Faleceu em Salvador no último dia 30 de julho, aos 81 anos, o renomado médico baiano Geraldo Milton da Silveira, professor titular da disciplina de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, há anos aposentado das lides universitárias. GERALDO MILTON DA SILVEIRA NO AUDITÓRIO DA SOMESE EM 1995 (Foto: arquivo ASM)
De temperamento afirmativo e rígido defensor das suas teses e princípios, Geraldo esteve, ao longo de sua vida, sempre à frente das lutas e iniciativas das entidades médicas associativas, científicas e culturais da Bahia. Presidiu a Federação Brasileira de Gastroenterologia e a Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina, comandou com brilhantismo o congresso da entidade
Mas o que eu gostaria de chamar a atenção é para a sua relação com a Medicina de Sergipe. Ele notabilizou-se como um dos principais artífices para a fundação da Academia Sergipana de Medicina, fornecendo a Gileno da Silveira Lima, seu primo e fraternal amigo, todas as informações necessárias para o processo de sua fundação.
Na sessão festiva de sua instalação, em 9 de dezembro de 1994, como presidente da Academia de Medicina da Bahia, proferiu importante discurso de saudação aos seus confrades sergipanos, chefiando ainda expressiva delegação de médicos baianos que compareceu ao evento, com destaques para os doutores Thomaz Rodrigues Porto da Cruz, filho ilustre da terra de Tobias Barreto, Alberto Serravalle, diretor da Biblioteca, José Ramos de Queiroz, um dos fundadores da co-irmã baiana e a Professora Maria Tereza de Medeiros, professora de Medicina Legal da Universidade Federal da Bahia.
No seu discurso Geraldo discorreu sobre a grande satisfação em estar naquele momento testemunhando o nascimento de mais uma nova academia de Medicina e sobretudo a sergipana, para a qual deu todo o seu apoio e entusiasmo.
Um ano após, retornou para as comemorações do primeiro aniversário, assim se repetindo por ocasião dos 5 anos de fundação e finalmente há pouco mais de um ano, quando da sessão comemorativa aos 10 anos da nossa Academia, em dezembro de 2004, quando aqui esteve pela quarta e última vez, liderando mais uma outra delegação de notáveis baianos que veio a Sergipe prestigiar a festa de sua co-irmã. Por tudo que fez pela criação e desenvolvimento da nossa Academia, Geraldo Milton da Silveira foi distinguido com o título de Sócio Emérito.
Estivemos juntos, eu e Eduardo Garcia, na época presidente da ASM, no X Conclave das Academias de Medicina, ocorrido em Recife em 2004, onde Geraldo proferiu palestra, sempre com a mesma altivez e determinação na defesa do patrimônio médico nacional, representado pela Faculdade de Medicina da Bahia, primaz do Brasil, que em 2008 comemorará dois séculos de fundação.
Geraldo Milton da Silveira deixa viúva a Sra. Lígia Milton, destacada artista plástica baiana, com trabalhos expostos em diversas galerias de arte baianas, brasileiras e até internacionais.
Com o passamento de Geraldo Milton da Silveira, a questão da imortalidade volta à tona, não compreendida por alguns. Ela se traduz pela preservação e divulgação de feitos, trabalhos e pesquisas dos que nos antecederam, concretizando-se assim o pensamento de Alex Carrel ou, de certa forma, o trabalho desenvolvido pelos monges de Salermo. A preservação da história, cujo entendimento e maior significado vem sendo melhor aceito e exercitado no Brasil de hoje, sobretudo através das academias e dos acadêmicos que absorveram tal proceder, e o exercem em outros setores de suas atividades, mantém acesa a chama da memória e o sentido da verdadeira imortalidade do pensamento, da idéia. A preservação da memória de um povo é o seu próprio retrato e o caminho para o entendimento de suas mutações. A história distorcida se nos afigura como uma grande fraude, a sua perda, como crime irreparável. As academias procuram evitar que tais danos se concretizem. A imortalidade concebida por esta visão, nos distingue e engrandece.
O exemplo de vida de Geraldo Milton da Silveira permanecerá sempre presente para todos os que tiveram o privilégio de conhecê-lo e para os mais jovens, um caminho a ser seguido, mantendo-se assim a “cadeia sucessória” de conhecimentos.