DESCOBERTA DA AIDS COMPLETA 31 ANOS

Há 31 anos, no dia 5 de junho de 1981, o Centro de Controle de Doenças de Atlanta, nos Estados Unidos, descobriu em cinco jovens homossexuais uma estranha pneumonia que até então só afetava pessoas com o sistema imunológico muito debilitado. Um mês depois, foi diagnosticado um câncer de pele em 26 homossexuais americanos e se começou a falar de "câncer gay". No ano seguinte, a doença foi batizada com o nome de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, Sida, em inglês AIDS.  A epidemia de AIDS continua a ser um dos grandes desafios para a saúde global. Aproximadamente 33 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo. São dois milhões de novas infecções por ano e mais de um milhão de mortes anuais. A África Subsaariana ainda é a região do mundo mais afetada pela epidemia, tendo 69% de todas as novas infecções pelo HIV. As mulheres já representam metade das pessoas vivendo com HIV em todo o mundo, com números crescentes em muitos países. Todos os dias, cerca de 2.500 jovens são infectados pelo HIV em todo o mundo. Para cada pessoa que inicia o tratamento do HIV, há duas novas infecções pelo vírus. Já foram contabilizados 592.914 casos de infecção pelo vírus HIV no Brasil.

O IMPACTO NEGATIVO DA AIDS
Após o crescimento vertiginoso dos primeiros anos, quando uma espécie de pânico tomou conta de parcelas da população, ter AIDS virou um estigma ainda maior do que o enfrentado por quem tinha lepra, nos primeiros anos do século 20. O preconceito inicial foi muito forte não só na sociedade em geral como também entre os profissionais de saúde, que rejeitavam o atendimento, “isolavam” as pessoas e exigiam um verdadeiro arsenal de materiais como luvas, gorros, capotes e óculos para procedimentos que não representavam nenhum risco profissional. Já os primeiros profissionais de saúde e membros das organizações da sociedade civil que se engajaram na luta contra a epidemia também foram vítimas do preconceito e discriminação. A existência de uma pessoa soropositiva em uma família às vezes provocava uma verdadeira desagregação entre os membros daquela família, pois uns apoiavam e outros negavam ajuda. Outro impacto da epidemia na família foi o aumento das crianças denominadas “órfãos da AIDS” em consequência da morte de suas mães pois as mulheres casadas se tornaram vulneráveis ao HIV.  Muitas empresas reagiam à presença de um funcionário soropositivo nos seus quadros, promovendo a demissão ou a aposentadoria forçada. Escolas e creches negavam a matrícula de jovens e crianças soropositivas. Alguns países criaram leis punitivas que comprometiam os direitos humanos das pessoas que viviam com HIV/AIDS. Um impacto negativo na vida das pessoas soropositivas foi a tuberculose, que se transformou na maior causa de morte entre pessoas que vivem com HIV.
AS COISAS BOAS QUE A AIDS TROUXE
Apesar de ser um grave problema de saúde pública, a AIDS trouxe algumas mudanças positivas na sociedade e na saúde da população. Antes da AIDS, era péssimo o controle do sangue. Muitos bancos de sangue tinham apenas o nome do doador e não existia controle de qualidade do sangue transfundido. A AIDS levou à necessidade da discussão aberta e direta com relação a temas ligados à sexualidade como identidade e orientação sexual, práticas sexuais, prostituição e violência sexual. As atitudes de solidariedade nunca foram tão evidentes após a epidemia da AIDS. Consolidou-se a constatação de que a sociedade precisou se adaptar para conviver como os soropositivos. Uma nova relação social foi criada entre os países de maneira que nenhuma outra doença já tinha provocado. Um fato marcante em relação a outras doenças: as próprias pessoas soropositivas tendo participação ativa na luta e se transformando em “experts", definido as necessidades para uma melhor qualidade de vida e respeito aos direitos humanos. As famílias passaram a ter atitudes positivas de solidariedade com relação aos seus membros soropositivos. O surgimento da AIDS trouxe a necessidade de estudos profundos sobre a estrutura dos vírus e as discussões sobre vulnerabilidade e risco das pessoas.
OS AVANÇOS
Nestes 31 anos de AIDS e seus milhões de pessoas vivendo com HIV/AIDS, também foi uma época de grandes vitórias contra o vírus. Existem evidências de sucesso na resposta à AIDS em diversos contextos. O uso e a disponibilidade do preservativo têm aumentado significativamente. Em 1996, com o desenvolvimento dos antirretrovirais, a doença que era considerada mortal passou a ser uma enfermidade crônica. Mais pessoas estão vivendo por mais tempo e os óbitos relacionados à AIDS estão diminuindo na medida em que se amplia o acesso ao tratamento. Hoje a expectativa de vida de pessoas soropositivas que se submetem a tratamento antirretroviral se aproxima da pessoa não infectada pelo HIV. Além disso, houve a vantagem secundária da prevenção de novas infecções pelo HIV devido ao aumento no acesso ao tratamento. Os esforços relacionados aos direitos humanos estão cada vez maiores, contribuindo para redução do estigma e da discriminação. Uma importante notícia merece ser destacada: vem diminuindo significativamente a transmissão vertical do HIV, de mãe para filho, isto é, cada vez menos crianças se infectam com o HIV. Uma grande novidade é a Profilaxia Pós-Exposição Sexual, uma medida de prevenção, prescrita pelo médico, que consiste no uso de medicamentos até 72 horas após a relação sexual, para reduzir o risco de transmissão do HIV (vírus da AIDS), quando ocorrer falha ou não uso da camisinha.

OS DESAFIOS
As mudanças no mundo obrigaram a promoção de mudanças nas formas com que as pessoas se relacionam com a doença. Os tratamentos se popularizaram e as informações também, mas, por alguma razão, uma parte da sociedade “baixou a guarda” em relação ao vírus. Sabemos que simplesmente dar a informação não é suficiente. É preciso a realização de ações inovadoras, com parcerias importantes em escolas, serviços de saúde, empresas e organizações da sociedade civil, que possam ajudar as pessoas na percepção do risco e promoção de mudanças comportamentais mais efetivas.
O Brasil é reconhecido internacionalmente por garantir o acesso universal e gratuito ao tratamento antirretroviral, mas precisa avançar no diagnóstico precoce da AIDS. Cerca de 250 mil pessoas vivem com HIV no Brasil sem saber que foram infectadas. Uma das estratégias é a oferta do teste rápido nas unidades básicas de saúde com vistas à promoção do diagnóstico o mais precoce possível e tratamento oportuno.
A AIDS e a Tuberculose se constituem em uma combinação perigosa. O grande desafio é o diagnóstico precoce das duas doenças, o que pode reduzir óbitos de pacientes co-infectados pelo HIV/Tuberculose.
O uso do coquetel dá à AIDS o status de doença crônica, mas sua utilização de maneira prolongada causa efeitos adversos que trouxeram aos médicos novos desafios. Os principais são evitar a lipodistrofia (acúmulo irregular de gordura no corpo), as doenças cardiovasculares, a perda da função das articulações, alguns tipos de câncer e complicações renais.
A necessidade de ampliação das ações dirigidas à população sob maior risco, incluindo a prevenção junto às mulheres casadas e que vivem em situação de pobreza.
Em um ano eleitoral, a esperança de que os novos gestores (prefeitos e futuros secretários de saúde) tenham compromisso de dar continuidade às ações que estão sendo realizadas nos municípios brasileiros e que possam apoiar a implantação de novos programas municipais.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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