Delirantes e Delirados.

Errata necessária.

Nos meus escritos, e na vida, cometo muitos erros, confiando em Deus, perante nenhum justo existe, o acolhimento de meus deslizes, que sempre espero poder assumi-los, sem reivindicar um perdão a mais do que aquele merecido.

Mas é preciso consignar um erro a merecer meu próprio reparo.

Eu disse no texto passado, que o Senador Marcos Rogério com o seu falar brilhante eram oriundos de Roraima, em voos bem acima de altura Pacaraima.

Não, não é.

É de Rondônia!, do antigo Território do Guaporé!

Na geografia da minha infância, havia vinte Estados e cinco Territórios: o Acre, o Amapá, o Rio Branco, a ilha de Fernando de Noronha e o Guaporé.

Antigo traçado da “Estrada da Morte”, Madeira-Mamoré e a Ponte do Abunã, atravessando o Rio Madeira no perdido Guaporé.

Pois bem! Vem do antigo Guaporé o Senador que plaina em  melhor destaque na CPI da Cloroquina, a mesma que se atola no Gabinete das Cinzas, por Paralelo, e agora vem se afogando na compra que nunca houve, de outras vacinas.

Reparos feitos, sobram-me o Pacaraima e o Abunã, na estrada de ferro Madeira-Mamoré, tempos titânicos de Percival Farquhar (1865-1953), agora com uma ponte rodoferroviária de 1500 metros, atravessando o Rio Madeira, naquele fundão de mundo, só conhecido pelo Especial Mad Maria, contado pela Rede Globo, tendo Tony Ramos como Farquhar, segundo ficção realista de Marcio Souza, ponte agora inaugurada por Bolsonaro, esse realizador Presidente que vem mudando o país.

Percival Farquhar e seus convidados inaugurando um trecho da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, perdido nas noites dos tempos.

 

Mas, deixemos as agruras do Madeira.

 

Vamos para outras loucuras, menos titânicas, delirantes e deliradas, em excesso de besteiras.

 

Delirantes e Delirados

 

Georges Clemenceau foi um político francês muito importante, líder de seu país na 1ª Grande Guerra.

Clemenceau destacou-se sobremodo no Affaire Alfred Dreyfus, processo assim conhecido, quando este oficial, trabalhando no alto comando do exército francês, só por ser de ascendência judaica, fora suspeito, processado e condenado como espião a serviço do inimigo alemão, no maior erro judicial que dilacerou a 2ª República Francesa, na última década do século XIX, e início do século XX, coisa antiga, que só vale lembrar, porque o homem é o mesmo e comete os pecados de sempre.

O caso Dreyfus, por exemplo, é um modelo notável de intolerância e farsa, aqui parecido com o erro judiciário dos “irmãos Naves”, este fulcrado numa morte sem cadáver, aquele em rabiscos obtidos em feitos comuns de espionagem entre nações inimigas, ambos produzindo intolerância e excesso de jactância de delegados e investigadores, berloques de Sherlocks, essa coisa dos que se creem bem maior que o demo, na investigação e elucidação das coisas que o diabo põe e Deus não consente, quando a vã filosofia não deslinda o que se não deseja.

No caso dos irmãos Naves, réus confessos restaram via delegacia, na porrada e na pancada, sem qualquer dúvida por barbaria, o feito não feito, sendo transitado e julgado via júri popular, salvo engano, manos que iriam mofar na cadeia curtindo sangrias e cicatrizes, se algum tempo depois, anos talvez, o morto por um deslize não tivesse ressurgido, leve e solto; ressuscitado, em plena saúde, inconsútil, sem qualquer rastro cicatricial de ofensa!

Foi um escândalo, em tempo de Estado Novo, de Ditadura, porque o morto ressurrecto, soubera de tudo, mas ficara mudo, fingindo que morto estava, por confortável, deixando a cana comer e a pia gemer em cima dos irmãos Naves temendo lhe sobrar um respingo por pior, o que sempre se espera, de quem se faz enganar, mas não gosta que alguém o perceba.

No caso do Capitão Alfred Dreyfus, não houve morte nem sobrou cadáver.

O corpo de delito era a própria França, que buscava culpados para seus erros e chagas, dividida entre uma esquerda jacobina, radical, e uma direita, menos católica mais que tudo: reacionária!

