A volta da Zenóbia

Cartas do Apolônio

Cascais, 3 de fevereiro de 2006

Caros amigos de Sergipe

O mundo dá muitas voltas. Só por causa do movimento de rotação, são 365 por ano. E deve ter sido lá pela volta número 250 que Zenóbia, minha imprevisível ex-patroa sexagenária reapareceu na nossa velha mansarda.

Veio fantasiada de fugitiva mulçumana, coberta da cabeça aos pés e com uma enigmática burca que, a um olhar mais desavisado, não permitiria, de fato, uma rápida identificação. Dizia-se refugiada da Faixa de Gaza e pedia asilo político. Uma doidivanas, sem a menor dúvida!

Homem astuto que sou, desconfiei do sotaque fajuto e, alegando a distância de onde viera,  me ofereci para fazer uma massagem nos seus exóticos pezinhos. Aceitou. Foi traída pelo joanete.

_Zenóóóbia, é você, mulher?!

_Euzinha em carne e osso…

Após ser descoberta, Zenóbia confessou que desejava passar incógnita, uns dias em minha casa à guisa de assuntar como eu estava levando a vida nesta nova fase de solteirice. Graças a Deus ela não alcançou a fase de Etevalda Fausta, a única que presta, defenestrada da minha vida após o Concurso Garota Manguaça, que a citada mulata venceu sem dificuldade após passar em revista todos os membros da comissão julgadora.

A veterana autora do compêndio poético “Universo em Devaneio” contou-me algumas das suas desventuras neste quase um ano de separação. Falou-me por exemplo do tórrido caso de amor com Juvenal, emérito anão do Circo Barbosinha, e dedicado faquir circunstancial.. Neste período a poetisa só não comeu o pão que o diabo amassou, porque não havia mesmo pão na cozinha. Apenas água e biscoitos Cream Craker. Perdeu umas três arroubas e fugiu para o salão mais próximo.

Lá conheceu Tómas Couffeir, escovista de mão cheia, mas um tanto abichanado para os padrões zenobianos. Na primeira tentativa de inversão de papéis, a conservadora sexagenária saiu para a aula de aerojump e nunca mais voltou.

Foi na academia que finalmente Zenóbia conheceu seu grande amor. Na verdade, seus dois grandes amores, já que Danilinho (o de marca) e Felipão (o genérico) não desgrudavam um do outro. Marombados e adeptos do açaí com granola antes que qualquer sessão de depilação peitoral, os dois eram bastante parecidos fisicamente e tinham a mesma opinião sobre todos os assuntos que eram debatidos na academia, como o destino de Vitória em Belíssima ou o desfecho do próximo paredão do Big Brother. Porém o caso durou pouco pois certa noite após um acesso de flatulências da Zenóbia, os meninos saíram para se depilar e nunca mais voltaram.

Mais rodada que saia de baiana e mais sofrida que estrada brasileira antes do tapa buraco eleitoral, eis que a vetusta poetisa volta à casa, dizendo-se arrependida e prometendo estrita obediência ao calendário sexual praticado nas hostes apolonianas.

Assim sendo, encontro-me entre a cruz e a espada. Se aceito Zenóbia de volta, terei que ouvir suas poesias pelos próximos anos. Se não aceito, perco bons motes para as próximas colunas. Aceito sugestões.

Até semana que vem.

Um abraço do

Apolônio Lisboa. 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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