Volta e meia me surpreendo quando alguém me fala sobre criatividade na educação. Na maioria das vezes a pretensa alusão à criatividade é porque a escola ou colégio dos filhos tem salas de informática, aulas de balé/dança ou desenho. É aí que percebo o quão tênue é o valor que a maioria dos pais dão a importância de desenvolver o potencial criativo dos seus filhos. E a criatividade na escola se inicia à medida que deixamos – como educadores – de dar tanta ênfase apenas ao conteúdo e conseguimos preparar os alunos para a verdadeira necessidade do aprender, de como fazer boas perguntas, prestar atenção às aulas e saber valorizar aquele momento como o seu tempo para aprender, ensiná-los a estarem abertos aos novos conceitos e avaliá-los, e principalmente a saberem transformar a informação recebida em sala de aula em conhecimento (1). E, fundamentalmente a estarem atentos ao fato de que muitas vezes o que consideramos hoje como certo e verdadeiro poderá estar mudando dentro de muito pouco tempo. São muitos os aspectos que devem ser considerados, quando abordamos a criatividade no ensino. Todavia deverão estar basicamente focados no atitudinal do pensamento criativo, ou seja, no entendimento de que para mudarmos qualquer comportamento ou conceito externamente, precisamos primeiramente refocá-lo internamente no nosso pensamento. Em outras palavras para mudarmos os nossos comportamentos externos, precisamos antes modificar nossas atitudes internas (maneira de pensar). É dentro desse conceito essencial que o aprendizado de maneira criativa precisa deixar de ser um produto, uma meta e passa a ser considerado como um processo que dura por toda a vida. Porque na verdade nunca aprendemos o suficiente e precisamos estar preparados para sempre termos oportunidades e disponibilidades para aprender mais, sejamos professores, mestres, doutores ou pós-doutores, pobres ou milionários. Por este motivo é importante considerarmos que a curiosidade é uma habilidade fundamental do processo criativo. Todavia, infelizmente a nossa cultura ocidental tem procurado arrefecer ou até mesmo excluir a nossa curiosidade. Como conseqüência disto, à medida que “matamos” a nossa curiosidade natural vamos simultaneamente perdendo a nossa capacidade de criar. Logo, à medida que os acontecimentos vão se tornando rotineiros nas nossas vidas, não iremos nutrir o nosso espírito criativo e conseqüentemente não se apresentam novas oportunidades, novas informações e novos conceitos. Todavia, um indivíduo de mente criativa é profundamente curioso e precisa fomentar essa curiosidade; pois caso contrário irá ter muito pouco interesse pelo mundo que o cerca, pelos acontecimentos, pelas notícias e pelo que faz as coisas funcionarem ou não. Assim sendo, será essa curiosidade natural que irá estimula-lo a investigar o que lhe cerca, e até mesmo procurar fazer algo novo ou até mesmo mudar o que já está pré-estabelecido. Portanto, a curiosidade está diretamente ligada ao hábito de criar. As crianças são naturais e sabiamente curiosas. Todavia, a nossa educação ocidental nos impulsiona para estancarmos a essa curiosidade natural, porque é “feio”, não é “educado”, não é “bonito” e por aí vai. À medida que nos tornamos adultos deixamos a nossa curiosidade de lado e ficamos à mercê apenas do que nos é permitido e estabelecido. E dessa forma vamos estabelecendo as nossas “zonas de conforto”, ou seja, áreas até onde acreditamos que poderemos ir e nos sentiremos seguros. E, toda vez que nos ameaçam a sairmos delas nos sentimos inseguros; assim sendo, recusamos de alguma forma qualquer alternativa que nos é oferecida e, dessa maneira, vamos estabelecendo limites os quais, muitas vezes, nos deixam presos por toda a nossa vida. Justamente porque as zonas de conforto são para nós os limites das rotinas das nossas vidas e representam um conjunto de pessoas, lugares, coisas e idéias que são aceitáveis e se transformam em nosso território seguro. Jordan Ayan (AHA!, 1979) faz uma comparação bastante interessante com um funil, para que possamos entender a importância da curiosidade em nossas vidas (Fig. 1). “O que sabemos”: está na gota que sai do funil. Ou seja, trata-se da quantidade de informações que acumulamos em toda a nossa vida. Essas informações foram filtradas pela nossa mente e estão disponíveis quando necessitamos dela. “O que sabemos que não sabemos”: é toda informação que está contida na parte mais larga do funil. Ou seja, é toda informação que está disponível, mas que precisamos assimilar e acrescentá-la à nossa base de conhecimento pessoal. “O que não sabemos que não sabemos”: são todas as informações que estão disponíveis, um vasto sortimento de informações das mais diversas áreas e das quais nem mesmo temos conhecimento. Trata-se de toda a sabedoria do universo. Portanto, a curiosidade é o processo de explorar o que existe acima da boca do funil. Na verdade significa o objetivo de estar continuamente colocando mais informações dentro do funil para que possamos alimentar o nosso espírito criativo e como conseqüência estarmos aptos para usar mais e melhor a nossa imaginação e criatividade. (1) – Informação: “dado” estruturado memorizado ou armazenado no cérebro; conhecimento quando sei o que posso fazer com a informação recebida. (*) Fernando Viana é diretor presidente da FBC fbc@fbcriativo.org.br
Se por um lado sabemos que todos nós somos criativos, é importante que se estimule na escola um clima para a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento / resgate da criatividade dos alunos. E a criatividade das pessoas não está disponível para ser aplicada apenas nas artes e sim para todos os processos e cenários da vida. Portanto, é de se esperar que a criatividade esteja presente em qualquer profissão ou atividade e que o indivíduo que desde cedo teve oportunidades para resgatar a sua criatividade, com certeza terá um diferencial de competência para oferecer.
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