Pensativo, Deodoro saiu de casa e pôs os pés bem plantados na calçada da rua. O sol da manhã bateu forte no rosto e ele comprimiu os olhos atordoados com tanta claridade. Mas sentiu-se bem com aquela mudança repentina: dentro de casa, envolvido pela penumbra, na sombra e no aconchego, e ali fora, o sol, calor, claridade. Hoje irá trabalhar na fábrica pela tarde. Assim foi melhor, pulara fora dos negócios perigosos em uma favela do Rio de Janeiro, retornara para sua terra, arranjara emprego e uma casinha de conjunto. O comichão de viajar fizera que, no Rio, procurasse o sergipano Nego Clé (de nome Asclepíades), gente de prestígio nos morros e nas transações envolvendo drogas. Boa coisa para os chefões e chefetes, para ele não, fora um simples subordinado, sujeito a muitos perigos. Aproveitou uma folga, após uma confusão dentro do próprio bando, quando sumira uma carga de muamba, das brabas. Ficaram desconfiando de alguém de dentro. Ouvira: “quem entra aqui, nunca sai” e “traíra deve morrer”. Fugira, com mulher e filhos, voltara para Sergipe e arquivara seu sonho de viagens. Ninguém sabia da sua aventura no Rio, parece que também “eles” se esqueceram dele. Passaram dois anos e não tivera nada com o sumiço da muamba. O calor aumentou e quando se virou, rodando seus chinelões nos pés, ouviu uma voz, saída da janela de um carro preto: -Deo! Viu um cano de revólver e novamente a voz: – Fujão safado! Mandaram lhe matar! Os tiros soaram como se fossem de uma metralhadora e Deodoro caiu na calçada, sujo de sangue. O carro arrancou e sumiu numa corrida só…
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