Depois que pedi que a Sra. TIM, mãe da linha telefônica 79-9133-9592, aceitasse o seu filhinho de volta, várias pessoas também reclamaram do mesmo desprezo familiar. Todos afirmando que não conseguem devolver para a casa materna os celulares que provisoriamente residem em seus lares, mesmo após passarem interminável tempo sendo sadicamente torturados pelos atendentes contatados pela “bondosa senhora”. O trágico é que também acusavam as demais mães de outros celulares do mesmo gélido coração. Aliás, somente não recebi emeio ou qualquer contato da mãe do meu celular. O mutismo continuou o mesmo. A Senhora TIM realmente não atende telefone, não se deixa acessar pela internet, tampouco lê jornais. Mas como não achei justo deixar em abandono o pobre celular, reuni dez amigos voluntários dispostos a amolecer o coração da autista senhora. Um estimularia o outro no telefonema, revezando nas ligações. A idéia era evitar que desistissem do nobre intento de devolver um filho para os braços da mãe. O esforço valeria à pena, o teste de paciência também. O passar dos minutos e das horas não seriam obstáculo ao nosso intento, mesmo porque, de quebra, fizemos uma apostinha que premiaria o felizardo que conseguisse convencer à Senhora TIM a receber o seu filho de volta. Começamos a tarefa às onze horas do dia seis de março de 2006, um ano após a fracassada tentativa anterior. Com o viva-voz ativado, para que todos testemunhassem o desempenho de todos, começamos a nossa “boa ação”. O primeiro que tentou, para curtição nossa, não conseguiu superar o obstáculo da voz-eletrônica-que dizia-ser-importante-nossa-ligação. A ligação estranhamente caiu cinco minutos depois. O mesmo ocorreu com o dois que posteriormente tentaram. O quarto, depois de digitar o nome do celular, abriu um sorriso vencedor quando conseguiu falar com uma atendente que, mais uma vez, pediu para digitar o número do celular e do CPF. Mas a alegria imediatamente desapareceu dos seus lábios quando, após informar que pretendia devolver o celular, foi avisado de que a ligação seria transferida para o “setor competente”. O “setor competente” parecia ser a velha e conhecida voz-eletrônica-que-dizia-ser-importante-nossa-ligação. Tão importante que ficou na ladainha por aproximadamente oito minutos, somente sendo interrompida pela constatação de que a ligação mais uma vez caíra. E olha que foram três os que tentaram chegar ao outro “setor competente”. O sétimo, mudando a tática, resolveu partir para a violência verbal, procurando enfrentar a voz fria e monótona da atendente. Esta, depois de registrar ser importante a nossa ligação, prometeu que acompanharia a ligação para que ela não caísse outra vez. Tirando a vingança por ter deixado o meu amigo vinte minutos em companhia da voz-eletrônica-que-dizia-ser-importante-nossa-ligação, realmente uma voz humana logo surgiu. Depois de dizer o número do telefone e do CPF, bem assim de ser informado da importância da ligação, o “novo setor competente” prometeu que a ligação seria transferida para o “outro novo setor competente”. E antes que se escutasse o xingamento do meu desesperado colega, mais uma vez entrou a voz-eletrônica-que-dizia-ser- importante-nossa-ligação. Não foi de se entranhar, portanto, quando a monitorada ligação caiu mais uma vez. O oitavo voltou a falar mais paciente e educadamente. E realmente precisou da paciência como aliada, pois somente consegui chegar ao cobiçado “setor competente” depois de compartilhar duas vezes da companhia da voz-eletrônica-que-dizia-ser-importante-nossa-ligação, além das duas monótonas atendentes. No “setor competente”, após repetir o número do celular e do CPF, finalmente ele foi informado de que seria devolvida a linha, desde que confirmada algumas informações. E passou a atendente a perguntar sobre o nome da minha mãe, carteira de identidade, CEP, dia de vencimento da fatura e residência. O meu amigo, desconhecendo o meu endereço, demorou a responder. Foi o bastante para a atendente dizer que não poderia fazer o cancelamento. O celular somente poderia ser devolvido mediante o envio de uma carta para a Sra. TIM. A resposta foi demais para o meu amigo, que duramente retrucou, dizendo que não a mandaria, pois já estava cansado da rejeição. Tinha sido rejeitado na loja, via site e agora por telefone. O nosso protesto foi barulhento e coletivo, o que deve ter provocado uma reação positiva na atendente. Informou-nos, então, que faria o procedimento de cancelamento. Esperamos aproximadamente dez minutos. Avisou que a conversar seria gravada, começando uma série de perguntas: – Sr. Raimundo confirma o pedido de cancelamento? Pode confirmar o seu nome, CPF, carteira de identidade, nome da mãe, CEP e endereço? Pode aguardar um momento para fazermos o cancelamento? E depois de esperarmos mais algum longo tempo, mais precisamente às treze horas e cinco minutos, recebemos a confirmação de que a Sra. TIM aceitou o seu filho de volta. Duas horas depois, o filho feliz, voltou para casa. O meu amigo, igualmente feliz, ganhou a aposta. Somente não ficou feliz a cidadania , pois continua ela sendo zombado pelas operadoras de celular.
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