Liliane Costa Andrade
Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal de Sergipe (GET/UFS/CNPq)
Orientador: Dr. Dilton C. S. Maynard (DHI/ProfHistória/UFS – PPGHC/UFRJ)
E-mail: liliane@getempo.org
Dois dias após o começo da invasão das tropas nazistas à Polônia, em 01 de setembro de 1939, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha; o que deu início ao maior conflito do século XX, a II Guerra Mundial (1939-1945). Dentre a série de batalhas ocorridas ao longo desses anos, uma foi especialmente marcante: a Batalha da França.
Ocorrida entre maio e junho de 1940, essa batalha culminou na derrota da França e na ocupação dos nazistas no país. Menos de um ano antes da deflagração do conflito, uma das principais potências do bloco Aliado caíra, e de forma humilhante. O despreparo das tropas francesas, que insistiram em adotar as táticas de guerra empregadas na I Guerra Mundial (1914-1918), influenciou diretamente na rápida derrocada. Diferente desta, a II Guerra foi marcada pelo emprego de ataques rápidos e de surpresa, o que dificultava a organização defensiva do inimigo. No dia 21 de junho de 1940, no mesmo vagão de trem em que os alemães assinaram sua rendição no primeiro conflito mundial, Hitler apresentava os termos do armistício, aceito pelo governo francês. Os nazistas oficializavam, assim, sua conquista à França.
Dois dias depois, em 23 de junho, o Fuhrer fazia sua primeira e única visita a Paris, capital francesa. Na ocasião, ordenou a destruição de dois monumentos comemorativos da I Guerra; mas poupou a cidade. Como consta na obra A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo em conversa com Albert Speer, arquiteto-chefe do Terceiro Reich, o ditador afirmara: “Não é verdade que Paris é bela? Pois Berlim deverá tornar-se ainda mais bela. No passado, perguntei-me muitas vezes se precisaria ou não destruir Paris. Porém, quando terminarmos nossa obra em Berlim, Paris não passará de uma sombra. Para que destruí-la então?”
Certamente, a invasão dos nazistas à França foi um golpe duro aos Aliados; vale ressaltar que naquele momento os Estados Unidos ainda não estavam envolvidos diretamente no conflito, o que só ocorreu em dezembro de 1941. Mas, além dos prejuízos em termos estratégicos, tendo em vista que a França e a Grã-Bretanha representavam, até então, as principais potências na luta contra o Eixo, a derrota tão rápida dos franceses abalou o moral daquele povo.
Movido pelo questionamento do motivo que levou à queda do seu país da II Guerra, o historiador Marc Bloch (1886-1944) escreveu um testemunho, que viria a ser publicado, em 1946, em forma de livro: Strange Defeat (A Estranha Derrota). Professor universitário, Bloch decidiu servir ao Exército francês como Capitão, mesmo não sendo obrigado. Após a derrota da França, atuou no movimento de resistência francesa, sendo fuzilado pela Gestapo em 1944.
Produzido no “calor do momento”, o texto de Bloch está divido em três partes: Apresentação do testemunho; O depoimento de um vencido; e Exame de consciência de um francês. O escrito do historiador, do militar e do cidadão francês tornou-se um dos principais trabalhos sobre a queda da França na II Guerra Mundial.
Uma outra obra produzida no período e que focava na invasão nazista à França foi o filme Joan of Paris (Joana de Paris/E as luzes brilharão outra vez). Confeccionada pela R.K.O Radio Pictures, a película traz um retrato do drama vivido pelos franceses diante da ocupação dos nazistas. Tendo como protagonista a atriz francesa Michele Morgan, o longa-metragem foi lançado em 20 de janeiro de 1942, meses após a derrota da França, e é mais um dos filmes antinazistas produzidos por Hollywood durante a guerra.
Além de possuírem em comum o fato de abordarem a invasão da França na II Guerra Mundial, A Estranha Derrota e Joana de Paris são exemplos de obras sobre o tempo presente. Se o filme, conforme ressaltado por diferentes autores, sempre fala sobre o tempo em que foi produzido, a obra de Bloch também é um exemplo concreto acerca da possibilidade de se produzir conhecimento histórico sobre o presente. Para além disso, as duas produções apresentam-se como recursos, cada uma conforme as suas particularidades, para sabermos um pouco mais sobre esse evento que marcou a II Guerra Mundial.
Para saber mais:
GILBERT, Martin. A Batalha da França. In: A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. 1ª ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 115-137.
O texto integra atividades do projeto “O Pearl Harbor brasileiro: o cotidiano de Sergipe na Segunda Guerra (1942-1945)”, apoiado pelo CNPq através do Edital Universal 2018.