Hipotireoidismo subclínico

Hipotireoidismo é o nome que utilizamos para definir a doença provocada pelo funcionamento deficiente da glândula tireoide, que é responsável pela produção de hormônios que controlam o nosso metabolismo. Porém, devemos salientar de que o hipotireoidismo subclínica é uma forma branda da doença, ocorrendo geralmente sem sintomas, mas já detectável através de exames laboratoriais.

Considerações sobre a função normal da tireoide:

A tireoide é um órgão localizado na base do pescoço, que tem como função produzir os hormônios responsáveis por controlar a velocidade do nosso metabolismo, devemos salientar de que os hormônios da tireoide são chamados de triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). De forma extremamente didática devemos informar de que quando ocorre um aumento da concentração sanguínea desses hormônios ocorre um aceleramento em nosso metabolismo, no entanto quando ocorre uma redução deles, certamente irá ocorrer uma causa efeito contrário, ou seja ocorrerá uma lentificação metabólica.

Hipotireoidismo é uma doença provocada pela falta de T3 e T4, enquanto que hipertireoidismo é a doença provocada pelo seu excesso.

O funcionamento da tireoide e, consequentemente, a produção de T3 e T4 são controlados por outro hormônio, chamado TSH, produzido na glândula hipófise do cérebro, interessante é de que de forma bem simplificada, quando o organismo precisa acelerar seu metabolismo, o cérebro aumenta a liberação de TSH, que por sua vez estimula a tireoide a produzir T3 e T4. Por outro lado, se o corpo precisa desacelerar o metabolismo, a liberação de TSH cai e a tireoide passa a produzir menos T3 e T4,além disso de forma automática e inteligente, observamos de que a liberação de TSH é feita de forma bem controlada, de forma a manter a tireoide produzindo somente a quantidade de T3 e T4 necessárias, sem provocar excesso ou carência destes hormônios.

Cuidado: a compreensão deste mecanismo é essencial para se entender o que é o hipotireoidismo subclínico, portanto, se achou essa explicação muito confusa e precisa de mais informações, sugiramos uma pesquisa endócrina sobre detalhes da fisio-patologia dessa fabulosa glândula.

O que é hipotireoidismo subclínico?

No hipotireoidismo clássico, o paciente costuma ter níveis baixos de T3 e T4 e níveis elevados de TSH. Frequentemente, isso ocorre porque os pacientes possuem uma glândula tireoide doente, incapaz de produzir mais hormônios, mesmo que estimulada por níveis elevados de TSH, ou seja, por mais que a hipófise aumente a liberação de TSH, a tireoide mostra-se incapaz de responder a este hormônio; devemos portanto considerar com bastante certeza de que em boa parte destes pacientes a doença é progressiva, e com o passar do tempo, serão necessários níveis cada vez maiores de TSH para que a tireoide se mantenha funcionando adequadamente.

A doença progride até o ponto onde a glândula está tão doente que já não é mais capaz de produzir quantidades mínimas de hormônios, mesmo quando estimulada por níveis bem elevados de TSH, e é neste momento, que o paciente já não apresenta mais hipotireoidismo subclínico, mas sim hipotireoidismo franco.

O hipotireoidismo subclínico é uma espécie de “pré-hipotireoidismo”, uma fase anterior ao surgimento do hipotireoidismo franco, observamos então de que a tireoide, portanto está doente, mas ainda é capaz de produzir hormônios tireoidianos se estimulada por níveis elevados de TSH. Então, temos uma situação onde o paciente apresenta níveis de TSH acima do normal, mas seus níveis de T4 e T3 ainda estão normais (na prática clínica, só precisamos dosar os níveis sanguíneos de T4 livre )

Diversas pesquisas mundiais demonstram de que cerca de 5 a 10% da população é portadora de hipotireoidismo subclínico, sendo de que boa parte dela desconhece tal situação. O hipotireoidismo subclínico é mais comum em mulheres do que em homens, sendo que a incidência também é maior em brancos e em idosos. Frisando de que as causas são basicamente as mesmas do hipotireoidismo franco, frisando de que de todas as prováveis causas da doença a tireoidite de Hashimoto (ou autoimune ) é a principal.

Diagnóstico

O hipotireoidismo subclínico é um diagnóstico laboratorial, pois, uma vez que o paciente ainda tenha níveis normais de hormônios da tireoide, ele não apresenta nenhum (ou quase nenhum) sintoma.

Devemos sempre salientar de que o paciente com hipotireoidismo subclínico possui níveis normais de T4 livre e níveis elevados de TSH, em geral entre 5 e 10 mU/L (alguns locais usam 4,5 e 15 mU/L como limites). Habitualmente, quando o TSH já está muito acima de 10 mU/L, o paciente já não tem mais hipotireoidismo subclínico, pois o T4 livre costuma estar baixo e o paciente já apresenta sintomas de hipotireoidismo. Destacando de que o hipotireoidismo subclínico geralmente apresenta TSH elevado, mas nunca muito superior a 10 ou 15 mU/L.

Sintomas

É importante salientar que para ser considerado hipotireoidismo subclínico, o paciente não pode ter sintomas francos de hipotireoidismo.

No hipotireoidismo subclínico, os níveis de T4 livre são normais e o paciente apresenta, quando muito, apenas sintomas brandos e inespecíficos, como um leve cansaço, uma discreta falta de vontade para realizar tarefas ou uma pequena intolerância ao frio. Curiosamente observamos de que todos estes sintomas são comuns e podem ocorrer a qualquer um determinados momentos da vida, principalmente em períodos de estresse, excesso de trabalho, início de viroses, etc; Portanto, no hipotireoidismo subclínico não há sintomas clínicos relevantes que ajudem no diagnosticou seja o diagnóstico só pode ser feito com exames laboratoriais.

