Lisboa, 26 de feverereiro de 2005
Caros amigos de Sergipe:
Soube que na última segunda-feira uma importante expedição cultural saiu daí da terrinha rumo à Brasília, à guisa de discutir os destinos da cultura popular do país de Jararaca e Ratinho.
Os intrépidos homens das artes aventuraram-se em plena BR 101 numa vetusta marinete cedida pelo governo ‘federá’, cujo banheiro, de fato, exalava um cheiro digamos, não muito agradável (daí o ‘federá’!).
Mas mesmo assim os rapazes acharam acertada a escolha do veículo. Argumentaram que em se tratando de cultura popular, nada melhor do que viajar de buzu pelo interior deste exótico país tropical, parando nas feiras e beiras de estrada, a fim de conhecer de perto a bucólica realidade nacional. Deveriam ter levado a Zenóbia!
Entre os desbravadores que encararam voluntariamente as 30 horas de viagem, estavam artesãos, doceiras, hip-hopers, sanfoneiros, mestres de grupos folclóricos, além dos anciãos Pascoal Maynard, João Paulo Neto e Mosquito, o que –convenhamos- deve ter tornado a viagem ainda mais preocupante, afinal os mosquitos são uma verdadeira praga ‘nêfe paíf” como diria o presidente Lula..
É verdade que os três levaram as suas caixinhas de remédios, mas soube por exemplo, que em dado momento lá pela altura do entroncamento de Vitória da Conquista ou Jequié, o Pascoalito foi vítima de forte desarranjo intestinal motivado pelo consumo excessivo de vários nacos de carne de bode, que lhe foram oferecidos pelo mestre Sabau.
O ‘jovem’ Antonio Amaral tratou logo de fazer uma reunião extraordinária em pleno ônibus, onde ficou decidido que a próxima vítima de diarréias, azias e outros males desses que provocam odores desagradáveis, seria deixada na cidade mais próxima para preservar o bom andamento dos trabalhos do grupo. Sábia decisão desses verdadeiros baluartes da cultura popular.
Apesar de terem parado em vários pontos para experimentar curiosas e brasileiríssimas guloseimas como a cajarana e a jaca mole, ao que consta não ficou registrado nenhum outro incidente gastro intestinal. Louvado seja o ‘Padim Pade Ciço’, para sempre seja louvado!
Se no quesito ‘estômago’ não houve maiores surpresas, o mesmo não se pode dizer do coração dos brincantes. Paixões de um carnaval tardio, namoros de viagem, ficações a granel, rolou um pouco de tudo nessa verdadeira expedição cultural que pretende traçar as novas políticas púbicas, digo públicas para a cultura popular do Brasil varonil.
O Lindolfo do Imbuaça e o Luis Carlos dus Sanctus (pronuncia-se ‘disantí’, caros amigos, coisa de artista!) foram de avião, pois argumentaram que desejavam ter uma ‘visão mais panorâmica da nossa realidade cultural’, seja lá o que isso queira dizer. Nada como ser um vip.
Já o Ivan Valença abriu mão de participar de tão inebriante aventura, para ceder seu lugar a uma brincante do ‘Penerou Xerém’. Um homem generoso sem a menor dúvida.
O fato é que a classe artística está excitada, qual uma rapariga em suas primeiras
fornicações noturnas. Tanto que já marcaram uma próxima viagem de volta. E dessa vez querem levar o Zé Carlos Teixeira e a Aglaé no divertido périplo rodoviário. ‘E bem perto do banheiro’, acrescentam alguns.
Até semana que vem
Um abraço do
Apolônio Lisboa