A FIFA já estava, há muito tempo, preocupada com o baixo número de gols nas Copas do Mundo. Depois da deste ano, a preocupação aumentou. E não era para menos. O artilheiro da Copa fez apenas cinco gols. Isso mesmo, cinco minguados gols.
Para tentar resolver o terrível problema, uma reunião foi convocada, com o presidente, diretores e assessores. E o presidente, após explicar minuciosamente os motivos da preocupação da Entidade, perguntou se alguém tinha alguma idéia salvadora.
—- Simples – falou um assessor -, vamos determinar que em cada partida os times terão que fazer, no mínimo, 10 gols. Cada um time, é claro.
Foi olhado piedosamente por todos.
—- Já sei ! –gritou outro assessor. —- Cada gol passará a valer por cinco.
Foi olhado caridosamente por todos.
A discussão ficou inflamada, e dezenas de propostas iam sendo analisadas, até que o presidente levantou o braço e pediu silêncio.
—- Encontrei a solução.
Todos o olharam, ansiosos, aflitos, angustiados, esperançosos. Mas ele ficou em silêncio por quase um minuto, gozando aquele momento supremo, com um ar de superioridade.
—- Vamos aumentar o tamanho das traves.
Foi apoteótico. Todos ficaram boquiabertos, abismados, fascinados, estarrecidos. Por que ninguém pensara antes em uma idéia tão simples?
—- E qual deve ser a nova medida ? – perguntou o diretor para assuntos de gols.
—- Acho que deveria ter 15 metros de comprimento por 4 metros de altura – falou, empolgado, um assessor do diretor de arbitragem.
—- Mas isso é quase que o dobro da trave atual. Mas no comprimento eu até concordo. O problema é que ficará muito alta – argumentou o diretor de traves.
—- Alta? Nada. Isso obrigará o goleiro a ter uma maior impulsão. Pra mim, goleiro tem que voar.
Depois de muita discussão, ficou decidido que a trave passaria a ter 12 metros de comprimento e 3 metros de altura.
—- Mas somente isso será suficiente para aumentar o número de gols ? – perguntou, um tanto cético, o diretor para assuntos de gols.
O assessor especial do presidente falou que outras medidas poderiam ser tomadas, por precaução. Recomeçaram as discussões, enquanto um documento, batizado de “ A busca da alegria do gol”, ia sendo elaborado, contendo as modificações que seriam propostas aos países membros para alterar as regras e condições do futebol de campo.
– A pênalti passaria a ser cobrado de uma distância de cinco passos da linha do gol, com o goleiro de costas para o batedor( alguns, mais radicais e angustiados com o grave problema, queriam que o goleiro também ficasse com os olhos vendados).
– Qualquer falta, antes da linha divisória do campo, seria punida com pênalti, ou seja; o jogador só poderia cometer falta no campo adversário.
– A bola cabeceada teria que ser defendida pelo goleiro também com a cabeça.
– Só seriam marcadas faltas nos zagueiros quando houvesse fratura exposta, vazamento de olho, esmigalhamento de testículos e quebra de pescoço.
– O goleiro deveria ficar deitado na cobrança de escanteio.
– Acabaria o impedimento.
– A bola chutada com o pé direito só poderia ser defendida pelo goleiro com a mão direita e a bola chutada com o pé esquerdo só poderia ser defendida com a mão esquerda.
– As defesas, pelo goleiro, com os pés ficariam proibidas – a infração seria punida com dois pênaltis.
– Em nenhuma hipótese, o goleiro poderia defender com as duas mãos ao mesmo tempo, exceto nos casos em que o chute fosse dado com os dois pés ao mesmo tempo – a infração seria punida com três pênaltis.
Um ponto ainda está em discussão, para que o documento seja concluído: a altura do goleiro. Alguns defendem a altura máxima de 1,60 m, enquanto outros não abrem mão de 1,20 m.
—- E se isso tudo não der certo ? – perguntou o pessimista do diretor para assuntos de gols.
O presidente pensou um pouco, sob os olhares de admiração de todos.
—- Simples; eliminaremos o goleiro e colocaremos uma trave de 20 metros de comprimento por 5 de altura.