Competição de natação num lago impróprio para o banho

No domingo pela manhã dia 23 de março, eu estava pedalando na minha bike na região dos lagos da nossa bela orla, quando observei um grupo de rapazes treinando natação no lago próximo ao oceanário, sendo comandados por um treinador. Fiquei preocupado, pois, todos sabem que é proibido nadar nos lagos (existe uma placa de proibição).

Fui até o treinador dos atletas, que eram de fora do estado, e informei que era proibido nadar no lago pela presença de alto índice de coliformes fecais. Para a minha surpresa, o treinador me disse que não tinha essa informação e que ali no lago seria realizada uma competição nacional. Assustado, liguei para um amigo que é técnico da Adema e ele confirmou que a água dos lagos era imprópria para o banho e que a própria Adema não tinha sido consultada sobre a realização de uma competição de natação num lago impróprio para natação.

Retornei à região dos lagos e procurei a Coordenação da competição esportiva. Fique mais assustado, pois se tratava de uma competição nacional, promovida pela Federação de Triátlon de Sergipe (Fetrise), com chancela da Confederação Brasileira de Triátlon (CBTri), e contava com o apoio de órgãos governamentais do estado e município de Aracaju. Como médico sanitarista e professor de Biologia, mesmo sabendo que não teria poder de proibição, informei aos coordenadores de que a água do lago era imprópria para o banho e, consequentemente, para competições onde haja o risco da ingestão de água contaminada com fezes humanas e de outros animais.  Os coordenadores me informaram que tinham autorização não da Adema, mas do ITPS – Instituto de Tecnologia de Sergipe e IPH – Instituto Parreiras Horta.
Continuei inconformado com a resposta, e fiz o registro fotográfico da competição de natação, que aconteceu no período da tarde do domingo, num lago onde tinha uma placa proibitiva de atividades de natação.

Denomina-se Balneabilidade, a qualidade da água destinada à recreação de contato primário, isto é, de contato direto (natação, mergulho) onde existe a possibilidade de ingestão de água. O parâmetro indicador básico para a classificação das praias e lagos quanto a sua balneabilidade em termos sanitários é a densidade de coliformes fecais. As águas são classificadas em quatro categorias diferenciadas, quais sejam, Excelente, Muito Boa, Satisfatória e Imprópria, de acordo com as densidades de coliformes fecais ou E. coli resultantes de análises feitas em  amostragens consecutivas. As categorias  Excelente, Muito Boa e Satisfatória podem ser agrupadas numa única classificação denominada Própria. Quando o  limite de coliformes fecais por 100ml é superior a 1.000/100ml após várias coletas semanais, as águas são consideradas Impróprias.

Segundo informações que obtive, existem alguns locais do lago da orla onde estava sendo realizada a competição esportiva, que  apresentam até  22.000 coliformes fecais/100ml. Para mim, a sensação era a de estar assistindo atletas “nadando entre as fezes”. A presença de alto índice de coliformes fecais na água indica a presença de fezes humanas e/ou de outros animais. O que preocupa para a saúde das pessoas, um banho em água imprópria?  A grande possibilidade de contágio das chamadas “doenças de veiculação hídrica”. As mais conhecidas de transmissão direta pela água contaminada são: hepatite A, gastroenterites, febre tifoide e cólera. Existem ainda as doenças de transmissão indireta pela água: esquistossomose, ascaridíase e outras.

Na semana seguinte, continuei inconformado com aquela situação e mantive contato com a Adema, que prontamente fez novas análises da água do lago da orla, confirmando a minha preocupação: é alto o número de coliformes fecais. Mantive contato com o ITPS e IPH e os técnicos me informaram que não foram consultados sobre a realização de uma competição em lago impróprio para o banho.

A minha preocupação continua com os lagos da orla: o que está contribuindo para o alto índice de coliformes fecais nos lagos da orla? Esgotos clandestinos de hotéis e bares, drenando para os lagos? Não tenho visto pessoas usarem o lago como sanitário… É um assunto que precisa ser estudado com muita atenção.

Por amor à minha terra Sergipe e como cidadão, médico e professor, quero fazer a minha parte. Encaminharei este artigo a todos os órgãos ambientais e de promoções esportivas do meu estado. Foi triste para eu observar, na semana que se comemorava o “DIA MUNDIAL DA ÁGUA”, uma competição de natação nacional em um lago impróprio para o banho.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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