A revolta de de julho de 1924 e os seus reflexos sociais

Por José Anderson Nascimento Presidente da Academia Sergipana de Letras

A revolta dos tenentes paulistas iniciada em 5 de julho de 1924, sob o comando do General Isidoro Dias Lima, contra o governo do Presidente da República Dr. Artur da Silva Bernardes, que enfrentava uma grande crise econômica, concentrando o poder em mãos de políticos de São Paulo e de Minas Gerais, com denúncias de corrupção e de violação de princípios democráticos, muito influenciou os militares sergipanos, que, em sua adesão, sediciaram o 28º Batalhão de Caçadores na madrugada do dia 13 de julho desse ano, ocuparam o Palácio do Governo, prendendo e depondo o Presidente (Governador) Maurício Graco Cardoso e alguns dos seus auxiliares, dentre eles o Chefe de Polícia, Dr. Cyro Cordeiro de Farias, o Secretário Geral do Governo, Dr. Hunald Santaflor Cardoso, o Consultor Geral do Estado, Dr. Carlos Alberto Rolla, entre outros.
Os insurgentes, estando à frente o Capitão Eurípedes Esteves de Lima e os Tenentes Augusto Maynard Gomes, João Soarino de Melo e Manoel Messias de Mendonça, ocuparam também a estação telegráfica, a estação da Ferrovia Leste Brasileiro, que era localizada entre os mercados Maria Virgínia Leite Franco e Tales Ferraz e o Quartel da Polícia Militar, localizado no atual Museu da Gente Sergipana.
A tropa sediciosa marchou para a Praia Formosa e lá foram cavadas trincheiras até a Ponta do Claudiano, estacionando na margem direita do Rio Sergipe os canhões “Sergipe” e “União Faz a Força” e uma “Metralhadora” alemã da Primeira Guerra Mundial. Minaram a barra do mesmo rio e fizeram barricadas com sacos de areia, preparando a defesa, acaso as tropas federais viessem pelo mar. Sempre, sempre disparavam tiros de canhão, para animar a tropa e alertar a população. A Junta Governativa Militar composta pelos seus principais líderes, o Capitão Eurípedes Esteves de Lima e os Tenentes Augusto Maynard Gomes, João Soarino de Melo e Manoel Messias de Mendonça, preocupou-se com o cerco de Aracaju e destacou revoltosos para São Cristóvão e Itaporanga d’Ajuda. Em Rosário do Catete a defesa dos revoltosos ficou a cargo do exator Antônio Garcia Sobrinho e do advogado Zaqueu Brandão, que comandaram a guarnição com o canhão da Guerra da Independência, que foi colocado no vagão para transportar equipamentos do trem Maria Fumaça da Ferrovia Leste Brasileiro. Esse grupamento foi o responsável pela debandada do Batalhão Hercílio Britto, formado às pressas com homiziados, cangaceiros e outros indivíduos do Baixo São Francisco, que vinham em socorro do governador do estado, que se achava preso no Quartel do 28º BC. Quando este batalhão se aproximava de Carmópolis, foi surpreendido com o estampido do tiro do velho canhão, disparado por Zaqueu Brandão, pondo-se em fuga a cavalaria e os infantes a pé, às carreiras, pelas matas e brejos, até alcançarem Propriá e dispersarem-se. Das bandas de Simão Dias partira em defesa do Dr. Graco Cardoso, uma coluna denominada de Batalhão Barão de Santa Rosa, comandada pelo Coronel Pedro Freire de Carvalho, que desistiu da empreitada antes de chegar em Salgado, dispersando-se em direção do sertão.
Apesar dessas debandadas, em que os revoltosos contabilizavam vitórias, a situação no Sul do Estado não era favorável aos insurgentes, pois trazidos pelos navios Iris, Canavieiras, Comandante Miranda e Marau, apoiados pelo contratorpedeiro Alagoas, desembarcaram no Castro, em Santa Luzia do Itanhy, mais de mil soldados provenientes dos 20º, 21º e 22º Batalhões de Caçadores, aquartelados em Maceió, Recife e João Pessoa, respectivamente, além de militares das polícias da Bahia e de Alagoas, todos comandados pelo General Marçal Nonato de Farias, rumando a pé, pelos charcos, mangues e alagados, rumo à Estância, onde foi fixado o Quartel General da campanha para restabelecer a legalidade em Sergipe. Para essa operação de Guerra, o General Marçal Nonato de Farias contou dois canhões Trupp, guarnições, armamento e munições. Navios, trens da Ferrovia Este Brasileiro, barcaças, pequenas embarcações, caminhões, carros de bois e tropas de muares.
As estações ferroviárias de Boquim e de Salgado foram ocupadas pelos legalistas e o Marechal Marçal de Farias estabeleceu o seu Quartel General num vagão do trem Maria Fumaça e fez com que os insurgentes recuassem para São Cristóvão. Parte da tropa legalista desembarcou em São Cristóvão e seguiu em demanda para Aracaju, enfrentando os charcos palustres da Jabotiana, alcançando as tropas revoltosas pela retaguarda, que se puseram em debandada. Presos os principais líderes da revolta e mais outras quinhentas pessoas, os legalistas não conseguiram prender o Tenente Augusto Maynard, que driblou o cerco imposto em Aracaju, fugindo para Rosário do Catete, depois para Santo Amaro, escapando pelas matas da Fazenda Aruari, com o apoio do amigo Brasilino de Jesus, vagando pelo interior de Sergipe e escapa para Salvador, daí, parte para São Paulo, onde foi preso e recambiado para Aracaju em 7 de fevereiro de 1925.
Os reflexos da Revolta de 13 de Julho de 1924 projetaram as pautas do Tenentismo, notadamente no combate à corrupção e na propaganda do voto secreto, além da construção da Justiça Eleitoral e da instituição do ensino público obrigatório. Essas demandas projetaram-se à Revolta de 19 de Janeiro de 1926, em que o Tenente Maynard, apesar de recolhido ao 28º BC, o sublevou, novamente, com os mesmos companheiros de farda, capitão Eurípedes Esteves de Lima e tenente João Soarino, partindo para o enfrentamento com as tropas da Polícia Militar nas ruas de Aracaju. Baleado, o Tenente Maynard foi levado ao hospital para tratamento do seu ferimento e depois conduzido para a Ilha da Trindade, no Oceano Atlântico a 1.200 km do município de Vitória, que se tornara em prisão militar. Para lá foram conduzidos, também, o Capitão Eurípedes Esteves de Lima, os tenentes João Soarino de Melo, Manoel Messias de Mendonça e mais cem insurretos sergipanos. Lá já estavam revoltosos de outros estados, entre os quais o capitão Juarez Távora e o tenente Eduardo Gomes.
Anistiados, os revoltosos de 13 de Julho de 1924 focaram-se na Revolução de 1930, inspirando, em Sergipe um programa educacional na Interventoria Federal do General Augusto Maynard, inaugurando o Jardim de Infância, em 17 de março de 1932, cabendo a direção dessa unidade à Professora Penélope Magalhães dos Santos, uma entusiasta da educação infantil. Além disso, outras iniciativas no campo educacional foram presentes, em especial as produções científicas dos professores José Augusto da Rocha Lima e Helvécio Andrade, publicadas no “Boletim Pedagógico” em 13 de julho de 1934, comemorando os 10 anos da revolta dos tenentes.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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