Algo parecido com o Brasil, nossa “pátria mãe gentil”, que sonha com a vinda de uma terceira via, mesmo que seja um torpedo, um petardo qualquer, que massacre os seguidores do Ex-Presidente Lula, recentemente alforriado, e os “terraplanistas” bolsonarianos, culpados de todos os crimes impensáveis e impensados, já julgados em todas as vias e sem requerer transitados.

Diferente de agora, em que vige no mundo um temor da direita ameaçar no voto uma preferencia popular, vigia na França, igual a seus irmãos europeus, uma ampla e generalizada campanha antissemita, em tempos de “belle époque”, hoje abafada, fingindo de morta, e atribuída apenas aos partidários de Hitler, que ainda estava chupar leite via chupeta.

Alfred Dreyfus cumprindo sua prisão na Ilha do Diabo, no meio do Oceano Atlântico.

No tempo de Dreyfus, os judeus eram culpabilizados de todo o mal vigente na civilização ocidental, sobretudo do seu capital, lentamente aquinhoado, em poupança avara e renhida, muito mais por parcimônia própria e ascese, do que o comum folclore difamava por vil remunero em comum usura e exploração.

Entre os muitos pecados nunca assumidos, a alma francesa restara fendida após suas Revoluções e constantes Jacquerias, sangrentas, todo e sempre, o pensamento de esquerda pendendo do jacobinismo agnóstico para o comunismo, almejando e defendendo, no pau e no cacete, a fruição integral e geral dos bens capitalistas, enquanto a direita, sobretudo, aquela ditada pelos crentes, Claudel, Péguy e Bernanos, notáveis poetas e escritores, perfilava um gnosticismo reacionário e excludente, reflexos ainda das Encíclicas “Ineffabilis Deus”, “Quanta Cura”, e por pior, do “Sylabos”, todas de Pio IX, o Papa que excomungando todos, “urbe et orbe” também restou preso e recolhido no Vaticano para sempre.

Se no Vaticano o Papa restou jungido, na França os católicos ficaram sobremodo reacionários, mesmo porque razão não lhes faltava diante dos infaustos acontecimentos derivados da Comuna de Paris, cuja comemoração de sesquicentenário em 27 de maio, em tempos democráticos de 2021, ensejou um quase massacre de uma pequena procissão quando esta passava junto ao cemitério Père-Lachaise, promovida por communards saudosistas e “antifas”, palavra agora na moda, declarados, sempre multi tolerantes e pacíficos.

Em tempos mais intolerantes, em 1894, daí surgindo o Caso Dreyfus, a França curtia os seus pecados dos excessos da Comuna, acontecida face a derrota contra os alemães em 1870, quando se descobriu um manuscrito, no lixo recolhido da embaixada alemã em Paris.

Entregue à inteligência especializada, foi construído um “bordereau” que incriminaria a autoria ao Capitão Alfred Dreyfus, homem sisudo e ascético, afeito a poucas conversas e raros amigos, alguém cuja conduta impecável, suscitava inveja e desconfiança, a tantos que o viam enviesado, enquanto suspeito ideal, por judeu, o que lhe caía bem na incriminação.

Se não havia um morto a desenterrar, como no caso dos irmãos Naves, cabia a ampla “sherloquia” gaulesa desvendar pela grafia o autor dos bilhetes coligidos e comparados, o Dreyfus tendo que escrever textos iguais, com erros de grafia inclusive, rabiscados em pé, deitado e sentado, e até em ponta-cabeça, ou no milho ajoelhado, tudo aquilo que a vã filosofia podia imaginar, enquanto romance infame ou liame de realidade com um inquérito entre masmorras de parede de uma delegacia.

Mas, que entendo eu de delegacia?

Logo eu que de nada entendo!

Só vejo os fatos e arrumo algumas histórias.

Agora mesmo estamos vendo uma delegacia espraiada na CPI da Cloroquina que eu chamei de CPI do Galinhão, porque ali não vejo águia a louvar as gralhas e os voos.

Ali voam bem rasteiros os Senadores: uns em falas delirantes, sem serem afeitos, ao que me parece, consumidores de alcaloides ou de outros esteroides permitidos, mas não recomendados, em verdadeiros sinais de alucinações, junto a excedente demasia asnal, em tantos iluminados por suspeitas, de investigação insofismável e irrefutável que para superba comprovação vale requerer infindas levas de oitiva, volitiva e expositiva, quebras aflitivas de sigilo, de telefone, de voz e vídeo, conteúdos temático, telemáticos, bancário, fiscal, o escambau, tudo aquilo que incriminaria os Naves mineiros e o Alfred Dreyfus, francês, por melhor instrução e investigação.

