A cobrança do Shopping.

Os Shoppings Center Riomar e Jardins resolveram cobrar pelo estacionamento de automóveis. Temos, desde segunda-feira passada que dispender R$4,00 se para ali nos deslocarmos de automóvel para fazer uma compra ou serviço.

A cobrança está a soar antipaticíssima!

Por que os shoppings precisariam desta cobrança, espécie de taxa, que por obrigatória, se faz um verdadeiro imposto, entre tantos que pagamos para sobreviver?

A resposta não interessa. A direção dos shoppings tem as suas razões para se remunerar a bom ou mal contento.

Descontente restou o usuário do Riomar e do Jardins, que limitados nos seus ganhos, ampliou suas despesas, alguém perdendo no caminho.

Os estatistas em amplos descaminhos ficaram revoltados, desde a instalação das máquinas e cancelas eletrônicas de cobranças. Chegaram mesmo a tentar invalidar a exigência mediante lei aprovada em unanimidade e sancionada pela Prefeitura. Algo que evidenciou não só a própria isenção de culpas, como o eterno saudosismo do estatismo, que sempre persiste no amplo solfejar socialista.

Socialistas de vários matizes, do rosa enfadado ao azul da Prússia, quiseram reformular os contratos, impondo restrições de uso de solo particular, como se fora seu. E o resultado foi a desmoralização da lei, senão tola, inócua.

O poder público, que não consegue gerir aquilo da sua pertença, tenta reformular a sentença para alterar a licença concedida e autorizada. E a cobrança do estacionamento passou a soar como algo estúpido, impensado.

Até uma passeata aconteceu com gritos e barulhos, em refrão galhofeiro: “Não pago! Não pagaria! Espaço público não é mercadoria!”

E a galhofa ressuda patifaria, porque aquele espaço não é público. Ele é frequentado pelo público, mas tem dono. É uma propriedade particular, privativa para uso e beneficiamento. Algo que foi bem vindo e almejado por geração de riqueza e oportunidades de serviços. Espaço que foi pavimentado, drenado e bem cuidado. E que se tornou aprazível e confortável a atrair compradores e visitantes. E se não havia cobranças de estacionamento, tratava-se de mera cortesia, jamais um impedimento, uma obrigatoriedade.

Aliás, é bom que se reafirme que o poder público não tem bem gerido os seus espaços. Que o diga a invasão de flanelinhas, de tomadores de conta e “pastoradores” de carro, que proliferam como vírus incontroláveis, em meio à vadiagem e marginalidade, com a apropriação de um espaço por invasão para extorsão.

Ou não é assim por toda a cidade, cortada e recortada em muitos donos, nos semáforos e em todos os estacionamentos públicos?

O problema é que o poder público, tão feliz em ver aumentadas as vendas de automóveis, não consegue solucionar os problemas inerentes a um tráfego moroso e caótico, e que se faz cada vez pior, sem garagens nem vagas de estacionamento nos condomínios erigidos.

Houve um tempo em que as residências possuíam um carro somente. Um tempo menos veloz e mais pacífico que enseja saudade. Vinte, trinta anos passados, a construção de um edifício de apartamento confortável ofertava apenas uma vaga de garagem. Era um luxo!

Era algo tão impensável que nos últimos trinta ou quarenta anos, no centro da cidade, por exemplo, não foi construído um único edifício garagem. O único que aconteceu, e se revelou bem rápido insuficiente, foi o edifício Oviedo Teixeira; uma prediação destinada a serviços e que possui algumas dezenas de garagens, em número insuficiente para a sua própria necessidade.

À parte isso o poder público loteou as parcas vagas disponíveis para estacionamento, criando um parquímetro que funcionou como uma espécie de assepsia de isolamento de campo.

E no lugar de fertilizar e desenvolver o comércio central, esterilizou-o, inoculando-lhe uma morte anunciada, com o parquímetro estimulando uma cobrança dupla: uma formal e passível de multa, e a outra por informalidade, ubíqua e incontrolável, dos flanelinhas em reprodução cunicular.

Afora isso, por excesso de sede ao pote do concessionário, e imprevidência da gestão pública concedente, aqueles parquímetros que seriam bem recebidos se fossem restritos a uma área menor, por mais urgência, foram implantados muito adiante, estendendo a área de cobranças em demasia, bem além das residenciais ruas de Lagarto e Santa Luzia, indo mais ao longe pelas avenidas da zona norte.

E o final foi previsível, sem falar das denúncias gravosas de credências maliciosas, afinal a coisa restou bem mais danosa para as vendas em geral, porque os lojistas e seus funcionários também possuidores de automóveis, passaram a estacioná-los no entorno deste limite, resultando um centro comercial vazio, como se fora um quadrilátero oco, descerebrado.

Hoje, todos o sabemos que o número de carros aumentou, bem além das vagas de garagem criadas. Há um verdadeiro caos, com número crescente de espaços privativos à custa daquele de uso público.

Se antes era possível o estacionamento público onde não existiam entradas e garagens, as construções passaram a ocupar como espaços próprios, abusando para sua exclusividade aquilo que antes era de todos. E a vaga, que seria do visitante, virou de uso exclusivo do cliente em compras. Tudo com o beneplácito do poder público que não ousa regulamentar o uso dos seus espaços.

Veja-se, por exemplo, a incipiência de estacionamentos no nosso aeroporto. Se alguém quiser embarcar ou receber alguém tem que ir de taxi ou pagar estacionamento, porque naquele entorno, o espaço é público, mas foi cedido como sinecura à fartura de alguém. Idem, ibidem ao estacionamento da rodoviária que cobra até no fedido mictório.

Falar em mictório, quem visita Paris, sabe que qualquer mijador privado é utilizável pelo público em geral, mediante o custo de E$1,00, hoje se aproximando dos três reais.

Quanto ao Shopping Center, felicitemo-nos porque ainda podemos usar o seu cagadouro, em bom perfume e limpeza, sem dispender qualquer custo, coisa que não acontece no terminal rodoviário estadual.

De modo que não há nada a fazer. Apitaços e até queimas de pneus só estimulam a desordem, o esbulho, à enganação.

Se o pagamento da taxa do shopping nos abusa, e ela me ofende também, mudemos nossos hábitos; somemo-nos ao boicote, adiramo-nos a esta luta inglória.

Se tivéssemos real capacidade de luta cívica, ó coisa inútil, o povo unido jamais seria espoliado; tudo sem grito nem zoada!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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