Levantei-me da cama apressado. Já havia olhado o relógio, eu estava atrasado. Corri para o banheiro. Primeira ação do dia: escovar os dentes. Um susto. Pregado no espelho, um papel cor-de-rosa. “Auto de infração. Você está multado por entrar no banheiro sem a devida atenção”. Que coisa, que maneira de começar o dia! Escovado os dentes, banho tomado, lá vou eu pelo corredor, em direção à cozinha. Priiiiiiiiiiiiiiii!!!. Um apito estridente e um guarda de trânsito com um olhar carrancudo: “Documentos, por favor… você está multado por excesso de velocidade”. O que se há de fazer? Abri a geladeira, tomei meu leite e … priiiiiiii !!!. “Por gentileza, o senhor pode fazer o teste do bafômetro?”. Tive que colocar a boca num objeto estranho e soprei. “O senhor está multado por transitar sob o efeito de leite”. Ainda cheguei a apelar: “Seu guarda, o que tem o leite… por que?”. Resposta imediata: “O leite tem lactose, e quando ingerido em excesso pode provocar complicações intestinais e influenciar na boa conduta no trânsito”. Angustiado e preocupado em não ultrapassar os Acordei gritando e, por coincidência, o aparelho de TV, que eu deixara ligado, exibia a mesma reportagem que eu havia visto na noite anterior, antes de dormir. Que susto! Ainda bem que foi um só um pesadelo. Eu sou um trabalhador assalariado, como tantos, com um orçamento apertado, e não poderia estar sujeito a este perigo. Ainda bem que em Aracaju não tem dessas coisas. Indústria de multas não é coisa nossa. Até porque, se fossem implantar um regime mais duro aqui na nossa terrinha dos cajueiros e papagaios, é claro que iriam fazer um estudo detalhado sobre o trânsito. Não iriam, por exemplo, determinar velocidades máximas em trechos de vias públicas, sem saber do impacto que isso causaria no trânsito do local. É claro que fariam o estudo e apresentariam à população. Não iriam somente se basear na lei, sem questioná-la. Se a lei estivesse incoerente, certamente que o nossos dirigentes do trânsito iriam tomar medidas no sentido de corrigi-la. É certo que não colocariam pardais escondidos atrás de árvores, nem guardinhas estrategicamente situados em locais que o próprio desajuste de engenharia do trânsito motiva o motorista a cometer a infração. Não, em Aracaju, não. Jamais iríamos imitar o que se fez
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