Conta uma lenda que, em determinado país do oriente, toda moça ao casar, tornava-se, por obrigação, a responsável pela sua sogra, devendo, a partir de então, devotar à mãe do seu esposo toda a atenção e cuidado, fazendo tudo para agradá-la e torná-la feliz.
Às vezes, tinham sorte nos seus casamentos, pois, além de arranjarem um esposo, ganhavam também boas amigas, algumas delas verdadeiras segundas mães: sogras tolerantes, compreensivas e agradecidas. Noutras, porém, as situações eram bem diferentes e tristes: teriam que cuidar de verdadeiros problemas: velhotas ranzinzas, matronas, grosseiras, autoritárias… Usavam e abusavam daquelas ingentes moçoilas, transformando, em verdadeiro inferno, a tão sonhada vida de casada da infeliz que teve a desventura de desposar seu filho. As jovens tinham que suportar caladas e resignadas todo aquele sofrimento, pois esta era a sua obrigação.
Uma dessas jovens esposas teve tantos problemas com a sua sogra que, não suportando mais todas aquelas humilhações, e também se aproveitando de uma viagem à casa dos seus pais, teve a idéia de fazer uma consulta ao Mestre daquela Aldeia, e pedir-lhe uma ajuda. Expôs ao sábio toda a sua situação, deixando claro que não estava mais aguentando e, realmente, estava decidida a fazer qualquer coisa para sair daquela enrascada, mas gostaria muito de manter o seu casamento. E, a única coisa que havia imaginado e que poderia de fato resultar em algo que aliviasse seu tormento era, infelizmente, criar uma situação para encurtar a quantidade de dias de vida daquela “velha” aqui na terra. Todavia, não queria fazer nada que lhe trouxesse problemas, por isso era necessário que algo fosse feito de maneira que ela “partisse”, sem, contudo, levantar nenhuma suspeita, pois amava o marido e também não queria sofrer consequências.
O velho e experimentado Mestre escutou tudo, tirou as suas conclusões, e prometeu ajudá-la; pediu que ela passasse em sua casa antes de retornar, pois lhe daria uma porção, uma espécie de veneno, que vai matando muito lentamente e sem deixar nenhum vestígio, porque não tem gosto e pode ser adicionado à comida, em pequenas doses, todos os dias. Deu-lhe as instruções de como usar, assegurando que sua sogra morreria em seis meses, e ninguém saberia o porquê e nem a acusaria de suicídio.
Porém, para melhor disfarçar o homicídio, do qual seria autora, recomendou que ela fizesse um esforço e a partir de então, tratasse muito bem a mãe de seu esposo e a todos os que a cercavam: a partir daquela data, deveria dar-lhe sempre do bom e do melhor e, de forma mais agradável, tratá-la no convívio diário.
E, assim foi feito. A jovem esposa voltou daquele passeio à casa dos seus pais, totalmente transformada. Iniciou por abraçar carinhosamente a sua sogra o que causou até certa impressão de desconfiança na “velhota”. Porém, como aquela ação foi repetida por várias vezes, foi se construindo um clima bom que chegou a convencer e agradar a todos e o ambiente mudou, pois, o diálogo tornou-se mais suave e necessário, os elogios de parte a parte se pronunciaram, as caricias tão comum nestes ambientes fraternos foram se evidenciando, os cuidados mútuos melhoraram e o espaço antes tão estressado tornou-se mais harmônico e saudável.
Naquele clima de paz, quando aquelas dedicações, aqueles cuidados, aqueles abraços, aqueles carinhos, e compreensões começaram a retornar nas mesmas proporções, acabaram-se as rabugices da sogra, ela tornou-se, como num passe de mágica, numa pessoa muito boa, compreensiva, respeitadora e amiga.
De repente, já se aproximando o dia marcado para a partida definitiva, da agora querida e amada sogra, como lhe falara o Mestre, a nora, arrependida, dá um jeito de ir à sua Aldeia e desesperada vai ao Mestre pedir uma porção que anule aquele veneno, pois, não desejava mais que a sua querida sogra, amiga e segunda mãe morresse. Se isso acontecesse seria um desastre para ela, e, aos prantos, pede que ele interfira e use toda a sua sabedoria e técnica para impedir aquela desgraça, pois aquela mulher transformou-se numa verdadeira mãe…
O Mestre, com a paz que só os Mestres têm, disse: “não se desespere minha filha, volte para sua casa, continue dando muito amor e carinho à sua segunda mãe e, quanto àquela porção que você a administrou, fique tranquila, não era veneno, na verdade tratava-se de uma vitamina. Propositalmente menti para você na esperança de fazer você mudar e, com a sua mudança, mudar também aquela senhora. Você me afirmou agora que a sua sogra está muito melhor, que está transformada, que mudou muito neste período. Ouso dizer que não foi ela que se modificou. Foi você, porém, com a sua nova forma de ver e agir transformou o ambiente e as pessoas em seu redor. A sua mudança influenciou positivamente para que ela também mudasse e se transformasse de uma megera, como você mesmo a chamava, em uma mãe, como você agora afirma. Volte tranquila, seja feliz.
Só para fazer um longínquo comparativo: vamos imaginar que, pelo menos por um momento, o goleiro do flamengo tivesse a humildade e a oportunidade de escutar um Mestre destes. Tudo talvez fosse contado muito diferente. Às vezes, poucas palavras, para quem quer escutar, representam verdadeiros tesouros.
PENSE NISSO, A MUDANÇA ESTÁ EM VOCÊ.