O estudo Os Ricos no Brasil, que envolveu 16 especialistas e foi organizado pelo economista Marcio Pochmann mostra que os 10% mais endinheirados têm nas mãos 75,4% da riqueza nacional e que a renda dos 10% mais ricos corresponde a 45,3% do PIB brasileiro.
O trabalho de Pochmann vai além dos dados divulgados pelo IBGE sobre desigualdade social, nos quais se considera apenas a população com renda monetária. Há no Brasil 4,1 milhões de pessoas sem renda monetária, que não entram no cálculo do IBGE. Não conta, também, com o rendimento obtido por meio de ações e títulos públicos.
Os ricos no Brasil são, na grande maioria, altos dirigentes do setor privado, atuam principalmente no setor de serviços e encontram-se nas capitais das unidades federativas, encravados em bairros nobres.
São Paulo conquistou o centro nevrálgico da América Latina. A cidade paulistana é prova de como as elites adaptam-se às mudanças econômicas sem que seu status seja alterado. Dona do principal pólo fabril do País, as riquezas não saíram da cidade ainda que o setor industrial como um todo perdesse força relativa na economia nacional nos últimos anos. A pujança das indústrias foi substituída pela dos bancos e São Paulo acabou engolindo outras praças financeiras que até a década de 80 tinha o seu destaque, na cidade do Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Em São Paulo, meca da ciranda financeira, a renda mensal das 76.738 famílias mais ricas é de R$ 36,6 mil, mais que o dobro da renda média dos 1% mais ricos do Brasil (R$ 14,6 mil). No Jardim Europa (distrito do Jardim Paulista, o bairro mais rico da cidade) encontra-se o segundo metro quadrado mais caro do Brasil: R$ 6,5 mil. Só perde para o metro quadrado de Ipanema: R$ 10,0 mil.
A cidade ostenta a maior frota urbana de helicópteros do mundo e maior da Ferrari, carro que custa quase R$ 1,5 milhão. O estudo cita ainda que uma Ferrari 550 Maranello é importada por US$ 480 mil, o que financiaria um ano de Bolsa-Família para 2.400 famílias brasileiras. Mais um exemplo das absurdas discrepâncias nacionais: O assalariado-mínimo, que ganha R$ 350,00 mensais, precisaria trabalhar 714 anos e guardar todo o seu dinheiro se quisesse comprar por R$ 3 milhões a maior e mais luxuosa lancha fabricada no Brasil, a Intermarine 740 Full.
As famílias ricas destinam 23,1% (dados de 1996), ou quase um quarto de sua renda aos investimentos. A título de comparação, as famílias pobres conseguem destinar ao aumento do ativo no máximo 4,5% de suas rendas.
O economista lembra que nunca vivemos democracia com crescimento e com igualdade de oportunidades para toda a população. Ainda que a violência seja uma forma de expressão e das piores, o Brasil, um país sem reformas, mas em guerra civil, como atestam os índices de criminalidades e o movimento da PCC, nunca assistiu a uma rebelião organizada das massas excluídas para demonstrar sua insatisfação.
A falta de informação gera um quadro de acomodação para essas massas excluídas. Outra causa é a ausência da tradição democrática. “Um país com 500 anos não viveu 50 anos de democracia, ou seja, nem 10% de sua história”. Outra causa ainda é a existência de uma relação das pessoas prestadoras de serviços com o rico.
Fatores midiáticos reforçam a exclusão. A publicidade que enaltece os valores de consumo, a novela da Globo que cristaliza as diferenças entre as classes sociais e o jornalismo que nem sempre aborda o assunto como deveria , até porque como diz André Campos, sociólogo e um dos co-autores da obra, é controlado pelas mesmas famílias que ocupam o topo da pirâmide.
Este quadro pode ser mudado?
Segundo Marcio Pochmann, pela via da reforma e não da revolução, a principal experiência histórica que temos no mundo é a social-democracia, que amplia a presença do Estado com a finalidade de aumentar a tributação dos ricos e reduzir a dos pobres e que distribui os recursos em aparato públicos (educação, saúde, segurança…), em programas de garantia de renda e em aposentadorias.
Pochmann afirma ainda que é necessária uma combinação de três fatores para que esse movimento ocorra: Grau de organização da sociedade, cultura democrática e Estado com capacidade de fazer cumprir a lei. “Se houver vontade, em três décadas o Brasil tem condições de ajustar esse grande problema”. (MSN Messenger)
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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