Defesa das prerrogativas e a precipitação da mudança

Estamos diante da eleição mais atípica da Ordem nos seus 80 anos de existência. Isso é muito proveitoso para os advogados e para a sociedade que tem acompanhado o cotidiano da campanha mais badalada e onerosa de todos os tempos. O tema mais debatido entre os candidatos é sem dúvida a defesa das prerrogativas dos advogados, sendo as demais propostas secundárias, salvo os ataques pessoais e fatos postos que não eram de conhecimento público. Vemos também que as redes sociais, diga-se de passagem, foi a maior ferramenta deste pleito sendo utilizada como uma lavanderia onde as partes lavam, enxaguam e passam acontecimentos de outrora que até fizeram parte juntos.

Procurei me inteirar do porquê desta bandeira em defesa das prerrogativas dos advogados para ter uma idéia do que está por trás deste assunto tão debatido entre os candidatos. Primeiro fui ao texto da Lei n° 8.906/94 em seus artigos 6º e 7º., onde garante aos advogados o direito de exercer a defesa plena de seus clientes, com independência e autonomia, sem temor do magistrado, do representante do Ministério Público ou de qualquer autoridade que possa tentar constrangê-lo ou diminuir o seu papel enquanto defensor das liberdades. Isso é fato e qualquer velho, mediano e novo advogado conhece a lei e sabe muito bem se defender, pois é um dos múnus da advocacia.

Advogo há 20 anos e nunca tive nenhum problema com as prerrogativas que a lei me concede. Sempre tratei o magistrado – desembargador e juiz – e a servente do fórum com urbanidade e respeito. Sempre acolhi o delegado de polícia da mesma forma que carcereiro, escrivão o policial e o secretário da pasta. Sempre cumprimentei o procurador geral de justiça da mesma maneira que trato o recepcionista terceirizado que faz sempre a mesma pergunta: “… O senhor já tem cadastro? Deseja falar com quem?…”. E com as palavras mágicas de bom dia, boa tarde e boa noite tão usuais na minha labuta na advocacia não me faz sofrer nenhuma neura enquanto no exercício da profissão.

Acontece que nestes últimos 12 anos a advocacia cresceu. As faculdades despejaram bacharéis de direito desordenadamente e muitos desses são aprovados na OAB apenas pelo critério intelectual. Ser advogado é a segunda opção de todas as profissões e não de poucos que têm vocação para o ofício. Além do mais os que são impedidos de advogar, em seu horário de folga, trabalham em escritórios e funcionam como verdadeiros para-legais cooptando clientes para os “sócios” de forma explícita. Isso é fato! Estou a produzir um dossiê sobre este assunto que futuramente será encaminhado ao novo presidente da Ordem. Isso sim é preservação coletiva das prerrogativas dos advogados.

A realidade é que um dos movimentos mais honestos e aglutinadores  que a advocacia sergipana teve em sua história, os “Krausídicos”, que caso mantivesse sua intenção em  eleger o advogado Inácio Krauss à presidente da Ordem somada à liderança incontestável do advogado Aurélio Belém e a serenidade dos advogados Arnaldo Machado, Clodoaldo Júnior, Antônio Correia, Frederico Morais, João Maria, José Alvino e outros se deixaram sucumbir pela magnitude e poderio econômico. “Falta algo mais!”, disse-me um amigo.

Lembro que tínhamos uma pesquisa que Inácio batia quase 30 pontos. Era o advogado da vez capaz de enterrar a dinastia que manda e desmanda na Casa do Advogado. Víamos em Kauss a mudança de uma OAB nova, forte, sem vícios, sem parentesco, ou seja, uma AOB formada por advogados predestinados a mudar o rumo de uma classe que cresceu mais de 400% nos últimos 20 anos. Tínhamos reuniões que varavam a noite e encontros matinais todas as semanas. Nossos pais, a exemplo do seu Osvaldo do Espírito Santo, pai de Aurélio, nos emprestava sua sabedoria de homem vivido nos colocando nos trilhos quando movidos pela emoção nos excedíamos. Regíamos nosso pensamentos em um colegiado onde a maioria deliberava. Contávamos uns com os outros de forma harmoniosa e até nos estranhávamos, mas logo, logo o litígio era sanado. Comandávamos em grupo e tínhamos acesso os mais antigos e aos mais novos. Éramos livres! Não tenho dúvidas que os “Krausídicos” elegeriam Inácio.

Talvez, por inexperiência e por não ter ouvido as vozes dos “Krausídicos” este sucumbiu-se pela ambição do grande “general”. O fato é que em todas as entrevistas e conversas particulares HC afirma que está indo para o sacrifício ao se candidatar a presidência da Ordem e ainda mais que foi um grupo de advogados que o procurou. Ledo engano, fomos procurados, assediados e desarticulados. Faltou um “Espírito Santo” para iluminarmos.

Hoje os mesmos 30 pontos que tínhamos quando Inácio Kraus era o nosso candidato é o que tem Henry, pois o tempo, os debates e a companha de um modo geral mostrou aos “Krausídicos” que poderiam chegar à presidência da Ordem. Vejo que Aurélio Belém carrega a candidatura da Chapa 2 com heroísmo. Os lindos olhos castanhos de Aurélio Belém não brilham maiscomo antes e os seguidores do extinto “Kausídicos” perderam o entusiasmo pela campanha. Isso fato! E contra fato não há argumentos.

HC não somou! Dividiu! E a primeira diáspora deu-se quando o “general” pegou o comando dos “Krausídicos”. Muitos saíram e poucos voltaram. Efetivamente os advogados e a sociedade assim com a OAB Federal não admitem que as pessoas se perpetuem no poder. O terceiro mandato, caso venha ocorrer vai ser o maior erro da advocacia sergipana, assim como foi a Chapa Única nas últimas eleições. É preciso mudar! É necessário darmos oportunidade para novos advogados irem para os Conselhos Federal e Estadual, atuarem como tesoureiro, primeiro secretário e demais outros cargos que existem na Casa da Democracia, a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Sergipe. E muito mais temos que ter um novo líder e não deixar nossa Casa ser comandada por um feudo. Pensem e reflitam causídicos!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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