Laranjeiras era, em Sergipe, um centro de irradiação cultural, desde 1876, quando o médico baiano Domingos Guedes Cabral chegou, com suas idéias evolucionistas, inspiradas em Herbert Spencer. Ele tivera rejeitada, na Faculdade de Medicina da Bahia, sua tese sobre As Funções do Cérebro, que externava novas teorias científicas, estimuladas após a retumbante divulgação das idéias de Charles Darwin, ampliadas por Ernest Haeckel. Tais correntes, sucessivamente renovadas, representavam “ um bando de idéias novas”, que no dizer de Silvio Romero agitava a juventude reunida em Pernambuco, em torno de figuras como Tobias Barreto, professor da Faculdade de Direito e líder do movimento intelectual que ficou conhecido como Escola do Recife. A agitação tinha vínculos em várias partes do Brasil. Laranjeiras, espécie de capital econômica de Sergipe, especialmente da região produtora de açúcar, tinha sua imprensa, suas escolas, e dentre elas uma escola inglesa, filial de outra existente no Recife, sob a direção de Ana Carrol, e uma norteamericana, protestante, fundada em 1886 e dirigida por Manoel Nunes da Mota, para consolidar a propaganda evangélica a cargo da pequena Igreja, fundada em 1884. A morte de Guedes Cabral, em 1883, não fez diminuir a marcha propagandística das teses científicas, políticas e religiosas. Mais do que repassar as diversas fases da evolução das lutas democráticas no Brasil e em Sergipe, contrariando a Baltazar Góes, para quem a propaganda republicana começou em Sergipe apenas em 1887, Manoel Curvelo de Mendonça defende as condições da Província para estabelecer os frutos da República, destacando Laranjeiras, pelas condições econômicas e culturais como o cenário mais adequado para sediar o movimento. (Continua) Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Desde o lançamento do Manifesto Republicano, em 1870, que intelectuais e militares sergipanos aderiram a propaganda, criaram Clubes, fundaram jornais, agitando as comunidades, notadamente Aracaju, Laranjeiras, Estância e estabelecendo contatos com outras Províncias, onde alguns conterrâneos viviam. Em Penedo (Alagoas), por exemplo, o itabaianense Francisco Carvalho Lima Júnior liderou a propaganda, ajudando a criar o Clube Republicano Federal, que reuniu grande número de adeptos e participou, ativamente, das manifestações mobilizadoras ao lado do farmacêutico sergipano Josino Menezes, ali estabelecido. Professor Balthazar Góes
No Recife (Pernambuco), entre os alunos da Faculdade de Direito, vários sergipanos assumiram publicamente o ideal republicano, do mesmo modo como defendiam a abolição da escravatura. No Rio de Janeiro o bacharel Ciro de Azevedo agitava a pequena Cantagalo, juntando adeptos para a propaganda republicana. Francisco Leite de Bitencourt Sampaio, sergipano de Laranjeiras, bacharel pela Faculdade de São Paulo, poeta, foi um dos signatários do Manifesto, como a representar, simbolicamente, sua terra e sua geração de conterrâneos.
O grupo de alunos de Direito, no Recife – Silvio Romero, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, Prado Sampaio, dentre outros – e de Medicina, na Bahia – tendo Felisbelo Freire como o mais destacado – envolveu-se integralmente no movimento contra a monarquia, escravocrata e centralizadora, assumindo nas ruas, nas récitas, nos saraus, nos corredores das duas faculdades e na imprensa um papel amplo de discussão, de formação de uma opinião pública, cada vez mais consciente de suas responsabilidades.
Ecoava, então, em Laranjeiras o brado dos jovens intelectuais sergipanos, apoiados por uma geração de militares, que desde a Guerra do Paraguai enchiam de glória a Pátria brasileira. Militares como Samuel de Oliveira, José de Siqueira Menezes, Moreira Guimarâes, Ivo do Prado, Pereira Lobo, iriam cumprir funções destacadas, fortalecendo a campanha republicana, que a partir de 1887 fixava-se em Laranjeiras, com a criação do Clube Democrático, tendo em seu salão principal o retrato de Tobias Barreto, a inspirar suas ações. Com a entrada em circulação do jornal O Horizonte, substituindo por O Laranjeirense, em 1º de janeiro de 1887, a República ganha novo ânimo. No ano seguinte, em 1º de novembro, reunia-se o Partido ou Clube Republicano, que passava a contar com o jornal O Republicano, órgão que incorporou O Laranjeirense, ampliando a propaganda por toda a Província.
A defesa da República estava organizada, em crescimento e em ligação com os centros nacionais comprometidos com a propaganda. Em Laranjeiras o Clube Republicano contava com a participação do pequeno grupo de protestantes, tendo a frente o pastor Manoel Antonio dos Santos David, o que parecia caracterizar de forma mais radical o grupamento reunido para a luta contra o Império. Neste contexto é grande a importância do jornalista e professor Baltazar Góes, que sempre esteve na vanguarda das mudanças que ecoaram em Laranjeiras. Foi ele fundador e diretor do Liceu Laranjeirense, fundador do Clube Democrático e seu Diretor em 1887, promovendo conferências sobre A Evolução da Matéria, Leis e Causas de suas Formas, Instrução Pública no Brasil, Transformação do Trabalho, dentre outras. Foi redator dos jornais locais republicanos, signatário da ata de fundação do Clube Republicano e autor de A República em Sergipe– Apontamentos para a história – 1870-1889, livro de 1891.
Baltazar Góes não foi o único entre os integrantes do Clube Republicano a escrever sobre a propaganda e a movimentação intelectual e política em torno da Proclamação da República, Felisbelo Freire, que governou o Estado, e que publicou em 1891 a sua História de Sergipe, tem um capítulo especial sobre o movimento republicano em Sergipe na sua História Constitucional da República dos Estados Unidos do Brasil e Manoel Curvelo de Mendonça, que ingressou no movimento em favor da República aos 17 anos, sendo um dos oradores do Clube, quando da sua fundação, escreveu um estudo crítico – Sergipe Republicano, em 1896, considerado por Maria Thetis Nunes como uma contribuição de “pioneiro da historiografia social sergipana”, como o disse em conferência na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, dentro do Congresso Brasileiro de Tropicologia, em 1986.
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