Cartas do Apolônio

Cartas do Apolônio

Meu mundo caiu. E as calças também.

Apolônio vai a show de banda sergipana e rouba a cena. 

Cascais, 14 de outubro de 2005

Caros amigos de Sergipe:


Um velho conhecido meu me ligou outro dia, convidando para um programa inusitado:
-Apolônio, tu tens que ir ao show de Calcinha Preta.
-Como? Não entendi.
-O show de Calcinha Preta, rapaz, dizem que está fazendo o maior sucesso lá na terra
onde você morou, disse ele referindo-se a Sergipe, naturalmente.
-Você está me convidando para ir a um show…de calcinha preta?
-É isso aí, Apolônio. Aquela terra está famosa, até Portugal entrou na onda da Calcinha
Preta, veja você.
-Os homens também!?
-Claro! Os homens é que são maioria na platéia.
Custei a acreditar que o meu amigo teria coragem de usar tal peça íntima para ir a um espetáculo. Quis acompanhá-lo para tirar a prova.
-Então eu quero ir com você, quando será esse negócio?
_Amanhã meu bom Apolônio, amanhã às dez da noite no Ginásio de Cascais.
Se quiser, passo aí umas nove e meia, mas por favor, vista-se logo cedo para que eu não fique esperando, ok?
-Sem problema, respondi imaginando onde arranjaria uma calcinha preta para vestir durante este bizarro espetáculo brazuca.
Sabia que não iria me sentir bem usando a tal peça íntima, afinal sou um espada convicto e membrudo. Porém amigos, se todos estavam aderindo a essa nova moda de ir a shows usando calcinhas, quem seria eu para contrariar? O que não se faz pela cultura, não?
Foi aí que me lembrei da mala que a Etevalda Fausta, deixou no quarto de hóspedes, na esperança de voltar a morar comigo um dia. Fui ao quarto e a Vuitton estava lá. Que sorte, amigos!
Remexi nas suas roupas mas não encontrei uma calcinha preta.
Tinha calçolas das mais variadas cores e tamanhos, mas preta não. Fui obrigado a
tinturar todas de preto. Difícil foi arrumar uma que coubesse em meu corpitho. Todas eram muito pequenininhas. Que safada a Etevalda, hein?
Tive que improvisar com um fio dental de lacinhos. Foi a única que deu pra amarrar na cintura. Não me olhei no espelho mas devo ter ficado uma belezura!
Na hora combinada lá estava eu de calça, camisa social e com a minúscula tanga
entranhada nos países baixos, digamos assim. Desnecessário dizer da luta descomunal para acomodar a bergamota e seus anexos dentro daquele microscópico pedacinho de pano. E como aquilo incomodava, meus amigos.
Acreditei que com o passar das horas acostumaria com aquele arrocho no buzanfã. Ledo engano.
A cada minuto as vergonhas coçavam mais e mais. O show começou e em pouco tempo as pessoas próximas na platéia já estavam notando a minha agonia. Foi aí que resolvi afrouxar um pouco a calça para ver se conseguia folgar os tais laçarotes laterais e aliviar um pouco as banhas. Não deveria ter feito tal sandice.
A calça caiu e todos à minha volta tomaram um susto quando me viram naquela
circunstância.
Saí corrido do Ginásio sob a maior vaia do mundo e aos gritos de “paneleiro”, paneleiro, ´paneleiro”. Só então descobri que Calcinha Preta era o nome da banda, não o traje obrigatório. Que vergonha, meus amigos, que vergonha!               

Até semana que vem

Um abraço do

Apolônio Lisboa

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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