A cultura da desobediência

Peguei um táxi e, quando ia colocando o cinto de segurança o motorista, um senhor muito gentil, por sinal, certamente, pensando em ser agradável, disse: “não necessita usar não, por onde vamos, não encontraremos nenhuma blitz”. ,

Deu-me vontade de dizer-lhe que não uso o cinto de segurança apenas para me resguardar de uma blitz ou uma multa, mas para minha segurança.

Preferi ficar calado, entendendo perfeitamente o que ele tentou dizer.

Na sua concepção o uso do cinto é, além de “desconfortável”, apenas um capricho destes que fazem as leis.

Mas, sabemos que não é assim. O uso deste equipamento de segurança não deve ser feito apenas para dar satisfação ao guarda ou somente para evitar uma multa – o que, por sinal, não está sequer havendo. Ninguém está fiscalizando esta irregularidade. – Ele serve para nos dar segurança e salvar vidas.

É claro que não fui explicar-lhe isso, nem que as leis são elaboradas a partir das necessidades de um povo e servem para disciplinar o relacionamento do homem com ele mesmo, com a natureza e com as coisas que o cercam.

Não. Não expliquei nada. Achei melhor calar. Fiquei apenas com mais uma constatação de que esta, infelizmente, é a forma mais expressiva e genuína da nossa cultura: a desobediência velada às normas estatuídas.

No geral parece que não temos nenhuma boa vontade de cumprir as regras. Aliás, parece que existe uma satisfação oculta em desobedecê-las, não importa a sua importância ou utilidade.

Ao que parece, estamos sempre procurando uma fórmula para transgredir. Andamos muito apressados para parar no sinal amarelo, na faixa de pedestre e obedecer às sinalizações.

O sinal quando sai do verde para o amarelo quer dizer: “atenção pare”. A ordem é para parar, e não para passar, mas todos leem como: “atenção passe”.

A faixa de pedestre também é para que o condutor pare o seu veículo, se houver alguém passando ou demonstrando que vai passar, mas a leitura feita pelos motoristas é outra: a preferência é minha.

Todas as sinalizações existentes, representadas por placas, faixas e semáforos e outros são, na verdade, a figura do Estado dizendo: aqui você tem que seguir estas ordens. Portanto, desnecessárias seriam blitz, Agentes de Trânsito  para nos fazer usar o cinto de segurança, parar nas faixas de pedestres e no sinal amarelo.

Esta falta de respeito faz com que o Estado, buscando dar efetividade às suas leis, crie verdadeiros obstáculos como os famosos quebra-molas ou lombadas que, todos sabemos, não quebram somente as molas, quebram o carro e, às vezes, os seus ocupantes.

Cria também outros artifícios como as “lombadas eletrônicas”, os radares e uma infinidade de surpresas que, sabemos, mexem na parte mais sensível do corpo humano: o bolso.

Esses redutores de velocidade, que tanto desconforto e prejuízos causam são usados porque a simples sinalização não é suficientemente observada e obedecida. Se fosse, não seria necessário criar mais estas punições.

Porém, lamentavelmente, é assim que funciona: desrespeitou, aumenta-se o nível de punição até chegar-se aos extremos de privação da liberdade.

Tudo isso, pelo mau uso do direito que temos, da liberdade que nos é dada.

Não usamos com razoabilidade o direito, mesmo com a presença do Estado, avisando e determinando através dos mais variados sistemas de sinais, o que deve ser feito ou evitado.

Nós infelizmente, não obedecemos e somente diante de um obstáculo físico que realmente pare as nossas indisciplinas é que compulsoriamente aceitamos e, às vezes, nos acidentamos.

Ah! Agora, eu entendo o que falou um cearense, amigo meu, que mora há mais de 30 anos no Rio de Janeiro; quando eu tentava atravessar uma rua e um carro avançou o sinal e quase me atropelou.

“Aqui no Rio não se respeita o sinal vermelho?” Indaguei.

“Que nada, rapaz, os motoristas daqui só obedecem a um sinal: o de um fuzil “AR 15”, este eles obedecem, mas, sinal de trânsito, ninguém respeita não. Te cuida, senão eles te pegam”.

Que pena predominar entre nós esta cultura malévola que nenhum benefício traz para nós mesmos nem para os que nos sucederão.

 

FELIZ FIM DE SEMANA.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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