O caso é muito sério. Eu mesmo, já passei um baita constrangimento em um mercadinho. Dei uma nota de R$ 50,00 e a moça do caixa a colocou, automaticamente, um pouco acima da altura dos olhos, para, evidentemente, verificar a sua autenticidade.Franziu a testa e a levantou mais um pouco. Tornou a franzir a testa e olhou para mim.Dei aquele sorriso de boca fechada. A moça girou a cadeira, procurando um ângulo mais luminoso, e tornou a examinar a nota.Olhou novamente para mim, agora com uma cara de desconfiança. Dei-lhe outro sorriso, mostrando um pouco os dentes – o chamado sorriso amarelo. Ela levantou-se e falou alguma coisa para o empacotador. Ele saiu e logo voltou com um cidadão de gravata , ostentando um vistoso crachá – Supervisor Operacional. O cidadão pegou a nota e olhou para mim. Àquela altura já havia uma certa inquietação na fila.Ouvi sussurros e uma voz abafada falou, atrás de mim; “ deve ser falsa”. Outra voz: “ e parecia até uma pessoa distinta”. Mais outra voz: “ as aparências enganam.Hoje em dia a gente não pode se deixar enganar por um sujeito bem vestido e simpático”. Um vigilante do mercadinho, com dois metros de altura por um de largura, assim como por acaso, postou-se em frente ao caixa onde eu estava. Os sussurros aumentaram. O Supervisor examinou a nota, cuidadosamente. Olhou para mim. Olhou para a nota, mais cuidadosamente ainda. Olhou para mim. Olhou para a nota, com extremo cuidado. Balançou a cabeça e olhou para mim. —- Desculpe, senhor. É que a gente tem que ter muito cuidado.As falsificações estão, cada vez mais, difíceis de serem detectadas. E virando-se para a moça do caixa. —- Tudo bem. Pode passar o troco do senhor. atrás de mim, o coro de vozes decepcionadas. —-Aaaaaahhhhhh….. Outro dia, na feira do Grageru, um feirante estava se lamentando por ter recebido uma cédula falsa de R$ 50,00( é a preferida dos falsários), e só soube quando foi pagar a conta de luz em uma casa lotérica. Mesmo ficando com o prejuízo, ainda deu sorte em não ter ido preso, porque para a lei não importa se a pessoa portadora da nota é inocente. A pena pode ser de até dois anos de cadeia. Realmente, o Banco Central vem alertando para o aumento das falsificações de notas de R$ 10,00, R$ 50,00 e R$ 100,00. E o fato é muito preocupante, porque os falsários estão usando equipamentos de última geração e fazendo notas até melhores do que as verdadeiras. O feirante queria saber como fazer para reconhecer as notas falsas. —- Simples – falei -, basta seguir as orientações do Banco Central, ou seja: conferir a marca d´água, a imagem latente, o registro coincidente e a textura áspera do papel. O angustiado feirante fez uma cara de quem diz “ não entendi bulhufas”. Expliquei, então, detalhadamente o processo, sempre seguindo as orientações práticas do Banco Central. MARCA D´ÁGUA – segure a nota contra a luz, do lado que contém a numeração – quanto mais forte a luz, melhor. Procure na área clara, à esquerda, a Bandeira Nacional ou animais da fauna brasileira. —- Qualquer animal ? – perguntou o feirante. —- Não. Só os da fauna brasileira. —- Fauna brasileira ? —- Sim. Os das matas do Brasil. —- Ah, bom. Mas a gente então tem que saber todos os bichos do Brasil? —- Claro. Ele tirou o chapéu, coçou a cabeça e perguntou se poderia receber a nota se tudo estivesse certo. —- Claro que não – falei, academicamente -, ainda tem que verificar itens importantíssimos. IMAGEM LATENTE – observe a imagem latente no lado da nota com a numeração, a partir do canto inferior esquerdo. Ele tornou a coçar a cabeça. —- Mas o que é esse negócio de latente? —- Latente é o que está escondido, disfarçado. —- E por que está disfarçado? —- Para atrapalhar a falsificação. —- Como? —- Simples: o falsário faz a nota e não vê o latente. Aí a gente, verificando cuidadosamente, sabe se ela é ou não falsa. —- Mas se o falsário não vê o tal latente, como é que a gente vai ver ? —- Seguindo as orientações do Banco Central. —- Mas se o Banco Central divulga que tem o latente, o falsário poderia tentar fazer o troço. —-Certo Muitos tentam, mas é difícil. Só os grandes falsários conseguem. Mas vamos continuar. Sente-se confortavelmente e segure a nota na altura dos olhos. Ele colocou o chapéu e coçou um ouvido. —- E se a gente não tiver onde sentar? —- Bom, nesse caso, fique firmemente de pé, deixando as pernas com uma abertura um pouco maior do que a largura dos ombros e verifique se as letras B e C estão visíveis. —- Se estiverem, posso receber a nota ? Suspirei. —- É claro que não. Esqueceu os outros pontos que têm que ser examinados? REGISTRO COINCIDENTE – observe a estrela do símbolo das Armas Nacionais nos dois lados. —- Sentado? —- Não. Fique de pé e levante a nota acima da cabeça, com as duas mãos, e contra a luz forte. Ele coçou o outro ouvido. —- E se não tiver luz forte? —- Acenda uma lanterna potente. —- Mas como vou pegar a lanterna se estou com as duas mãos segurando a nota? —- Bem, peça ao seu ajudante. —- Não tenho ajudante. —- Então peça ao freguês. —- Mas se o freguês for o falsário, não vai segurar a lanterna direito. Eu já estava impaciente, por ele complicar tanto uma coisa tão simples. —- Bom , peça então ao colega do lado, ao fiscal da feira, sei lá. —- Está bem, continue, por favor. —- Olhando a nota contra a luz, o desenho impresso de um lado deve se ajustar exatamente no mesmo desenho do outro lado. —- Só isso? —- Só. Ele futucou o nariz. —- Depois de tudo isso posso receber a nota? Tornei a suspirar. —- É claro que não. Esqueceu a textura? —- Que diabo é isso? Esfreguei o dedo indicador no polegar. —- Entendeu? —- Não. —- Olhe, tem que verificar se a nota é lisa ou áspera, arranhenta. A nota falsa é mais lisa do que a verdadeira. —- Agora terminou? —- Sim. —- Então se tudo isso que você falou estiver certo eu posso receber a nota? —- Pode. —- Mas se eu receber várias notas de uma vez só, tenho que fazer tudo isso com todas? —- Tem. Ele tornou a tirar o chapéu e coçou a cabeça. Colocou o chapéu e futucou os dois ouvidos. —- Escute, não é mais fácil a polícia prender os falsários?
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários