Colônia del Sacramento: História e Brasilidades

Se andarmos pelas ruas de pedra do centro histórico da Colônia del Sacramento, no Uruguai, e prestarmos atenção aos detalhes arquitetônicos, veremos a mescla de estilos entre portugueses e espanhóis, consequência direta da própria história da região.

Patrimônio da Humanidade desde 1995, capital da Intendência de Colônia, berço de disputas entre portugueses apoiado pelos ingleses e espanhóis apoiado pelos franceses, Colônia não é somente uma cidade histórica. É uma localidade que já pertenceu a reino português quando o Brasil era então colônia lusitana e palco de disputas mundiais por se tratar de uma região estratégica do Rio da Prata. Suas construções hoje documentam um passado que vale a pena conhecê-las. A Calle del Suspiros, a Plaza Maior, as ruínas do convento de São Francisco e o farol, a casa de Nacarello, o Museu do Azulejo e a basílica do Santíssimo Sacramento são alguns atrativos bem ao gosto do turista que curte história, cultural e ambiente bem aconchegante.

Colônia del Sacramento está para o Uruguai, como Cusco está para o Peru, Cartagena das Índias, para Colômbia, e Ouro Preto está para o Brasil. Construções, ruas, museus e detalhes, ar de romantismo convergem para um presente que atrai cerca de 60 mil turistas ao ano. E não é por acaso. Colônia del Sacramento foi fundada em 1680 pelo embaixador do Rio de Janeiro, Manuel Lobo, por encomenda do próprio rei de Portugal, que queria fundar uma colônia portuguesa no ponto estratégico entre os rios Uruguai e Paraná, via de acesso as minas de prata de Potosí e interior do Brasil. Ou seja, a cidade também está cheia de histórias que se emanam com o período do Brasil colonial.

Nesta época ainda não se sabia ao certo as definições de limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Foram mais de 100 anos de lutas entre português e espanhóis na região, intercalando o poderio da cidade entre os dois reinos e até mesmo por tropas inglesas. Somente em 1828 Colônia del Sacramento passou a fazer parte do Estado Oriental do Uruguay, após anos de guerras e invasões luso-brasileiras.

A sua história hoje se faz presente em construções de casas de pedra e barro em estilo português, mesclada com edificações em ladrilho a vista, herança da arquitetura espanhola. A própria construção da basílica do Santíssimo Sacramento em pedra e vitrais fazem referência ao tempo.

História do passado no presente

Conta-se que a cidade velha possuía uma muralha construída em 1754 e destruída em 1857, hoje apreciada em ruínas no Portão de Campo. O portão de entrada resistiu aos ataques e conta um pouco dessa história, juntamente com a Calle dos Suspiros, construída em cunha de pedra com um canal de desague ao centro e que guarda edifícios da época.

Na Plaza Mayor, muitos prédios funcionam restaurantes e lojinhas de presentes, porém era lá que se realizavam as atividades militares e o comércio que provinham dos extramuros da cidade, além de contrabando de mercadoria e escravos.

Pertinho dali ficam as ruinas do convento de São Francisco construído em 1694 e destruído por um incêndio em 1704. Vizinho a ele, o farol possui uma história trágica de suicídios de faroleiros na Guerra Grande. Hoje serve como mirante e pode ser acessado até seu topo por turistas.

O museu Português, a casa de Nacarello, o museu do Azulejo e as ruínas da casa do vice-rei são construções típicas portuguesas do final do século XVII e que hoje abrigam o passado em documentos e objetos de arte. O escudo português original antes afixado na muralha pode ser visto no museu e a casa dos azulejos possui uma grande coleção que pertencia ao artista uruguaio Jorge Páez Vilaró.

O Arquivo Histórico Regional é onde o visitante pode conhecer uma grande quantidade de informações histórica da antiga Colônia através de aquarelas originais, litografias e outras obras. Há também os museus do Período Histórico Espanhol, Indígena Roberto Banchero, o Naval e o Centro Cultural Bastião de Carmem, todos eles em casarões preservados e adaptados para a função atual.

Na basílica do Santíssimo, construção de 1699, o poderio religioso se fez presente, mesmo que a construção tenha passado por sucessivas destruições durante o período colonial.

O cais 1866 é a última parada do centro histórico. Construído em 1866, foi o antigo porto da cidade e aeroporto, já que lá chegava hidroaviões que se conectavam por ponte aérea com outros destinos.

Não deixe de tomar um café sentado as mesinhas da rua principal. Perceba que carros antigos foram espalhados pela cidade, o que confere a Colônia um ar nostálgico e apaixonante. Em um deles, o carro estacionado a porta de um restaurante também é uma mesinha concorrida por recém-casados para um jantar romântico.

Colônia del Sacramento é um misto de arte e cultura e cidade que parou no tempo para preservar sua história. É um roteiro para quem gosta do antigo e de se aprofundar ainda mais na história luso-brasileira. Afinal, Colônia foi parte brasileira, e hoje continua sendo um destino indiscutível de todos. Colônia é um atrativo difícil de descrever em palavras. Tem que vivenciá-la.

Dicas de viagem

  • No centro histórico de Colônia del Sacramento há diversas placas afixadas em homenagem ao patrono da imprensa brasileira Hipólito da Costa. Ele tinha pais uruguaios e viveu a infância em Colônia. A última homenagem foi feita pela Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, no último dia 12 de abril de 2017, dentro da programação do Congresso Internacional da Abrajet.

  • De abril a junho e agosto a outubro, Colônia recebe menos turistas que na alta estação. Algumas lojas e restaurantes fecham e só retornam no verão. Veja o período que mais lhe convém para visita-la.

  • Vale a pena pernoitar na cidade para conhecê-la com mais calma e detalhes. Há diversas opções de hospedagem em Colônia, desde hotéis de bandeira internacional, como o Radisson, e hostels. Consulte um agente de viagem.

  • Se quiser desbravar mais a região, na vizinha Nova Helvécia fica o Hotel Nirvana, um empreendimento cinco estrelas que fica na denominada Colônia Suíça, com instalações bastantes confortáveis a poucos 50km de Colônia. A diária custa, em média, $ 180 para o casal com café da manhã. Nova Helvécia é um povoado de imigração suíça, italiana, alemã e francesa, que mantém costumes europeus.

  • Colônia fica entre Buenos Aires e Montevidéu (180km de distância), as margens do rio da Prata. Apesar de ter aeroporto, há diversas e fáceis maneiras de chegar. De Montevidéu a opção mais rápida é alugar um carro e percorrer a Rota 1. Se for de ônibus, as empresas partem do Terminal 3 Cruces, que fica anexa ao shopping de mesmo nome. Dali partem diversos ônibus praticamente a cada hora para Colônia. As principais empresas que fazem o trajeto (vendem inclusive pela internet) são a COT, Turil e Chadre. Como são muitos horários, compra-se o ticket na hora também. A viagem dura em média 2h40.

  • Diversos barcos (buques) fazem a ligação diária entre Colônia e Buenos Aires num trajeto que pode levar de uma a três horas, dependendo da embarcação e da tarifa pela qual você pagou. A principal empresa que faz essa rota é a Buquebus, que também tem barcos para Montevidéu. No site você encontra os horários e categorias. Se você estiver de carro, dá para embarcar com seu veículo também. Outras duas empresas que fazem o trecho Buenos Aires – Colônia são a Colônia Express e Seacat.

*Tô no Mundo viajou para participar do I Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo, em Punta del Este.

Fotos: Silvio Oliveira

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