Posto à prova mais uma vez, o prestígio do governador Marcelo Déda no Planalto se confirmou com a vinda do presidente Lula e grande troupe para participar do Fórum dos Governadores do Nordeste, na sexta-feira, e, de quebra, inaugurar na véspera o viaduto do DIA. Imagine um presidente da República e seus ministros comparecerem à inauguração de um viaduto. Só mesmo estando numa província, só mesmo em ano eleitoral, mas, e principalmente, só mesmo sendo compadre de um dos beneficiários da obra.
Pois o presidente veio, vendeu seu peixe e saiu daqui levando dividendos políticos. Pediu compreensão sobre o projeto de transposição do São Francisco — pedido reforçado com a liberação de R$ 67,5 milhões para a revitalização do rio em Sergipe e Alagoas —, conseguiu apoio integral dos nove governadores da região para o Programa Territórios da Cidadania e que eles fechassem questão em torno do projeto de reforma tributária, criou uma polêmica de proporção nacional ao criticar o Judiciário pelas ingerências em assuntos políticos e — como não poderia deixar de ser — divertiu-se a valer, fazendo pilhéria até com o compadre Déda, a quem apelidou de “Fidelito do Nordeste”, por causa da mania oratória.
O governador não economizou palavras nem durante um evento que atrasou e entrou noite fria adentro, em meio ao maior pé d’água.
Mas se Lula foi a estrela dessa demorada estada em Sergipe, embora de apenas 18 horas, e Marcelo Déda foi quem mostrou musculatura política, o grande beneficiário mesmo foi o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, que conseguiu transformar a inauguração da sua maior obra física num evento extraordinário. Como se diz no popular, faturou eleitoralmente — tendo o cuidado de não ferir a legislação. Para quem hoje vive em função de se reeleger prefeito, a noite de quinta-feira foi memorável e impagável.
Não por outro motivo, modestamente admitiu que foi o segundo dia mais feliz da vida dele, depois do nascimento do filho Maurício, hoje com 21 anos de idade. “O meu filho perpetua o meu gene e o viaduto Carvalho Déda consolida o meu projeto político-administrativo”, admite o prefeito, considerando abertamente que aquele momento consolidou a sua candidatura. “Lula deu mais uma demonstração do carinho que ele tem por Aracaju, por Marcelo Déda e por mim”, agradece.
Para Edvaldo Nogueira há um fato inédito ocorrendo em Aracaju, que é a aliança PT-PCdoB que dá certo. “O que tem acontecido é a comprovação de que o projeto político-administrativo iniciado por Marcelo Déda e seguido por mim é sólido. Agora que o setor majoritário do PT confirma o apoio à minha candidatura, indicando o candidato a vice-prefeito, tudo se encaixa. Para mim, esse momento é de uma felicidade rara”, reconhece, sem disfarçar o entusiasmo.
Assim, Déda, o intrépido orador, e Edvaldo, o pisa-mansinho, vão homogeneizando suas igualdades, sobrepujando suas diferenças e fazendo sucesso. Um canta, o outro toca e a coligação toda aplaude.
“Folha” teria inventado declaração de Mello
O jornalista Paulo Henrique Amorim escreve no seu blog, intitulado “Conversa afiada”, que o jornalão Folha de S. Paulo teria inventado a declaração do ministro do STF e presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, que provocou a reação raivosa de Lula
“Um título da Folha, na edição de terça-feira, dia 26, disse o seguinte: ‘Projeto pode ser contestado, diz Marco Aurélio’. O texto diz assim: ‘O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Marco Aurélio Mello, disse ontem que o lançamento do Territórios da Cidadania em ano eleitoral poderá ser contestado judicialmente’. O Conversa Afiada pediu ao Ministro (?) Mello para confirmar a declaração que a Folha lhe atribuiu: o programa Territórios da Cidadania pode cair no Supremo. Veja a resposta do Ministro (?) Mello, repassada ao Conversa Afiada por seu assessor de imprensa Renato Parente:‘O Ministro Marco Aurélio Mello não comentou sobre o programa Territórios da Cidadania’. Logo, a Folha inventou uma declaração do Ministro (?) Mello. O título da Folha e o silêncio de Mello, que não corrigiu a Folha imediatamente, provocaram uma falsa crise institucional: uma crise entre o Judiciário e o Executivo”.
O que existe de fato é que o Democratas (DEM) e o PSDB ajuizaram, na terça-feira (26), Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4032), com pedido de liminar, no Supremo Tribunal Federal (STF), para inicialmente obter a suspensão e, posteriormente, a declaração de inconstitucionalidade do decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que criou o Programa Territórios da Cidadania.
O decreto do governo cria um programa de desenvolvimento territorial sustentável a ser executado de forma integrada pelos diversos órgãos do governo federal responsáveis pela execução de ações voltadas à melhoria das condições de vida, de acesso a bens e serviços públicos e a oportunidades de inclusão social e econômica às populações que vivem no interior do País.
Prevê, entre outros, o investimento, em 2008, de R$ 11,3 bilhões em 137 ações coordenadas entre 19 ministérios em 60 áreas mais carentes do País, abrangendo 137 municípios com uma população de 23,9 milhões de habitantes.
Segundo os dois partidos de oposição ao governo, os termos do decreto “colidem frontalmente com preceitos basilares da Constituição Brasileira” e, por isso, o decreto “não deve prosperar”. Resta saber até que ponto a pendenga entre Lula e Marco Aurélio vai interferir no julgamento.