Consumismo e consumo político

Ninho: em homenagem aos namorados

O próximo domingo (12 de junho) é uma daquelas datas maravilhosas do ano em que se dá e se espera receber presente. Dia para exacerbar nosso “desejo, necessidade e vontade”. Data para o consumo desmedido, motivado, sem culpa? Calma, não estou sugerindo a ninguém que deixe seu amor sem um mimo especial nesse dia. Eu mesma adoro presentear, principalmente sem data marcada.

Apenas estou aproveitando o ensejo para levantar uma questão que é das mais graves das sociedades modernas: o consumismo. O assunto é polêmico, mas sua discussão é necessária, mesmo porque repensar nossa atitude em relação ao que consumimos é a forma mais acessível de atuação para cada cidadão. Ser ou não ser um consumidor responsável faz toda a diferença para o meio ambiente e, principalmente, para nós mesmos.

E aqui se entenda não necessariamente consumir menos (isso também, é claro!), mas, sobretudo consumir melhor. É preciso informação, vontade e capacidade de decisão autônoma. Seja mais critico em relação à publicidade. Sem isso, será mais um na multidão atendendo as imposições da mídia e das promoções dos shoppings. Tenha critérios próprios, se baseie nas suas necessidades.

A propaganda quer você um eterno insatisfeito (aprendi isso numa aula do curso de Publicidade, atualmente trancado). Em síntese (perfeita e maravilhosa da jornalista Adilia Belotti): “Correr atrás das ilusões do consumo cansa. Acreditar que a felicidade vem junto com o carro do ano, o vestido da moda e o corpo da top model é um ótimo alimento para frustração”.

Fotos: Edinah Mary

Seja um consumidor responsável – Me diga, pelo amor de Deus (sim eu creio Nele), para quê você precisa de mais uma calça jeans, quando você já tem 10 delas no armário e muitas sem uso há mais de um mês?! Compre coisas por sua utilidade, em vez de status. “O excesso de bens materiais complica a vida e aumenta as preocupações. Viver ansiando por bens dispensáveis e por uma posição social de destaque pode ser um desgaste pouco compensador”*.

E pense assim: tudo o que você tem em excesso, com certeza está faltando para alguém. O conhecimento hoje disseminado de que os recursos naturais, principalmente os não-renováveis, em todo o mundo estão se esgotando, é motivo suficiente para pensarmos no assunto e, mais que isso, seguir um grande número de pessoas que vem tomando atitudes de mudança em relação a isso. Mas, para que isso faça algum sentido e justifique nossa mudança é preciso ter o sentimento de pertencimento, ou seja: é pensar que eu faço parte e não somente que preciso desses recursos naturais para viver.

Consumo sustentável – Use seu poder soberano de consumidor e faça escolhas conscientes. Boicote produtos e práticas nocivas ao desenvolvimento equilibrado da sociedade.  Rejeite produtos com vida útil curta, escolha os que duram mais. Prefira algo atemporal que perdure por mais de uma estação, atitude mais que benéfica frente ao consumo exagerado. Atitudes cidadãs estão cada vez mais associadas à escolha ou repulsa por determinadas marcas e produtos.

Simplicidade voluntária – Aprenda a viver com menos, seja frugal. Nossa tendência é dar vazão aos desejos, sem pensar no futuro, mas ter um modo de vida mais simples é algo urgente! Lao-tsé (570 – 490 a.C.), fundador do taoísmo, dizia: “Aquele que sabe que o que tem é suficiente, é rico”. O planeta não suportará se toda a sua população tiver o padrão de consumo norte-americano.

Consumo político – Isso existe? Claro que sim. Mas essa dúvida foi a minha até pouco tempo. Soube mais a respeito recentemente, mais precisamente no mês de abril passado, durante o Encontro Interdisciplinar de Comunicação Ambiental (Eica), realizado pelo Lica/UFS. A professora doutora Fátima Portilho (autora do livro Sustentabilidade Ambiental, consumo e cidadania) me apresentou esse tema, que faz parte de sua pesquisa e que achei dos mais interessantes de todo o evento.

Trata-se de movimentos de economia solidária, comércio justo, indicação geográfica, slow food e os movimentos de consumidores organizados (ou compras coletivas). Ação política na esfera do consumo individual, o que tem sido chamado de consumo político. Cada vez mais nos posicionamos como atores socialmente responsáveis também no consumo, essa é uma das descobertas dos pesquisadores. As escolhas cotidianas por determinados produtos em detrimento a outros têm sido uma das formas mais marcantes e eficazes de atuação política atualmente. Um determinado produto, bem ou marca é procurado ou rejeitado a partir dos valores que revelam e das práticas empregadas na produção de suas das mercadorias.

Adote o Buycott – O termo mescla as palavras em inglês boycott (boicote) e buy (comprar). O buycott é o boicote a partir das suas decisões de não compra. Se você não concorda com os valores relacionados a uma marca, a melhor forma de boicotá-la é não adquirir os seus produtos ou serviços. A internet se revela como uma arma poderosa nesse tipo de ativismo. Ou seja, o consumo pode deixar de ser uma compulsão para se tornar um instrumento de ação política, incorporando valores como solidariedade e responsabilidade socioambiental.

O SUPREMO CASTIGO (Mário Quintana)

Em todos os aeródromos,
em todos os estágios,
no ponto principal de todas as metrópoles, existe
– e quem é que não viu? –
aquele cartaz…
De modo que,
se esta civilização desaparecer
e seus dispersos e bárbaros sobreviventes
tiverem de recomeçar tudo desde o princípio
– até que um dia também tenham os seus próprios arqueólogos
– estes hão de sempre encontrar,
nos mais diversos pontos do mundo inteiro,
aquela mesma palavra.
E pensarão eles que coca-cola era o nome do nosso Deus

*muito do que está aqui foi baseado no guia “Como cuidar do seu meio ambiente”, da coleção Entenda e Aprenda da BEI Comunicação. (Meu livro de cabeceira desde 2005. Rrecomendo.)
** a abrangência desses tópicos me fará voltar ao tema em breve para desenvolver a idéia de cada um deles.

Deixo meu agradecimento especial a repórter fotográfica Edinah Mary, querida colega de trabalho, que cedeu voluntariamente suas belas imagens e se colocou como parceira neste Blog. Beijo grande!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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