre foi coletada no ponto de origem, levada para o centro, eixo São Paulo/Rio de Janeiro e de lá irradiada para todos os outros Estados da Federação. Nada contra o que fazem por lá. Não! Só que, se cada um tiver a sua autonomia de pesquisar e mostrar a sua própria cultura, sem dúvida será muito melhor. É necessário de incentivo e, sobtretudo, vontade de fazer. Não é necessário concorrência, necessitas-se de coerência. Cada qual faz o seu e divulga e estaremos, assim muito melhores representados. A poltica até então existente não era justa. Vamos acreditar. Precisamos vestir a camisa da sergipanidade e nos considerar felizardos por morar num lugar do qual só não gosta quem não conhece outros lugares, até mesmo aqueles tidos como os melhores para se viver. Aqui é muito melhor.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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