NOMES DA MEDICINA DE SERGIPE

         A confecção do livro “Dicionário Biográfico de Médicos de Sergipe – séculos XIX e XX”,

Capa do Dicionário
produzido ao longo de quatro anos, não foi tarefa fácil. Recuperar os nomes de médicos perdidos nas trevas, porém, foi missão extremamente gratificante. As dificuldades para o levantamento de dados, que pareciam inicialmente intransponíveis, foram gradativamente sendo superadas. E as informações estarão agora à disposição de todos, em primeira edição, a partir de 15 de dezembro, quando ocorrerá seu lançamento oficial a partir das 17h30, na Sociedade Semear. O livro contém  um capítulo no final com verbetes incompletos,  na esperança de que sua leitura possa despertar a curiosidade e o interesse de pessoas que tenham maiores informações e que possam vir a contribuir para uma nova e futura edição.

Da obra memorável de Armindo Guaraná compusemos a base do Dicionário, que foi atualizado com as informações obtidas através de fontes documentais, pesquisa em  livros, jornais e publicações diversas, arquivos de cartórios e cemitérios, informações de familiares e registros do Conselho Regional de Medicina de Sergipe.

Procurando traçar uma linha do tempo da medicina de Sergipe, observamos que durante o período colonial não há registro de nenhum sergipano formado em Medicina, segundo observações de Antonio Samarone. Já na primeira metade do século XIX apenas cinco médicos residiam em Sergipe. O primeiro médico a se destacar na província de Sergipe D’el Rei foi  Manoel Joaquim Fernandes de Barros, alagoano de Penedo que se casou com uma sergipana e aqui veio morar, chegando a exercer a Presidência da Província. Os primeiros sergipanos diplomados em Medicina na Europa foram José de Barros  Pimentel, que se formou em Paris em 1841 e Manuel Antunes Sales, formado em Bruxelas, em 1844.  

Já o primeiro sergipano a formar-se em Medicina  foi Manoel Ladislau Aranha Dantas, em 1832, pela Faculdade de Medicina da Bahia. Dos lazaretos aos hospitais, na segunda metade do século XIX temos um incremento no número de médicos, alguns com destaque:  Joaquim José de Oliveira, que foi o nosso primeiro provedor de saúde, o que corresponde hoje ao cargo de secretário de saúde; Sabino Olegário Ludgero Pinho, divulgador da homeopatia no Nordeste e Tobias Rabelo Leite, introdutor do ensino de mudos no Brasil.

Com a Guerra do Paraguai (1864-1870), alguns médicos seguiram a carreira militar. Nas últimas duas décadas do século XIX o número de médicos já ultrapassava a centena. Ocorre um fenômeno curioso:  esses médicos começam a migrar para outros estados, principalmente São Paulo, em função do restrito campo de trabalho em Sergipe e do grande desenvolvimento econômico com número reduzido de médicos naquele estado. Três deles se notabilizaram: Ascendino Reis, Enjolras Vampré e Balthazar Vieira de Melo.  Ascendino e Vampré foram fundadores da Faculdade de Medicina de São Paulo e este último, além de ser considerado o fundador da moderna neurologia paulista, chegou a presidir a Associação Paulista de Medicina. Balthazar foi o fundador da higiene escolar em São Paulo.

Poderíamos citar outros:  Abreu Fialho, que se tornou vulto da oftalmologia mundial,  Antonio Dias de Barros, com destacada atuação também no Rio de Janeiro e  Rodrigues Dória, como professor da Faculdade de Medicina da Bahia e depois presidente de Sergipe. Alguns  tiveram maior destaque em outros campos do conhecimento, como é o caso de Manoel Bomfim, Felisbelo Freire e Silvério Fontes. Recorde-se que, em 1914, Augusto Leite realizou a primeira cirurgia abdominal (laparotomia) em Sergipe, no Hospital Santa Isabel. Até então só se realizavam cirurgias radicais tipo amputações. Doze anos após, em 1926, com a fundação do Hospital Cirurgia, o estado passou a contar, de fato, com um ambiente cirúrgico adequado. Além do “Cirurgia”, na mesma década, foi fundada a Casa Maternal Amélia Leite e o Instituto Parreiras Horta. Este período foi marcado pela forte liderança de Augusto Leite que perdurou até os anos 60, quando finalmente é fundada a Faculdade de Medicina de Sergipe por Antonio Garcia Filho.

A Faculdade de Medicina de Sergipe propiciou um extraordinário crescimento do número de médicos e estimulou a pesquisa, formando uma nova e destacada geração de professores e cientistas como Eduardo Garcia, nas ciências básicas e José Teles de Mendonça, na cirurgia especializada, este autor do primeiro transplante de coração do norte-nordeste do país. O próprio crescimento da Universidade Federal de Sergipe, com a ampliação do número de vagas para o pólo de Lagarto, a grande crescimento do Hospital Universitário, os programas de residência médica e de interiorização e a forte expansão da rede privada de assistência à saúde têm sido fatores preponderantes para o desenvolvimento da nossa medicina. Mais recentemente, o Ministério da Educação autorizou o início de funcionamento da Faculdade de Medicina da Universidade Tiradentes.

           Na década de 50, outro fenômeno também ficou evidente, no período que considero como a “fase de ouro” da Medicina de Sergipe, que vai de 1926, com a fundação do Hospital Cirurgia, a 1961, com a chegada da Faculdade de Medicina, que foi o grande desenvolvimento das ações de saúde pública com os trabalhos do Departamento Nacional de Endemias Rurais – DNERU, da Fundação Serviço Especial de Saúde Pública – SESP e da Superintendência de Campanhas – SUCAM. Esses três organismos propiciaram uma expressiva vinda de médicos de outros estados para atuar em Sergipe.

A partir da década de 70 entramos em pleno desenvolvimento tecnológico e científico, com a ascensão da rede privada, a exemplo da Clínica e Hospital São Lucas, comandado por José Augusto Barreto, fundada em 1969, da Clínica de Medicina Preventiva em Pediatria dos doutores Paulo Carvalho e Jacy Meireles Carvalho, da Clínica Psiquiátrica Santa Maria, de Hercílio Cruz, da Clínica Santa Helena e da Clínica São Domingos Sávio, dos irmãos Hugo e Hyder Gurgel respectivamente, da Clínica São Marcello, de José Hamilton Maciel, da Clínica dos Acidentados, de Jose Olino, Tonico Guedes e Adelino Carvalho, da Clinica de Medicina Nuclear, de João Macedo, do Hospital do Coração, de José Teles de Mendonça, Maria Helena Garcia, Ana Luiza Vahle, entre outros e, mais recentemente,  do Grupo Primavera, do médico e empresário Wagner Bravo de Oliveira, iniciado com a Clínica Diagnose e o sistema Policlin, de diagnose e tratamento, que instalou em Sergipe o primeiro aparelho de Ressonância Nuclear Magnética. Outras clínicas tiveram crescimento expressivo, como a Uniclínica, de Jailson Santana, a Homo, de Adelson Chagas e Carlos Alberto Santiago e a Cemise, de Ildete e George Caldas.

A história se faz com fatos, com homens e mulheres. Seus nomes passarão agora, com a publicação do Dicionário Biográfico, para a perenidade. Sergipanos daqui e de fora, realizadores, uns mais, outros nem tanto, com vida longa ou breve passagem, contam a história da Medicina de Sergipe. A eles, o nosso tributo.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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