Para integrar a Amazônia como uma entidade viva é preciso integrar os estudos realizados no bioma. Por isso, segundo Rita Mesquita, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e coordenadora da Conferencia Internacional Amazônia em Perspectiva, é fundamental articular a pesquisa realizada nos três grandes programas que estudam o bioma.
O encontro reuniu em Manaus mais de mil pesquisadores do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), da Rede Temática
“O evento foi uma tentativa de integrar os três programas a partir do intercâmbio de resultados. Isso é fundamental, porque se vamos integrar a Amazônia como entidade viva, precisamos articular esses estudos”, disse Rita à Agência Fapesp.
Segundo a pesquisadora, que faz parte do comitê organizador do LBA, os cientistas perceberam a necessidade de criar um espaço público no qual os estudos de diversos enfoques disciplinares possam se integrar.
“Não é possível entender os ciclos, processos e fenômenos biológicos sem entender a biodiversidade, que, por sua vez, tem um papel crítico na formação de nuvens, na reciclagem de nutrientes, na decomposição e assim por diante. Essa visão de múltiplos enfoques é necessária porque a Amazônia é um grande sistema integrado”, disse.
Segundo Rita, o programa também agregará um grupo maior de biólogos. “Ainda há muita ciência básica a ser feita, mas ela precisa ampliar seu escopo. Queremos ampliar nossa base de conhecimento sobre fatores socioeconômicos e legais, além de tratar mais profundamente de políticas públicas e dos impactos desses fatores sobre os processos ambientais que estão acontecendo na Amazônia. Entendemos que muitas dessas políticas e vetores socioeconômicos são os responsáveis pelas mudanças na dinâmica de uso da terra que temos registrado”, disse.
Qualquer um que tenha caminhado no mato na Amazônia já desconfiava que o ambiente chamado de terra firme (aquele que nunca é inundado) é muito heterogêneo. Mas a revelação feita por um modelo matemático desenvolvido no Brasil e apresentado em uma conferência internacional sobre a Amazônia faz emergir o tamanho dessa diferença.
“Nós descobrimos a existência de quatro ambientes dentro da chamada terra firme”, afirma Antônio Nobre, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). A ferramenta, baseada “em muita física básica”, segundo o ecólogo, permitiu calcular que 58,5% da chamada terra firme é um baixio que tem acesso fácil à água em todas as épocas do ano.
“São áreas de chavascais e de transição”, diz Nobre. “Não que essas áreas tenham lâminas d”água, mas elas são úmidas. Quando você anda pelo chavascal ele faz “choc”, “choc”…” Na área de transição, também chamada de campinarana, há predomínio de areia e “o lençol freático é bastante raso”, afirma o pesquisador.
O novo modelo, que partiu do conceito físico dos vasos comunicantes, analisou até agora uma área de 18 mil quilômetros quadrados ao redor do rio Negro, no Estado do Amazonas. “A ferramenta está pronta para ser usada em toda a Amazônia. Esse será o próximo passo do estudo”, diz Nobre.
Hoje, estima-se que 17% da Amazônia seja preenchida por áreas inundáveis e 83% por áreas de terra firme. Com os novos dados, esse último grupo ganha quatro subdivisões.
Os chavascais, que ocupam uma área de 25,6% da terra firme, e uma área de transição (ecótono), que representa 32,9% do total das áreas estudadas que não são inundáveis.
Na região onde o lençol freático é mais profundo e a água nunca chega, há 11,1 % de encostas e 30,4% de platôs.
A ferramenta desenvolvida por Nobre e outros pesquisadores pode também até fazer mudar a legislação ambiental.
“As áreas com água são áreas de proteção permanente. Agora nós mostramos que elas podem estar muito mais longe de um corpo de água do que se pensava antes. Talvez seja preciso ajustar a lei”, disse Nobre, que espera usar a ferramenta em outras áreas do país.
O ministro Nelson Jobim (Defesa) defendeu a execução de uma política de desenvolvimento econômico associada à preservação ambiental na Amazônia. Jobim apelou para que se esqueça a “visão folclórica” sobre a região.
Segundo o ministro, é necessário aplicar uma agenda própria para a área, definida por brasileiros, sem uma visão estrangeira.
“A Amazônia não é um jardim de deleite de europeus”, afirmou Jobim. “Nós não podemos ter a Amazônia para ambiente de recreio de estrangeiros. Não se pode (ter essa visão como se houvesse uma oposição) entre a preservação e o desenvolvimento”, disse ele, informando apoiar a avaliação do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) sobre o assunto.
Jobim reiterou que o governo federal vai instalar mais 28 pelotões militares de fronteira, inclusive, em terras indígenas. No total, serão 48 pelotões instalados. Segundo o ministro, a Constituição é clara ao permitir que militares façam a segurança em áreas indígenas.
O comandante Militar da Amazônia, general Augusto Heleno, afirmou que a política indigenista praticada atualmente no país é “lamentável, para não dizer caótica”. Sem se referir especificamente à reserva Raposa Serra do Sol, no norte de Roraima, o general criticou a separação de índios e não-índios.
“A política indigenista brasileira está completamente dissociada do processo histórico de colonização do nosso país. Precisa revista com urgência. É só ir lá ver as comunidades indígenas para ver que essa política é lamentável, para não dizer caótica”, disse Heleno durante palestra no Clube Militar, no centro do Rio.
“Pela primeira vez estamos escutando coisas que nunca escutamos na história do Brasil. Negócio de índio e não índio? No bairro da Liberdade,
O diretor da Sodiur (Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima), o índio da etnia tuxaua Jonas Marcolinom, disse que a influência de ONGs estrangeiras na reserva podem “ameaçar a soberania nacional”.
“Se não houver valores que nos unam (índios e não-índios), alguns outros valores vão predominar, que podem ameaçar a soberania nacional”, disse Marcolino ao concordar com general Heleno ao dizer que os índios devem se “conscientizar que é também brasileiro”.
Heleno também criticou documento da ONU que pede desmilitarização das terras indígenas para a “paz, progresso e desenvolvimento econômico social”. “O entrave somos nós?”, questionou Heleno. Ele afirmou que os índios “gravitam no entorno dos nossos pelotões porque estão completamente abandonados”. (Ambientebrasil)