Progressão do hipotireoidismo subclínico para hipotireoidismo franco

Uma grande parte dos pacientes com hipotireoidismo subclínico, eventualmente, irão desenvolver hipotireoidismo franco. Estudos mostram que após 10 a 20 anos até 55% dos paciente com hipotireoidismo subclínico já terão evoluído para a forma completa da doença.

O risco de progressão está relacionado com a concentração inicial de TSH (pacientes com valores mais elevados de TSH, entre 12 e 15 mU/L possuem maior risco) e a presença de anticorpos contra a tireoide, como o anti-TPO. A doença de base também tem elevada influência no risco de evolução para hipotireoidismo franco, ou seja os pacientes com doença autoimune da tiroide, como tireoidite de Hashimoto, ou que tenham recebido radioiodoterapia ou radioterapia em altas doses tendem a evoluir para hipotireoidismo franco.

A recuperação espontânea/raramente também tem sido descrita em pacientes com hipotireoidismo subclínico, embora a frequência real desse fenômeno ainda não esteja totalmente esclarecida. Importante é que devemos considerar de que pacientes com critérios para hipotireoidismo subclínico, podem após alguns anos, apresentarem normalização dos exames laboratoriais sem que nenhum tratamento tenha sido estabelecido. Em geral, são pacientes com TSH persistentemente menor que 10 mU/L e com pesquisa negativa para anticorpos contra a tireoide.

Como boa parte dos pacientes com hipotireoidismo subclínico é assintomática, muitos deles podem desenvolver o problema, não tomar conhecimento, e após alguns anos curar-se misteriosamente/ espontaneamente ( ! ), novamente sem tomar ciência da situação. Estes casos, obviamente, não viram estatísticas, e são muito raros o que dificulta a determinação da real incidência da cura espontânea do hipotireoidismo subclínico.

Consequências

Apesar de não provocar sintomas e de, em alguns casos, desaparecer espontaneamente, o hipotireoidismo subclínico não parece ser um problema totalmente inócuo, interessante é que há vários estudos que sugerem uma relação entre hipotireoidismo subclínico e um maior risco de doenças cardiovasculares, como angina e infartos, principalmente nos pacientes com TSH maior que 10 mU/L,além disso pacientes com hipotireoidismo subclínica também costumam apresentar níveis de colesterol mais elevados que a população geral.

Tratamento

Além dos problemas cardiovasculares, os pacientes com hipotireoidismo subclínico, principalmente aqueles com TSH mais elevado, apresentam também maior risco de esteatose hepática.

A maior dúvida que nos deparamos ao diagnosticar um hipotireoidismo subclínico é quanto à necessidade ou não de iniciar tratamento com levotiroxina, a forma sintética do hormônio T4.

Interessante é de que na atualidade nenhum trabalho mostrou benefícios relevantes do uso de levotiroxina nos pacientes assintomáticos com TSH entre 4,5 e 10 mU/L.

Portanto o tratamento do hipotireoidismo subclínico nestes casos é bem controverso. Os que defendem o uso da levotiroxina argumentam que não há dados que demonstrem haver danos com a reposição do hormônio, além da possibilidade de melhora de sintomas não previamente reconhecidos, como cansaço e alterações discretas do humor. O consenso atual, porém, recomenda apenas a monitorização dos níveis de TSH a cada 6 a 12 meses neste grupo de pacientes, a não ser que o paciente tenha sintomas que possam ser facilmente atribuídos ao hipotireoidismo.

Em algumas situações, a decisão de não tratar não é tão simples. Isso inclui os pacientes com colesterol elevado, alto risco de doenças cardiovasculares ou com anticorpos positivos contra a tireoide. Mulheres que querem engravidar e não conseguem também podem apresentar melhora da fertilidade se tratadas com levotiroxina.

Nos pacientes com hipotireoidismo subclínico e TSH acima de 10 mU/L a controvérsia é bem menor. A maiorias das sociedades internacionais de endocrinologia recomendam o uso de levotiroxina nestes casos, pois o tratamento ajuda a prevenir a progressão para hipotireoidismo franco.

A dose da levotiroxina deve ser sempre a menor possível capaz de manter o TSH entre os valores de 0,5 e 2,5 mU/L nos pacientes jovens e 3 a 5 mU/L nos pacientes idosos.

Hipotireoidismo subclínico na gravidez

Durante a gravidez, a fisiologia dos hormônios da tireoide altera-se completamente, fazendo com que os valores normais de TSH sejam diferentes neste grupo. Durante o primeiro trimestre de gravidez, hipotiroidismo subclínico é definido como valores de T4 livre normais associados a um TSH acima de 2,5 mU/L. No segundo e no terceiro trimestre consideramos hipotiroidismo subclínico valores de TSH acima de 3 mU/L.

Como os hormônios tireoidianos são essenciais para o desenvolvimento neurológico do feto, o consenso atual é tratar todas as gestantes que tenham critérios para hipotireoidismo subclínico.

Portanto, procure sempre um endocrinologista se tiver um parente próximo com hipotireoidismo ou se apresentar algum dos sintomas que informamos no nosso texto.

Um excelente semana, com paz, saúde e amor.

NAMASTÊ!!!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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