É impressionante o infinito poder rejuvenescedor daquela fração de segundo que separa o ano velho do novo. Como o ano recém chegado, tudo se torna novo, alegre e festivo, fazendo da noite a apoteose da criação humana, com o céu enfeitado por feixes de luz criados pelo próprio homem. Se permanecer algum resquício de velhice neste mágico momento é, sem dúvida, a anual operação plástica a que se submete a nossa anciã esperança. Até mesmo as nossas decepções, não são suficientes para por água em nosso chope. O ano novo embebeda com a cachaça da esperança o mais abstêmio dos corações. Uma porção inebriante que nos faz recém-nascidos em planos e perspectivas. Um gole que nos faz prometer que engatinharemos na busca da realização de cada sonho projetado. Um trago que faz florescer o namoro, ainda não cultivado pela ausência da coragem do plantio, como se fosse uma espécie de planta que cresce fértil neste jardim de idéias novas. Desengavetar empoeirados sonhos, repentinamente, já não causa mais a cômoda alergia usada como desculpa para reiniciar a vida. Retomar os estudos, agora que nossos filhos cresceram, não mais parecem quebrantar nossos corpos. Sequer esperamos a ressaca do dia dois de janeiro para traçar prioridades e ações. Plantar uma árvore, ter filhos ou publicar um livro não são as únicas opções nestes momentos de lucubrações lúdicas. Todas as opções são válidas, todos os projetos são viáveis e todos os sonhos são realizáveis. É o mágico poder do ano novo. Neste primeiro dia do ano um ingrediente novo será adicionado aos temperos servidos nas festas de reveillon, aumentando o afrodisíaco sabor das mudanças. Este ano começará com a posse de Marcelo Déda, não mais sendo um sonho que queria dar certo. A posse, coincidindo com o início da vida do novo ano, parece ter o tornado Sergipe confiante de que as mudanças finalmente chegarão. Com o pé-esquerdo ou com o seu lado direito sendo preponderante, o que se sente é que todos querem caminhar juntos e de forma coordenada. Tudo bem que no Brasil o novo governo seja apenas uma promessa de repetição de um filme que já passou, ainda mais com a manutenção dos contratos de velhos atores da película dirigida pelo demitido cineasta Lula. Espera-se, ao menos, que a recauchutagem governamental traga novidades, pelo menos no campo do desenvolvimento econômico. O cidadão e o indivíduo se confundirão neste primeiro dia do ano, pois ambos querem o melhor para si, para a sua comunidade e para o seu país. Promessas de mudança serão escutadas nas duas ocasiões festivas e compromissos iluminarão todos os lugares, fazendo com que acreditemos que somos estrelas a brilhar no céu. E se assim for, como certamente será, por que não acreditar que a esperança pode realmente estacionar e ser presença constante em nossas vidas? Que tal realmente fazermos desse primeiro de janeiro algo realmente novo? Ou mesmo rejuvenescer aquele sonho que já está cansado de ficar guardado para você? Não adianta, portanto, ficarmos apenas cantando mecanicamente aquela velhíssima canção global de que “hoje é um novo dia, de um novo tempo, que começou nesses novos dias, as alegrias serão de todos”. Se a evolução faz parte da nossa vida, o significado da palavra “ano novo” não deveria ser entendido apenas como sendo o de festa ou feriado universal. A busca do novo é que faz a grande diferença, pois se ficamos apenas nas promessas de mudança, 2007 não será diferente de 2006, assim como não foi o recentíssimo século passado. Mudar é questão de atitude, não apenas questão de desejo. Atitude e desejo podem ser o novo, o nosso novo ano.
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