A morte de um ícone: Adib Jatene

  O médico e ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, 85, morto na noite desta sexta-feira (14), em São Paulo, vai deixar uma lacuna importante na saúde pública e privada do Brasil. Ele realizou a primeira cirurgia de ponte de safena em nosso meio  e inventou aparelhos e equipamentos médicos. Exerceu cargos públicos importantes e foi ministro da saúde por duas vezes.
  No governo Fernando Henrique Cardoso, lançou a ideia, muito bem intencionada,  da criação da CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira), para a obtenção de mais recursos para a saúde pública. Fez verdadeira cruzada por todo  o país em defesa da iniciativa, convencido que estava de sua real necessidade, no que estava absolutamente certo.
    Na época eu presidia  a Sociedade Medica de Sergipe  e da minha sala liguei pessoalmente p

Com o Ministro Jatene em Aracaju

ara a chefia de gabinete do Ministro convidando-o para vir a Sergipe e defender a proposta em nosso auditório. Qual não foi a minha surpresa quando ela me indagou: "O senhor é médico? Ao responder afirmativamente ela, de imediato, disse: “Então o doutor  vai conversar diretamente com ele"  e transferiu a ligação para o Ministro, que aceitou e agradeceu o convite.  Um espanto para mim!
    No dia e hora marcados, o Dr. Jatene foi recepcionado em nossa sede e  no auditório fez uma exposição consistente de motivos para a aprovação de sua proposta. Desnecessário dizer que ele saiu da Somese, naquela noite histórica, com o nosso  apoio.  Pois bem, a CPMF foi aprovada pelo Congresso Nacional, graças ao prestígio e à confiança que o povo brasileiro depositava em seu nome.  O desvio dos recursos gerados pelo novo tributo para outras áreas, em flagrante desrespeito às normas aprovadas não foi, contudo, a única frustração do eminente homem público, que ora nos deixa.
   No ano passado, ele chegou a presidir uma comissão de especialistas para colaborar com o governo federal na implementação de mudanças no ensino médico, mas se viu forçado a abandonar o projeto por não concordar com o Programa Mais Médicos, lançado pelo governo de Dilma Rousseff,  à revelia da comissão que coordenava. Um total desrespeito do governo Dilma Rousseff ao eminente homem público.
    Adib Jatene ainda voltaria a Aracaju anos atrás, atendendo convite da Universidade Federal de Sergipe, para receber o Título de Doutor Honoris Causa , oportunidade em que nos reencontramos e revivemos aquele notável acontecimento.
  Dois outros fatos  também concorreram  para marcar o meu relacionamento com o Dr. Jatene,  ambos envolvendo o seu filho Fabio Biscegli Jatene, eminente cirurgião cardiotorácico. Durante seis anos seguidos,  convivi com Fábio Jatene na diretoria da Associação Medica Brasileira, mais precisamente de 1999 a 2005. E um outro  fato, que também colaborou consolidar essa convivência, teve a participação de meu filho Lucio Garcia Dias.
   Encerrando a sua residência em  Anestesiologia  em São Paulo, em 2008, ele prestou concurso para o Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da USP  e foi aprovado, passando a trabalhar na renomada instituição e consequentemente atuar como anestesista da equipe cirúrgica do filho de Adib, até retornar a Aracaju em 2012.
   Na sua vida,  o doutor Adib Jatene  conseguiu unir  rigor científico com tratamento humanizado a todos as pessoas que a ele recorriam, mantendo com eles uma relação afetuosa.  Sua postura ética, honesta  e serena será um farol a iluminar a Medicina brasileira.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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