Quando se está acompanhando o dia-a-dia da política, é preciso saber ler nas entrelinhas. Especialista na arte da dissimulação, frio e calculista, o ser político é capaz de tudo. Sabe como ninguém inverter a ordem das coisas, aparentar tranqüilidade, dizer que está empenhado em resolver determinado problema, quando, na verdade, não está preocupado com nada ou ninguém. Enfim, o ser político é – e sempre será – um enigma a ser decifrado.
Com a proximidade de um pleito, aí então esse perfil recrudesce. Dificilmente, seus interesses conseguem ser decifrados até que cheguem as convenções partidárias no mês de junho (quando são formalizadas as candidaturas). E olhe lá! Há casos e mais casos de políticos que até o dia das eleições – na hora do voto – permanecem verdadeiras incógnitas.
Por conta disso, qualquer analista político tem que ter sempre o “desconfiômetro” ligado. No último domingo, por exemplo, por volta das duas da tarde, um fato chamou a atenção de algumas pessoas que estavam no Aeroporto de Aracaju observando o taxiamento de aeronaves. Um jatinho da Weston Táxi Aéreo chegou a cidade trazendo o empresário João Carlos Paes Mendonça. Até aí tudo normal. João Carlos, um dos mais importantes empresários deste país, sergipano da Serra do Machado, tem investimentos em Sergipe, e sempre circulou pelo país em jatos particulares. Mas não foi isso que chamou a atenção de todos. O que causou surpresa foi a presença do ex-governador Albano Franco (PSDB), ansiosamente a esperá-lo.
O sorridente Albano, um dos melhores amigos de João Carlos por aqui, nunca escondeu de ninguém seu interesse em lançar a candidatura do mega empresário ao Governo do Estado, e, neste momento, sabe-se que o ex-governador não anda satisfeito com o tratamento que lhe é dispensado pelo bloco das oposições. Albano quer ser senador e não vislumbra essa possibilidade numa chapa encabeçada por Marcelo Déda. Portanto, não tenha dúvidas: o motivo da recepção no aeroporto, além dos fortes laços de amizade, tem por trás um forte trabalho para convencer João Carlos a participar da disputa em 2006, numa dobradinha João-Albano, governador e senador, respectivamente.
Seria, assim, mais um duro golpe nas intenções do atual governador de galgar um dificílimo e impressionante quarto mandato. Com o discurso desgastado pelo tempo, João Alves sabe muito bem o que representa uma chapa como essa: credibilidade. Já para Marcelo Déda, com seus 45 anos, representaria apenas o adiamento de um sonho.
Uma missão difícil para Albano, mas não impossível.