A economia brasileira em direção ao muro

A Carta desta Semana traz um artigo de Luiz Carlos Mendonça de Barros, publicado na Folha de São Paulo, no dia 16/04/2010: 

A aceleração do crescimento econômico no Brasil começa a me assustar. Com base nos dados do primeiro trimestre deste ano um grupo de analistas já fala em um crescimento do PIB de mais de 7% em 2010. Nós, na Quest Investimentos, ainda não chegamos a tal, talvez porque meus colegas sejam mais cautelosos do que eu…

O crescimento da demanda interna pode ficar próximo a 10% em 2010. As importações respondem por esta diferença entre PIB e a chamada absorção interna. Mas elas acomodam a demanda aquecida apenas no grupo dos chamados bens tradables, isto é, aqueles que podem ser comprados em outros países. A maior parte da oferta na economia brasileira é constituída por bens e serviços que não podem ser importados. O mais importante deles é o mercado de trabalho, e nele é que está a componente mais ameaçadora que vejo para frente. Também a infraestrutura econômica não está preparada para acomodar tal crescimento econômico. Afinal, são quase oito anos sem investimentos federais relevantes.

Poderemos chegar ao fim deste ano com uma taxa de desemprego da ordem de 6%, mantido o crescimento atual da geração de postos de trabalho. Em março o número de empregos formais cresceu 266.000, número muito forte para o mês. O ministro do Trabalho, encantado com o próprio sucesso, disse ontem que este número deve se repetir em abril. Dada a composição da oferta de mão de obra no Brasil, a desocupação ainda elevada esconde uma situação de escassez nas faixas profissionais mais qualificadas.

A pressão sobre os salários deste segmento dos trabalhadores já está ocorrendo e deve  acelerar. Na construção civil, um dos pontos mais aquecidos da economia, os salários já estão crescendo a mais de 10% ao ano. Mas outros sinais também alertam o analista mais cuidadoso. São evidências de instabilidade grave. Dou um exemplo: a produção de caminhões da Mercedes Benz brasileira em março foi o dobro da matriz na Alemanha. Mesmo com a crise na Alemanha este número é um aleijão para mim.

Minha experiência profissional diz que estamos entrando em um daqueles momentos em que a euforia do brasileiro – aqui incluído trabalhadores, empresários e governo – vai nos levar a bater no muro das restrições econômicas. E a inflação é o problema mais grave que vamos enfrentar. Não me surpreenderia se, em poucos meses, estivermos falando de uma taxa de inflação 12 meses à frente superior a 6% ao ano.

O governo – que teve atuação exemplar durante a curta crise que vivemos – entrou agora na defesa de uma macroeconomia keynesiana utópica e muito perigosa. Segundo a equipe econômica os investimentos privados estão acontecendo e devem assegurar o equilíbrio entre oferta e demanda. São os eternos canarinhos que voam no universo dos economistas brasileiros. Já vi este filme no passado e posso assegurar ao leitor que o final será triste.

Por outro lado, a dinâmica eleitoral esta criando uma onda de benesses que apenas agrava o quadro de super aquecimento. Contabilizem os aumentos de gastos que estão saindo do Congresso nestes últimos meses e façam as contas. Isto joga mais lenha na fogueira da demanda privada.

Para tentar esfriar o entusiasmo de todos parece restar apenas a atuação do Banco Central. Mas trazer de volta o senso do real nesta altura do campeonato apenas com juros mais elevados será uma tarefa difícil e com prazo longo de maturação.

 

 

 
 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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