Se a imprensa francesa cobrava a punição exemplar do Capitão Judeu, logo Dreyfus foi levado à esplanada dos Invalides, salvo engano, onde lhe foram retirados em cerimônia pública os galões e as condecorações, por uma exemplar vida na caserna, e quebrada a espada de oficial, em vaias de caterva, nunca tão prestantes quanto presentes, nessas horas.

Do desfecho dos Naves, já foi dito antes, o morto ressurgiu como o Lázaro do Evangelho, livre, leve e fagueiro.

Já, o Capitão Dreyfus, depois de cumprir muitos anos custodiado na Ilha do Diabo, no centro do Atlântico Oceano, só seria liberto após uma luta política fratricida onde começaria a se destacar o estadista Georges Clemenceau, citado no inicio desse texto, que em liderando os Dreyfusard, como assim se chamaram os revisionistas do flagrante processo e erro judicial, promvera a publicação do célebre artigo “J’Acuse” de Emile Zola no Jornal Aurore, que valeu ao autor de “L’Assommoir” um processo e condenação, lhe sobrando depois uma morte suspeita, por intoxicação de aquecimento à gás, no tálamo onde repousava ao lado de sua esposa, em “causa mortis” semelhante ao noticiado recente de um casal de jovens amantes, encontrado sem vida num chuveiro.

Sem chuveiro e sem intoxicação de gás, o Capitão Judeu só se livrou da pecha de traidor contra a vontade do alto comando do Exercito Francês, porque o verdadeiro espião, um oficial dissoluto e desorganizado financeiramente, continuava a delinquir, a vender informações do estado maior francês ao inimigo alemão, espionagem que mesmo flagrante e continuada, só restou confirmada com a sua deserção para a Inglaterra, onde, por pagamento de novas dívidas, terminou publicando suas memórias, inocentando Dreyfus para sempre.

Como dito mas vale o ressalto, o processo Dreyfus fragmentara a alma francesa, daí haver uma resistência feroz ao reconhecimento do erro judicial, coisa de antagonismo lulopetista/bolsomínio, como todos querem agora na CPI, delegados engolindo bola da imprensa, engodo, virando isca, gente mirando um cetáceo, do grego Ketos, monstro marinho, acertando num pascácio em desalinho, resfolegando por repasse um baiacu, só desperto pelo riso, contido no pouco sizo, de tantas ameaças de prisão, por desacato e destrato, quando o mal recato veio e vingou, na parva delegacia que passou a reinar naquela CPI, parecendo ouvir como coro, do outro lado da TV, velha falta de decoro dos logrados, iludidos e tapeados, a lhes sobrar um velho chavão de canto infantil: “Enganei meu burro com selas e tudo, meti-lhe a espora e ele ficou barrigudo!”

O cetáceo parecia um belo alvo, sobrando um riso “bochudo” de um barrigudo baiacu.

Se não houve canção jocosa, em tempos de aprendizagem, “que chapéu de otário é marreta”, naquele farto herbário de mutreta, “há de um tudo”: de delirantes a delirados.

Mas vamos em frente, porque em tantos despautérios por delírios, Bolsonaro ainda não caiu, nem lacrimou em tanto cominho lançado aos olhos.

O que vem sobrando é a falta de respeito soçobrando um Senado, “que iria mudar!” – e está mudando: para pior!

Cada um com o seu exemplo e todos fora de sua formação profissional: os civis, Geoge Clemenceau e Pandiá Calógeras, saneando a fraqueza da tropa, e o militar comandando a Guerra da Pandemia.

Quanto a Georges Clemenceau, além de se notabilizar como “o Tigre”, aquele que elevaria das cinzas o orgulho francês levando-o à vitória na 1ª Grande Guerra, há dele uma frase notável que bem se aplica a tantos ministros médicos ouvidos na CPI, comparados ao General Pazuello, frente a pandemia, exemplo também estendido a Pandiá Calógeras, um importante civil, que sem portar dragonas, nem exibir patentes, pacificou o Exército em 1922, tempos dos “Dezoito do Forte de Copacabana”, pontificando-se como melhor Ministro da Guerra, entre tantos fardados, e a tantos delegados hoje aboletados nessa mesma CPI, que só buscam ferrar o Mito, sem lhe localizar um crime.

“A guerra! – disse Clemenceau – É uma coisa demasiadamente grave para entregar aos militares”.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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