A voz dos silenciados: Os relatos dos que sobreviveram ao Holocausto

Thayná da Silva Fernandes

Graduanda em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Orientadora: Prof.ª Msc. Raquel Anne Lima de Assis

E-mail: Thayvargas.rural@gmail.com

Sobreviventes do Holocausto visitam Auschwitz após 75 anos de sua libertação. Foto: Wojtek RADWANSKI / AFP, 2020.

Há 75 anos, teve fim o assassinato em massa de judeus, nomeado posteriormente de Holocausto. Diretamente relacionada com o governo nazista alemão durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a ideia de superioridade e ódio, aliada a uma política Estatal e propaganda em massa, fez com que 6 milhões de inocentes morressem.

O silêncio dos sobreviventes, ao final da Guerra, se justifica pelo fato de terem conseguido escapar da morte, buscando, assim, esquecer um passado doloroso e superar o trauma.  Mas, com o passar os anos, muitos dos ex-prisioneiros viam a necessidade de se falar sobre o Holocausto, pois temiam que, com a morte da geração de sobreviventes, a história dos campos morreria com eles.

Primo Levi (1919-1987), em sua obra Os afogados e os sobreviventes, de 1990, buscou analisar o papel das vítimas que foram coagidas a trabalhar para os nazistas. Essa coação tinha, segundo Levi, a função de ferir não apenas o corpo, mas também de retirar a humanidade dos prisioneiros, os colocando em contato direto com a morte de outros inocentes. Apesar de não esquecer o que ocorreu em Auschwitz, o autor buscou compreender o Holocausto sem que isso o impedisse de querer justiça. Por meio de seus livros, Primo Levi procurou conscientizar as futuras gerações para que tivessem consciência de tudo o que ocorreu. Dedicou a sua vida a não deixar que o silêncio apagasse o passado dos campos de Concentração. Veio a falecer em 1987.

Em  Além do crime e castigo, de 1966, Jean Améry (1912-1978)  buscou colocar como a experiência do campo de concentração refletiu em sua vida e, mais do que isso, que os alemães não pagaram pelos crimes cometidos contra os judeus. Améry parte do princípio de que, mesmo após a revelação do Holocausto para o mundo, os alemães agiram como se não tivessem feito parte do processo. A ausência do sentimento de culpa do país que apoiou Hitler, para ele, era o que não permitia que seguisse com a sua vida, mesmo anos após o fim da Guerra, fazendo com que cometesse suicídio em 1978.

Mesmo sendo dois relatos de sobreviventes de um mesmo campo de concentração (Auschwitz), o que se pode inferir é que a experiência de cada um e a forma como buscaram viver após o Holocausto foram distintas. O modo como o assassinato de 6 milhões de pessoas foi pensado e colocado em prática, bem como a certeza que carregavam de estar fazendo o que era melhor para seu povo não é algo que se distancia dos dias atuais. Zygmunt Bauman, em 1998, declarou que o Holocausto não era algo imaginado para ocorrer em uma sociedade tida como civilizada e não fora creditado como real durante algum tempo após seu término. Mas, em 2020, assim como em 1998, ignorar os sinais dados por esse tipo de mentalidade fascista pode ser perigoso.

 

Para saber mais

AMÉRY, Jean. Além do crime e castigo. Rio de Janeiro: contraponto, 1966.

BAUMANN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1998. ( Capítulo 4).

LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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