ARACAJU, DOENÇAS, ATERROS E OBRAS

A decisão do presidente Inácio Barbosa de mudar a capital ainda carece de mais amplo e melhor entendimento, para que certas lacunas sejam preenchidas com informações contidas nos documentos públicos, com as quais será possível consignar, nos anais da história, o papel de pelo menos quatro figuras de destaque político: o próprio presidente Inácio Barbosa, o Barão de Propriá – comandante José da Trindade Prado, da Guarda Nacional -, o Barão de Maruim – João Gomes de Melo – e o presidente Salvador Corrêa de Sá e Benevides. Inácio Barbosa foi nomeado presidente da Província de Sergipe em 7 de outubro de 1853, tomou posse em 17 de novembro do mesmo ano, governando até 6 de setembro de 1855, quando chamou a assumir a
As atuais praças Fausto Cardoso e Olímpio Campos foram aterradas e receberam as primeiras e mais importantes obras públicas da nova capital
administração o vice-Barão de Propriá, que permaneceu a frente do Governo até 26 de setembro, passando a chefia da Província ao Barão de Maruim. Salvador Corrêa de Sá e Benevides, nomeado em 24 de dezembro de 1855, tomou posse em 27 de fevereiro de 1856, ficando em Sergipe até 11 de abril de 1857.

Inácio Barbosa tinha pressa em dotar Aracaju das condições de habitabilidade e convocou os capitalistas mais próximos para participarem da somação de esforços em pelo menos três medidas imediatas: o aterro da área central da nova cidade – a Olaria, a construção das várias obras e o combate às doenças que ameaçavam mais que as próprias “febres do Aracaju”. O engenheiro Sebastião José Basílio Pirro, que desde 1848 estava na Província, comissionado, contou com a colaboração de mais dois colegas, para implantar seu projeto, que não era tão simples como querem supor alguns intérpretes da história da capital sergipana. O tenente Coronel José Xavier Garcia de Almeida, encarregado de obras gerais, e Capitão Francisco Pereira da Silva, responsável pelas obras da Província.
 

As obras começaram em ritmo alucinante. A primeira delas, o Palácio Provisório (atual prédio da Delegacia Fiscal) foi contratada em 23 de março de 1855, menos de uma semana depois da Resolução da mudança, com o tenente coronel Antonio Carneiro de Menezes. Era uma construção relativamente simples, com dois quartos, duas salas de frente, um gabinete, uma sala de jantar, dispensa e cozinha. O presidente Salvador Corrêa de Sá e Benevides mandou ampliar o Palacete, com mais dois quartos, uma estrebaria e um muro. Em 18 de abril, foi contratada a obra da Alfândega, (prédio que está fechado, no fundo da praça General Valadão), construído sobre as ruínas da Alfândega velha. Em 23 de abril o Quartel da Polícia (atual prédio, sem uso, da Secretaria de Estado da Educação, a avenida Ivo do Prado). Em 22 de maio foi lançada a pedra fundamental da Catedral, que não passou de parte do alicerce, e em 15 de junho teve início, no terreno onde deveria ser construída a Catedral, a obra do Palacete da Assembléia Legislativa Provincial. As obras de esgotamento sanitário e de aterro tiveram como responsável o Capitão Francisco Pereira da Silva, enquanto as três fontes que Inácio Barbosa mandou cavar ficaram sob a responsabilidade do tenente coronel José Xavier Garcia de Almeida.
 

A historiografia sergipana é pródiga para com os presidentes titulares, mas trata pouco dos vices, geralmente quatro, para cumprir certos períodos. Quando foi chamado a assumir o Governo, o Barão de Propriá era o 3º vice-presidente. O Barão de Maruim, que era o 1º vice, estava fora da Província e o 2º vice ou tinha morrido ou estava com algum impedimento. Apesar de passar apenas 20 dias como presidente interino, o Barão de Propriá teve de enfrentar o cólera, tomando providências que livraram Sergipe de uma epidemia de graves proporções. Doente, em Estância, o presidente Inácio Barbosa temia que o cólera que grassava na Província da Bahia pudesse atrapalhar os seus planos de povoar Aracaju com funcionários públicos transferidos de São Cristóvão e com sergipanos de vários lugares. Foi Inácio Barbosa, no leito de morte, quem declarou a “Quarentena” para as embarcações procedentes de portos onde houvesse a epidemia do cólera e criou uma Comissão de 3 médicos para Estância, dentre eles o poeta José Maria Gomes de Souza, um para São Cristóvão – Dr. Francisco Sabino Coelho de Sampaio, e um para Aracaju, o Dr. José Antonio de Freitas Júnior, encarregada do monitoramento da providência.

Inácio Barbosa, em 6 de setembro de 1855, convocou o Barão de Propriá e o mandou assumir o Governo da Província, para tomar outras medidas, como a de contatar com os presidentes das Províncias de Pernambuco e de Alagoas, garantindo o abastecimento de Sergipe, principalmente de comidas e remédios, prejudicado com a decisão de fechar as entradas para os barcos da Bahia e de outros portos ao Sul. O Barão de Propriá, em Relatório datado de 26 de setembro de 1855, com o qual passa a administração da Província ao Barão de Maruim, demonstra toda a sua preocupação com a situação ameaçadora, como um percalço ao intencionário do presidente Inácio Joaquim Barbosa.
 

As circunstâncias desfavoráveis daquela quadra, incluindo a morte prematura do presidente, não impediram, contudo, o sucesso do projeto de mudança da capital. Os aterros se tornaram rotineiros e vararam o tempo, as doenças foram combatidas, as áreas das construções saneadas, e as obras fizeram de Aracaju um grande canteiro de trabalho, como atesta o relato da visita de Dom Pedro II e sua comitiva a capital sergipana, em janeiro de 1860. Aracaju foi, também, uma vitória da determinação.

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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