Chame o ladrão!

A violência, tão explorada pela imprensa, sempre passa a sensação de ser tema repisado, que já não oferece novidade e acaba se transformando em produto de consumo ligeiro, descartável. Mas a violência — não a estatística, que pode ser deturpada, exagerada ou amenizada, dependendo da situação e do local a que se refira — é real, cotidianizou-se e, mais do que qualquer crise passageira, recrudesceu, ficou.

 

Quando o sergipano assiste ao assalto a um catamarã lotado de turistas na foz do rio São Francisco é porque alguma coisa mudou. Quando se assiste à invasão por bandidos de uma casa dentro de um condomínio fechado de casas, alguma coisa mudou. Parênteses: condomínio fechado de casas já é um sinal distorcido dos tempos, já é uma anomalia da coexistência cidadã criada para proteger os que estão lá dentro, que podem pagar pelo luxo de se isolar dos “outros”.

Quando se chega assustado para abrir o portão, quando se tem medo de sequestro relâmpago porque o vizinho foi vítima quando saía de manhã cedo, pego na surpresa do dia, quando já não se permite que os filhos brinquem nas ruas e praças e quando se fica aliviado porque já estão sãos e salvos dentro de casa é porque o emprego da força, da intimidação moral, da crueldade já extrapolaram o temor imaginário de um povo e já se tornaram perigo real.

 

NÃO É NOVIDADE QUE O BRASIL É ASSIM, um país violento, onde na maioria dos grandes centros urbanos se mata mais do que em qualquer guerra moderna, mais do que qualquer enfrentamento com grupos religiosos radicais, os mais temidos lá fora. O pacífico Nordeste do cabra da peste faz parte de um passado romântico, hoje substituído pela violência urbana, que se inicia na delinquência e se esparrama e infesta até os menores núcleos populacionais do interior.

Em Sergipe, os bucólicos sítios e fazendas tornaram-se motivos de preocupação: quem ainda não foi furtado, roubado, assaltado, latrocinado tem medo de ser a próxima vítima. Ora, ser herói é estar vivo. Não se respeita ninguém, nem os mais velhos, que antes, na sua fragilidade experiente e senil, impunham consideração e até certa devoção.

 

A VIOLÊNCIA CHEGOU A ARACAJU. A sina da cidade grande brasileira se instalou nesse cantinho até há bem pouco festejado pela tranquilidade. Não há motivo para pânico, mas ninguém fica mais ludicamente jogando conversa na porta de casa. Ninguém mais pára nos semáforos depois que a noite cobre com seu manto escuro o vai e vem da vida diária. Quem se arrisca a sair caminhado livremente madrugada a fora, a não ser aqueles que já conhecem os atalhos noturnos?

Antes da violência se tornar epidemia outros males vieram primeiro e se instalaram, como a corrupção e a impunidade. Que contagiaram a classe política, daí se espalhando e se aparelhando no Estado. A polícia — essa instituição complexa, que coletivamente acha que pode tudo por representar a lei e, individualmente, se sente frágil, despreparada e salarialmente desprestigiada — rende-se à corrupção, não a pune e a prolifera.

Com uma polícia corrupta, quem vai correr atrás dos bandidos?

 

Os médicos querem ganhar dinheiro. Os cidadãos querem ser atendidos

 

O Sindicato dos Médicos de Sergipe, o Sindimed, pela sua assessoria de comunicação, escreve para corrigir uma informação publicada num editorial do JC: não é verdade que eles querem reduzir a carga horária de trabalho de 40 para 2º horas semanais. É uma luta nacional, pelo Piso Salarial Médico, que é de R$ 8.230 por 20 horas. A proposta local foi entregue à Prefeitura de Aracaju no dia 212 de outubro de 2008. “O salário mínimo profissional médico é pedido para que seja pago num escalonamento de três anos, até o último ano do atual governo municipal do senhor Edvaldo Nogueira, em 32/12/2012”, diz a nota.

É um direito dos médicos acharem que é justo receberem salário de secretário municipal de Aracaju para trabalharem quatro horas por dia, cinco dias por semana. Agora, é um direito dos cidadãos que precisam deles encontrá-los nos postos de saúde e hospitais sempre que necessitarem, a qualquer dia e a qualquer hora, e serem devidamente e honestamente atendidos — e não meramente tratados com analgésicos paliativos ou encaminhados aos hospitais de urgência.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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