APOLÔNIO, O CENSURADO II

Lisboa, 13 de maio de 2005

Caros amigos de Sergipe:

Alguns leitores abichanados andam mandando-me e-mails dizendo que eu só penso em sexo e que ultimamente só tenho escrito sacanagens. Imaginem os senhores, que calúnia monumental! Eu, menino pudico, ex-sacristão convicto e adepto dos catecismos de Carlos Zéfiro, jamais poderia ser acusado de assédio lítero-sexual como querem insinuar os leitores frufru entusiastas dessa prosaica querela.

O editor deste semanário é outro moralista de marca maior. Só porque eu fiz uma homenagem à Clínica Geriátrica Andrade & Seixas, onde os velhinhos anciãos da terceira idade botam pra jambrar com as suas respectivas enfermeiras, o poeta de parcos chumaços capilares ficou todo melindrado e mandou engavetar meu “textículo”, digo meu texto.

Ora senhores só porque comprei recentemente uma pichocha cibernética e andei merendando a Shirley Katiane, não quer dizer que eu viva sonhando com montes de Vênus ou camisinhas oriundas daquele planetinha tão safado. Mas, parodiando os políticos, creio que ‘trata-se da mais vil campanha para se desestabilizar uma sólida coluna literária’.

O que ocorre de fato, é que ultimamente tenho dado mais sorte com as raparigas e os senhores sabem tão bem quanto eu, que não se deve contrariar os desígnios de Deus. Se uma pichocha cai na vossa mão, amado leitor, diga-me, como recusar? Seria o caso de abichanar de vez? E ademais, pra que cometer essa descortesia com uma pobre irmã em Cristo? Por que fazer essa desfeita com os deuses do amor? Diga-me.

Até porque sem o sexo, amigos, o que seria da humanidade? Que progressos esperar da raça humana, uma vez que não existiriam Einstein, Freud, Marx, Mané Prancha ou João Muamba, simplesmente porque nenhum desses expoentes da humanidade, seria sequer concebido no respectivo ventre da sua veneranda mamãezinha.

Sem o sexo talvez ainda estivéssemos no paraíso com Adão e Eva olhando um pra cara do outro e cantando ‘Il sole mio’ para espantar o tédio. Ou pior, estaríamos ainda no tempo das cavernas, se bem que duvido muito que entre uma estalactite e outro não rolasse um sexo animal entre os nossos ancestrais.

Mas a fim de satisfazer as idiossincrasias de tão assexuados leitores, hoje me absterei de falar no tal tema do sex…, os senhores sabem, aquela coisa suja, feia e cabeluda que fazem os casais a qualquer hora do dia ou da noite. Hoje falarei apenas de coisas leves e amenas como o poético flanar das gaivotas por sobre o Atlântico ou as dietas da Herbalife, tão adorada pelos modernos metrosexuais.

Ou quem sabe podemos também tecer interessantes comentários sobre a conformação anticapilar daquele verdadeiro aeroporto de mosquitos que é a cabeça do nosso querido Augusto Bezerra ou ainda sobre a poesia de Jozailto Lima, o poeta de parcos chumaços capilares.

Enfim, como vêm a variedade de assuntos assexuados é imensa. Poderíamos estendê-la por horas a fio, mas tenho mais o que fazer. Vou rezar o terço no quarto da Sulamita, uma vez que nas minhas cartas os leitores abichanados podem até mandar, mas na minha verga mando eu. Com licença.      

 
Até semana que vem.

Um abraço do

Apolônio Lisboa

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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