– Pode falar, estou atento. – assim começou o diálogo que fazia testemunha involuntária os seis passageiros do pequeno avião que cruzava o céu mato-grossense.
– … – apesar do diminuto espaço físico, não se conseguia decifrar o que ocorria no outro lado da linha, talvez porque não havia torre de comando no campo de aviação da cidade que nos receberia.
– Ainda não estou vendo a pista de pouso, acho que já passei da referência que você falou.
– …
– Não era um posto de gasolina amarelo, bem ao lado de um supermercado?
– …
– Legal! Obrigado, acabo de localizar.
– …
– Só para confirmar, não é uma pista de terra batida?
– …
– Vou contornar e pousar, visibilidade ainda está boa. – nesta parte esclareço que já se aproximava do iniciar da noite e, segundo nos avisaram, inexistiam refletores no procurado campo de aviação.
– …
– Espere um pouco, tem um boi preto parado na cabeceira da pista.
– …
– Compreendi. O boi está amarrado e não se assusta com os aviões sobre ele. Tudo bem, então vamos pousar.
E assim, exatamente às dezesseis horas do dia 20 de julho de 2006, chegamos à cidade de Campo Novo do Parecis, uma pequena, promissora e acolhedora cidade do interior do Mato Grosso. Pequena, porque ainda uma jovem de dezoito anos. Promissora, porque encravada no grande celeiro de soja e milho que brotam do fértil solo mato-grossense. Acolhedora, porque colonizada pela diversidade cultural brasileira, embora se pudesse notar a elevada influência gaúcha.
Roberto Busato, Vladimir Rossi, Ussiel Tavares, Irineu Tamanini e eu, todos da OAB, não escondíamos o alívio quando pisamos em terra firme, até porque longo voar daquele dia teve início em Curitiba, após passarmos por Londrina, Campo Grande e Cuiabá. Ademais, tínhamos ainda outra tarefa a cumprir naquela noite, mais precisamente a inauguração da sede da subseção daquela aprazível cidade, o que faríamos de imediato, após um rápido passar pelo hotel. É que já nos esperavam os dirigentes da OAB-MT, as autoridades locais, os moradores da cidade, os convidados e os mais de trinta advogados que integram a orgulhosa subseção.
E por que os dirigentes do Conselho Federal da OAB estavam presentes na inauguração? Por que a OAB/MT, comandada por Francisco Fayad, patrocinou aquela bela obra? O que motivou o comparecimento de dirigentes de outras subseções, várias delas distantes mais de mil quilômetros? Por os advogados reivindicavam uma sede naquela região? Por que autoridades e cidadãos participavam da festa da advocacia? O que unia cada um dos presentes?
É evidente que várias razoes podem ser arroladas, pois a diversidade faz parte da personalidade humana. Uma delas, porém, não podia ser negada naquela noite. Todos estavam naquele local porque compreendiam que a força da advocacia estava na sua indissolúvel união. Na correta concepção de que cada advogado brasileiro tem o mesmo peso e qualidade do outro. Ninguém melhor, ninguém pior. Todos absolutamente iguais. Todos imprescindíveis na luta por um Brasil mais justo, livre e transparente.
Os advogados e cidadãos que ali se aglomeravam sabiam, portanto, que não estavam sozinhos. Eles eram partes de uma rede que se espalha pelos cantos e recantos do país. Eles eram a força ética, a coragem cívica e o arrojo institucional da OAB. Eles eram, simultaneamente, cidadãos e advogados de uma única causa. Campo Novo do Parecis era, naquela noite, a própria OAB. E continuará sendo, assim como é cada pedaço que completa a OAB, uma das mais respeitadas instituições brasileiras.