Café Pequeno-Pobre Maiko

Numa noite de 1972, em Lagarto, eu e meu irmão fomos surpreendidos com a notícia da morte do genial menino cantor do Jackson Five: Michael Jackson, com o qual sonhávamos parecer a todo custo.

 

Inconsoláveis tentávamos checar a notícia, missão  impossível naqueles dinossáuricos tempos pré-internet e varamos a noite especulando o motivo de tão precoce morte,  e sobre o provável destino do quinteto sem o seu maior astro.

 

Muito chororô depois, embalados ao som de I’ll Be There e I’ Never Can Say Goodbye, a tranqüilizadora notícia de que tudo não passara de boato.

 

O fato já preconizava a extensão da fama do menino. Afinal um boato ir no boca a boca até Lagarto, Sergipe, em pleno início dos anos setenta, não é pra qualquer um não.

 

Acredito iniciava aí a construção do mito Michael e, hoje, depois de tudo que houve, e do que sabemos ser capaz de fazer a trituradora máquina da fama não me surpreenderia saber que o fato já tratava-se de estratégia de marketing.

 

Não à toa poucos meses depois estourava nas rádios o LP Ben, o primeiro sem os irmãos, mas com incontáveis sucessos como Music and Me e One Day in Your Life,

entoados por adolescentes dos quatro cantos do mundo.

 

E assim fomos crescendo juntos até a novidade da primeira e justificável plástica, sob a influência de Diana Ross.

 

A partir dali o estouro do fenomenal bailarino pop de Thriler e a espantosa cascata de esquisitices difíceis de assimilar.

 

Me desinteressei pela sua música, apesar de ser impossível não acompanhar a trajetória do soldadinho de chumbo da poderosa indústria musical americana e dos incontáveis “Maikos” surgidos nas favelas e periferias mundo a fora.

 

E ele cada dia mais bizarro num mix de Neverland, Beatles, Brook Shields, Liz Taylor, Liza Presley, pedofilia, filhos de laboratório mascarados,  até o inevitável coquetel de drogas lícitas, prescritas, provável causa de sua morte.

 

E pelo show do seu cortejo parece mesmo é que o Michael não morreu, apenas descansou para voltar a reinar soberano no topo das vendas, que a redescoberta da sua genialidade, alavancou. Afinal o show não pode parar.

 

Para mim, no entanto, o verdadeiro Michael já havia morrido naquela premonitória noite de 72.

 

 

 

 

Jardim Botânico-Rio de Janeiro-Foto Ana Libório

 

 

 

 

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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